Joseph Young
Barack Obama, de descendência queniana, eleito sob as esperanças de uma renovação política nos Estados Unidos, enfrenta a guerra do establishment encastelado no Congresso e enraizado nos dois partidos, que preferem ver a economia do país ir à míngua e o desemprego bater recordes, do que dar ao presidente a possibilidade de um segundo mandato. Ele deve sentir-se como um peixe fora d’agua, em Washington, embora, enquanto senador, alimentasse a ilusão política de poder unificar as correntes que defendem o status quo a qualquer custo. |
O governo brasileiro anterior ao da presidente Dilma Rousseff modernizou as práticas políticas herdadas do tempo de Colônia, cujo exemplo mais singelo é a troca pura e simples de favores entre o executivo e o congresso, para materializar o projeto de perpetuar o partido no poder. O aparelhamento da máquina política ganhou tal proporção, que esta mal funciona, alijando os quadros técnicos acanhados, envelhecidos e mal pagos. Quando a administração precisa acelerar seus programas de obras, ela já não sabe a quem recorrer. Salvo honrosas exceções, tal aparelhamento ocorreu nos três níveis de governo.
Recursos públicos são desviados à luz do dia, sem maquiagem, em todos os setores inimagináveis – merenda escolar, remédios, plantão de médicos em hospitais, treinamento de mão de obra via ONGs fictícias, além do manuseio rudimentar de dinheiro em espécie, escondidos em meias, cuecas e bolsas, quando não em armários e colchões.
Mas o campo mais fértil para falcatruas são as obras públicas, superfaturadas e subfiscalizadas, quando chegam a ser executadas. Viadutos ficam anos a fio sem os encontros e acessos, estradas exibem crateras após três meses de uso e prédios públicos aparecem com a estrutura concluída, mas sem acabamento, enquanto “escolas de lata” continuam sendo frequentadas por alunos na Região Metropolitana de São Paulo.
O governo Dilma inicia uma faxina que pode vir a atingir quase todos os ministérios e órgãos que administram recursos públicos, produzidos por uma carga fiscal “nunca antes vista na história do país”, paga por empreendedores e trabalhadores. Mas, a exemplo do congresso dos Estados Unidos, nossos legisladores querem manter a qualquer custo as prerrogativas de indicar seus apadrinhados para cargos de confiança—isto é, com acesso aos recursos do Tesouro.
Ninguém esta interessado em projetos de interesse do País, destinados a blindá-lo contra a nova crise global em curso, nem de políticas que possibilitem colocá-lo num outro patamar de desenvolvimento sustentável nas próximas décadas.
E a oposição? Perdida como nunca, ela não tem projetos nem um “governo paralelo”, como se pratica na Inglaterra, para criar soluções novas para a infinidade de problemas que o país enfrenta. Ela alimenta apenas o fluxo de denúncias, para que o incêndio não se apague. Está na hora de as novas gerações acordarem e balançar essa estrutura podre que está aí. Elas precisam fazer como os participantes das manifestações marcadas por redes sociais no dia 7 de Setembro. E agir a exemplo do que foi feito quando do abaixo-assinado para que o Supremo Tribunal Federal eleja um novo membro a favor da Ficha Limpa. Achamos que somente as novas gerações, mobilizadas, podem produzir a “primavera brasileira”.
Fonte: Estadão