A expansão dos centros urbanos e o crescente adensamento populacional são desafios para a implantação e ampliação das redes de serviços de infraestrutura das regiões metropolitanas. Mas, ao contrário do que a maioria imagina, avançam os sistemas para executar obras de reparação no subsolo das grandes cidades sem transformar as vias num "queijo suíço". Métodos e equipamentos de tecnologia não destrutiva minimizam e até eliminam a necessidade de escavações. É possível instalar cabos sob a terra com apenas duas aberturas: uma no início e a outra no destino da área, evitando a destruição de ruas e calçadas.
Segundo o presidente da Abratt (Associação Brasileira de Tecnologia Não Destrutiva), Paulo Dequech, abrir valas para reabilitar ou instalar infraestrutura subterrânea era o único caminho até a chegada do Método Não Destrutivo (MND). "Essa tecnologia emprega máquinas e equipamentos que fazem todo o trabalho sem intervir no sistema viário nem danificar o ambiente urbano, possibilitando a introdução de redes sob o solo para a transmissão de energia, água, esgoto, gás, comunicação de dados, voz e imagem, com vantagens técnicas e operacionais", explica Dequech.
Para atender à demanda que ocorrerá em função de grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olímpiadas, além do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e difundir tecnologias equipamentos e técnicas, a Abratt realizou em São Paulo, em julho último, a edição latino americana do Congresso Brasileiro de MND.
O congresso atraiu as concessionárias que figuram entre os contratantes que se convenceram da melhor relação custo/benefício na instalação de redes por MND. Cerca de 90% de toda a obra construída pela Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), por exemplo, é realizada por equipamentos de perfuração direcional. Só em 2009, foram concluídos 450 quilômetros em obras pelo método não destrutivo. Uma obra recente da empresa foi a ampliação da rede de gás natural canalizado na cidade de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo.
Outra obra, no bairro da Casa Verde, seguiu o padrão de baixo impacto, segundo Vandevaldo Milhomens, gerente regional da Congás. "Para malhar aquela região à rede principal, trabalhamos com máquinas menores, em cima da calçada, sem precisar abrir vala. Usamos tubulação de polietileno, de manuseio fácil e flexível, bobinas de 50 e 100 m e um poço de entrada da broca de 1×1 m. Segundo Milhomens, outra vantagem da MND é a equipe reduzida: um engenheiro, um técnico de perfuração, operador, navegador (que localiza a broca com chip que emite sinais de rádio), um inspetor de qualidade e o pessoal de suporte dão conta do serviço. Segundo a Petrobras, o mercado de gás no Brasil, deve crescer a uma taxa média anual de 7,4% até 2014.
Para o presidente da Abratt, Paulo Dequech, outro grande potencial de desenvolvimento da tecnologia MND é a implantação de redes de esgotos em pequenos diâmetros (abaixo de 600 m). "Diferente das tubulações de telefonia, gás e óleo ou água, que são pressurizados, o esgoto é gravitacional e isso representa um desafio tecnológico para o setor. Temos tecnologia para operar com declividades de 1% mas podemos chegar a 05,% ou menos", prevê Dequech.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) escolheu a tecnologia para o Projeto Tietê, um dos maiores programas de saneamento ambiental do país. O objetivo dessa ação é coletar e tratar os esgotos de cerca de 18 milhões de pessoas da região metropolitana de São Paulo. Para o coordenador de empreendimentos da Sabesp, Flávio Durazzo, há muitos benefícios nessa técnica. "A habilidade para minimizar os impactos ambientais e sociais das construções em condições geológicas difíceis e sem recalques de superfície são os mais importantes", conclui Durazzo.
A Abratt é formada por empresas fabricantes, fornecedoras de equipamentos e materiais, prestadoras de serviço, concessionárias, profissionais liberais e outras ligadas à área de trenchless and no-dig technologies, como é conhecida na linguagem global. Um dos principais objetivos é promover e divulgar pesquisas e estudos técnicos sobre as atividades não destrutivas em obras de infraestrutura, promovendo debates sobre questões técnicas e sociais. Fundada em 1999, a Abratt é filiada à International Society for Trenchless Technology (ISTT), a sociedade inglesa que congrega associações similares em todo o mundo, com o objetivo de promover a ciência e a prática dessa tecnologia.
Fonte: Estadão