Por aqui já vimos de tudo. E tudo mais continuaremos a ver. A rua pequena, bucólica, no Itaim Paulista, mudou de cor, forma e hábito. As pequenas casas e os sobrados miúdos, espichados para os fundos, desapareceram. Ali cresceram edificações difíceis de serem apreciadas numa vista d´olhos. O cidadão tem que mudar o foco e distanciar-se. Se possível, até aventurar-se a subir em outros edifícios, caso pretenda mesmo identificar algum vestígio da rua antiga onde ele se dava bem, na convivência com os amigos.
Em outra área da cidade, paralelamente à rua Formosa, descíamos escorregando na grama. E, até dormíamos madrugada adentro, aguardando, depois de uma noite no jornal, o horário do primeiro ônibus, para a volta à casa. O centrão, em sua postura pesada e suspeita, até que não mudou tanto. O que aconteceu ali foi deterioração demais. O poder público decidiu abandoná-lo para investir em outras áreas mais assimiláveis aos investimentos. Acabou deixando o terreno entregue ao bandido, ou à sanha dos que negociam com o crack.
No fundo, o crescimento metropolitano apoiou-se numa infraestrutura física que jamais deixou de ser a mesma. O resultado é uma cidade vulnerável, refém dela própria, que precisa estar continuamente se reinventando, num processo autofágico de reconstrução.
Hoje, a prefeitura diz que ela projeta um sonho de crescimento para 2040. Até lá, muitas mudanças ocorrerão dentro dos 1.523 km² de seu território.
Acredito que essa projeção para um futuro incerto e impreciso venha a ser uma forma de escapismo. Como a prefeitura não consegue resolver os problemas que entravam e dificultam o crescimento da metrópole hoje, trata de jogar as possibilidades de mudanças para os próximos anos, se possível, para os próximos séculos, com a intenção de continuar ludibriando o contribuinte, quando deveria procurar resolver os problemas que a congestionam e a impedem de crescer, hoje e agora. O nosso tempo é o tempo dos 458 anos da cidade.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira
