Soluções transparentes para problemas recorrentes e obscuros

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Dispositivos móveis na obra, um caminho irreversível e facilitador de acompanhamento de projeto

Agora que o Brasil está sendo passado a limpo, segundo palavras do presidente interino Michel Temer, gostaríamos de retomar uma questão que criticamos em inúmeras ocasiões. Toda vez que ocorre um atraso ou estouro de custo numa obra pública, a empresa de engenharia contratada costuma alegar que o projeto executivo estava incompleto e/ou omisso em determinados aspectos da obra, provocando prazo adicional de execução e incorrendo em gastos não previstos.

Um argumento clássico é a ocorrência de camadas geológicas ou rocha, ou redes de utilidades existentes no subsolo — que não foram identificados no projeto executivo. Outras vezes, o projeto executivo sequer existe e a licitação foi feita tomando como referência um projeto básico. O projeto executivo seria feito concomitante às obras, pela modalidade fast track — um caminho certo para estouros de prazo e custos.

O órgão contratante responde invariavelmente que a responsabilidade pelo atraso ou custo adicional é de responsabilidade da construtora, sem entrar no mérito dos problemas alegados por esta. O manto da confidencialidade costuma blindar o projeto do empreendimento e seus aspectos construtivos.

Existem duas soluções transparentes para esse problema recorrente e obscuro — mesmo sem resgatar o argumento clássico de que uma obra pública, feita com recursos públicos por um órgão público, não pode ser escondida do escrutínio da população.

Primeira: toda obra a ser colocada em licitação deve ter um projeto executivo detalhado pronto, como parte da documentação integrante do edital. Afinal, como se justifica omitir esta etapa se ela custa menos de 5% do valor da obra?

Segunda: o projeto deve ser eletrônico pela modalidade BIM (Building Information Modeling), que já se difundiu pelos países desenvolvidos. A sua qualidade mais elogiada é que disponibiliza todas as informações de forma clara e transparente, para todas as partes envolvidas na obra — que acessam com senhas os mesmos documentos, eliminando aquele clássico problema de plantas que não “conferem” por que são versões diferentes.

Outra qualidade do BIM destacada é a chamada “clash detection”, que identifica antecipadamente erros de projeto que demandariam retrabalho, paralisações e custos adicionais. Os gastos podem também ser inseridos e travados com as etapas das obras, de modo que qualquer modificação gera de forma automática uma atualização de custos. É o fim dos aditivos cuja paternidade ninguém assume, mas podem multiplicar o orçamento da obra, invariavelmente.

Já que estamos falando de tecnologias atuais, não podemos deixar de lembrar que câmaras fotográficas podem ser instaladas nos canteiros, programadas para fazer registros a cada 24 horas, por exemplo, que são enviadas pela internet a uma central. A obra é extensa demais? Então recorremos aos drones, que podem fazer fotos panorâmicas que serão processadas por um software da Bentley, que transforma estas imagens em nuvens de pontos georeferenciados.

Monitoramento diário das execuções por meio de drones, para dar satisfação pública do andamento das atividades

Em resumo, todas essas tecnologias são de prateleira e possuem tremendo potencial para acabar com as “caixas-pretas” que provocam atrasos no cronograma e estouros no orçamento das obras. É claro que existe resistência ao uso dessas tecnologias, que vão eliminar de vez com as chamadas “mutretas”. Mas se a engenharia brasileira quer sobreviver à política, ela vai ter que lutar pelo uso obrigatório e sistemático dessas tecnologias que primam pela transparência de informações. O velho ditado diz que “quem não deve, não teme”.

A plataforma BIM tem comprovado resultado na eliminação de retrabalho, paralisações e custos adicionais em construções

Fonte: Revista O Empreiteiro


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