Precariedade em outras estradas
Seguíamos pela Fernão Dias. O motorista da Gontijo aponta os indícios de manutenção, os retornos, a sinalização, os acessos – alguns inacabados – e chama a atenção para o pavimento. Sem saber, até inova na maneira de se expressar: “Agora, a estrada está boa. Veja: ela desliza ao contato com as rodas”.
Sim, mas quantos anos o governo demorou para tomar uma atitude e conseguir dar uma cara e roupa nova a essa ligação que é a base da sustentação do movimento econômico São Paulo-BH? Foram longas as gestões, lentas as tentativas para se encontrar uma solução para os desastres, os desmoronamentos, a perda de vidas humanas, os prejuízos acumulados décadas a fio.
Hoje, a Autopista Fernão Dias faz ali melhorias aparentemente simples. É, contudo, da fresagem nas pistas; da pequena correção de traçado; da recuperação de aterro e do pavimento; da instalação de drenos para escoamento da água pluvial; da instalação de defensas metálicas; da construção de barreiras rígidas; da recuperação da sinalização vertical; do reforço da iluminação, em especial nos três túneis da Mata Fria e de outros pequenos serviços, que se observa a melhoria geral. Claro que há ainda acessos precários a serem recuperados; passarelas que precisam ser feitas; pistas laterais a serem construídas e outras coisas mais que estão a carecer de revisão e manutenção. Mas a rodovia está mais segura. Hoje, a responsabilidade pela insegurança é menos da Fernão Dias e mais daqueles que a utilizam.
Quando pressionado a responder por que chega sempre atrasado nas estradas e por que não antecipa projetos e investimentos para prevenir tragédias rodoviárias, o governo costuma sair pela tangente. Atribui os descaminhos aos atrasos na política de concessões; à falta de projetos; à carência de programação nos investimentos; à demora na liberação de licenciamentos e aos desacertos nas negociações para a construção de acessos nos municípios situados ao longo dos traçados.
Mesmo que isso seja verdade, a responsabilidade do governo é intransferível. Acaso, ele não é o dono do poder? Não é ele que tem a capacidade de programar prioridades? E, não é ele que toma conta do dinheiro público e responde pelos estudos que levam ao lançamento dos editais das licitações?
Tenho em mãos trabalho da Confederação Nacional do Transporte, realizado entre maio e junho último, que avalia 91 mil quilômetros de rodovias federais e estaduais no País. Das rodovias avaliadas, 26,5% são consideradas boas; 33,4%, regulares; 17,4% ruins e 8%, péssimas. As estradas concedidas, correspondentes a 14,2 mil quilômetros, foram melhor avaliadas: 54,7% ótimas; 32,6% boas e 11,3% regulares.
Um dado se observa, no entanto, à margem dessa estatística: os desastres com mortos e feridos, com lesões mais graves ou menos graves, continuam a acontecer. De um lado, nas estradas mais seguras, por negligência do usuário e, nas estradas ruins, por conta também do usuário e, sobretudo, das condições de insegurança rodoviária: falta sinalização, os acessos são precários, há curvas que precisam ser corrigidas e há outras armadilhas preparadas para apanhar os incautos.
No fundo, tudo isso se deve a omissões do governo. Ele tem condições de monitorar o aumento anual ou mensal da frota, a fim de prever os investimentos certos e na hora certa para as melhorias. É função dele antecipar-se às tragédias e adotar medidas de engenharia rodoviária para evitar que todos os dias, cerca de 20 pessoas, em média, morram nas estradas. Mas ele insiste em chegar atrasado. E, às vezes, nem chega.
Frase da coluna
“Toda a transferência de tecnologia, para ser bem-sucedida, deve ser feita tendo como intermediário entre a fonte e o recipiente, uma organização de ensino e pesquisa não comercial, pois tecnologia não é mercadoria que se vende ou se compra, mas sim, saber que se aprende.”
Do professor Milton Vargas.
Simplício no Discovery Channel
Casa de força de jusante da usina hidrelétrica Simplício, obra de Furnas Centrais Elétricas que este mês apareceu na tela do programa Mega Construções do Discovery Channel
Fonte: Estadão