A redução de perdas de água em Campo Grande (MS), de 55% para 19%, é um marco — mostrando que um inimigo tido como imbatível em redes de abastecimento pode ser vencido com tecnologia. O resultado foi possível a partir de uma série de medidas realizadas pela Águas Guariroba, empresa controlada pela Aegea Saneamento. Mas o destaque maior foi a adoção de um poderoso software de monitoramento e gerenciamento de rede de distribuição de água nunca usado no País.
Lucas Alves, engenheiro civil responsável pelo controle de perdas da Aegea, menciona o Serviço de Informação Nacional de Saneamento (SINS), do governo federal, para comprovar o avanço. Lá constam os dados oficiais do resultado das ações.
Do início em que a Aegea passou a administrar majoritariamente a concessão, em 2005, até quase o final do ano passado, foram 36% de redução nas perdas d’água – contabilizando-se vazamentos na rede, fraudes e desvios.
O engenheiro relata que a primeira medida adotada pela concessionária foi a aplicação e substituição de hidrômetros, já que o equipamento calcula o quanto está sendo consumido de água pelos usuários.
Com isso, passou a ser mais exato levantar o índice do volume total de abastecimento realizado não aferido pelo conjunto de hidrômetros – ou seja, a perda exata existente.
“Dividimos a cidade por setor e onde se via que a perda era grande, fazíamos um trabalho de identificação do problema naquela localidade”, conta Lucas. Um dos métodos mais usados foi por meio do geofone eletrônico, equipamento sensorial de detecção de vazamento não aparente e também de desvio de água.
Outra medida adotada para diminuir perdas foi dar velocidade aos reparos, a partir do momento de identificação do problema até o fim do serviço.
“Fizemos treinamento de equipes e padronização de reparos nesse item. Isso deu agilidade e evitou retrabalhos”, afirma o engenheiro. Ele destaca ainda a instalação e automação de válvulas redutoras de pressão (VRPs), pontos de controle de pressão (PCPs) e registros elétricos como itens importantes no programa para reduzir as perdas d’água.
Mas a etapa mais importante foi quando a concessionária passou a monitorar a rede por meio do software israelense Takadu. Essa tecnologia faz controle constante da rede e visa detectar, em tempo real, qualquer não conformidade no funcionamento dela: queda de pressão, pressão elevada, possíveis vazamentos, locais com problemas de desabastecimento, entre outros aspectos.
O software recebe informações contínuas do funcionamento do sistema de abastecimento, transmitidas por uma rede de telemetria. Estão distribuídos no sistema de Campo Grande mais de 500 sensores que medem níveis de reservatórios, vazão, pressão, qualidade da água, além do monitoramento do consumo de grandes consumidores.
Campo Grande (MS) adotou a tecnologia pela primeira vez no Brasil
De acordo com a concessionária, os dados, alocados na nuvem (cloud computing), são continuamente processados por algoritmos estatísticos.
Curvas diferentes da padrão a partir da análise de dados recebidos são os sinais de que algo pode estar errado com uma parte da rede. O software é operado pelo Centro de Controle Operacional.
A implantação do software foi uma ideia do CEO da Aegea, Hamilton Amadeo, que teve contato com o Takadu no exterior. “O software dá preditividade no fornecimento”, diz Lucas.
Em 2008, o índice de perda estava em 43%; em 2009, 37%; e em 2010, caiu para 28%. Deste último ano até 2013, período de implementação do Takadu, Lucas Alves relata que o índice de perda andava, em média, “na casa dos 26%, 27%”. Mas com a introdução da tecnologia, em 2014, caiu para 19% (final de 2015).
“A Águas Guariroba é marcada por antes e depois do Takadu. Passou-se a localizar perdas que antes não eram identificadas”, menciona. Além de Águas de Guariroba, o software Takadu foi implementado na Prolagos, outra concessionária da Aegea, localizada na Região dos Lagos (RJ).
O software tem atualização permanente e o intercâmbio de aprimoramento da ferramenta com os israelenses é constante. A tecnologia é utilizada pela empresa de abastecimento de água de Israel e outros países.
Investimentos
A concessionária Águas Guariroba é responsável não somente pelos serviços de abastecimento de água em Campo Grande, mas também da coleta e tratamento de esgoto.
Os investimentos da concessionária de 2006 a 2013 chegaram a R$ 255 milhões. No período, foram construídas duas estações de tratamento de esgoto: Los Angeles (900 l/s) e Imbirussu (120 l/s), além da ampliação da rede coletora e construção de estações elevatórias de esgoto.
De 2014 em diante a previsão é investir um total de R$ 636 milhões. As obras que estão em andamento incluem 2 mil km de rede coletora de esgoto, 45 km de interceptores, 126 mil ligações domiciliares e construção de uma nova estação de tratamento de esgoto. O prazo para conclusão deste programa vai até 2025, quando a empresa pretende alcançar a universalização dos serviços.
O abastecimento de água à população de cerca de 850 mil habitantes da capital sul-mato-grossense chega a 99,7%. Projeto piloto reúsa água tratada em campo de golfe Uma Estação de Tratamento de Água de Reúso (ETAR) para atender exclusivamente um campo de golfe em Tucuns, no município de Búzios (RJ), é um projeto piloto da Aegea Saneamento nesse área.
A ETAR, inaugurada em 2013, é uma iniciativa da concessionária Prolagos, administrada pela Aegea Saneamento e que opera na Região dos Lagos (RJ). O engenheiro Wagner Carvalho, gestor de Projetos da concessionária, diz que o projeto tem grande potencial.
“É importante ir dominando a tecnologia. Ela será amplamente utilizada no futuro”, afirma Wagner. Nos Estados Unidos, o engenheiro relata que já se instala tubulação de água de reúso ao lado de redes de água, esgoto e drenagem. De acordo com a Prolagos, na Estação de Tratamento de Água de Reúso, o efluente (esgoto tratado) que vem da ETE Búzios, a cerca de 2 km da ETAR, é submetido a um polimento, que consiste em três etapas para fazer a remoção das impurezas: filtração, ultrafiltração e osmose reversa. A água produzida na ETAR de Búzios atende ao campo de golfe de Búzios com cerca de 40 mil litros/ dia de água de reúso, utilizados na irrigação da grama.
O controle do funcionamento da estação é feito no campo e pelo Centro de Controle Operacional (CCO) da Prolagos. No campo, monitora-se a cada quatro horas pressão, vazão, análises físico-químicas e nível dos tanques; e no CCO, pressões de entrada no filtro e recalque
Fonte: Redação OE