Tecnologia estrangeira nas novas arenas

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Tem se verificado um alto número de parceiros estrangeiros no desenvolvimento de projetos e na execução das obras nas arenas para a Copa do Mundo no Brasil. As parcerias envolvem trabalhos de arquitetura, estrutura, cobertura e instalações e consultorias diversas, das áreas de iluminação a hidráulica.

O motivo dessa ocorrência se dá principalmente pelo fato das diretrizes de estádio para o Mundial seguirem eminentemente o modelo europeu – reforçado pela FIFA —, além do Brasil não deter algumas das tecnologias empregadas nesse campo.

O arquiteto Sérgio Coelho, autor do projeto da Arena Pantanal, em Cuiabá, afirma que a GCP, empresa na qual é titular, conta com a consultoria da Sinclair, Knight Merz (SKM), empresaaustralianade engenharia com experiência em projetos de complexidade estrutural e específica em estádios.

“A SKM desenvolveu o conceito estrutural geral do empreendimento, para as estruturas de concreto e metálicas. Uma das grandes questões no cálculo estrutural de um estádio refere-se às de cargas dinâmicas, sendo que no caso da Arena Pantanal, adotou-se a norma inglesa (SKM tem sede na Inglaterra), pelo fato de ser das mais rigorosas nesse quesito”, relata.

De acordo ainda com o arquiteto, foi adotado no estádio de Cuiabá que receberá jogos da Copa do Mundo “um partido arquitetônico e estrutural inédito no país, que possibilita a redução de capacidade de público após a Copa 2014. A SKM trouxe ao projeto sua experiência, não disponível no Brasil, desenvolvendo a solução de estrutura metálica aparafusada e modular que possibilita a desmontagem das arquibancadas superiores Norte e Sul, valendo-se do aprendizado dos projetos do estádio MK Doons e da arena de basquete para Olímpiada 2012 em Londres, sendo a última, totalmente desmontável”.

Estruturas metálicas

A presença de estrangeiros nos projetos é também marcante e decisiva em outras áreas. E em algumas delas, os alemães se destacam. Eles , por exemplo, dominam a implantação de coberturas em novas arenas pelo mundo afora — na África do Sul tiveram participação maciça.

A alemã Schlaich Bergermann und Partner (SBP) é responsável pelo projeto de implementação das coberturas dos estádios do Maracanã e Mineirão. No primeiro se usará lona tensionada para substituir a antiga marquise. Já no Mineirão, haverá uma extensão da cobertura existente, com placas de policarbonato.

De olho nesse mercado de cobertura de metal e policarbonato, a Bayer MaterialScience, Börner e Bemo do Brasil anunciaram recentemente uma aliança estratégica na área. A proposta é oferecer ao mercado coberturas em policarbonato e metal para uso em estádios e arenas esportivas. O foco é trabalhar com obras para a Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016. A Mathiesen do Brasil é distribuidora exclusiva no país das chapas de policarbonato importadas da Bayer MaterialScience.

O engenheiro Fúlvio Zajakoff, vice-presidente da Associação Brasileira da Construção Metálica e diretor-geral da Bemo do Brasil, afirma que os estádios modernos preveem a cobertura da arquibancada, o que exige uma estrutura de sustentação para grandes vãos. “E nesse tipo de projeto, a estrutura metálica é a solução mais adequada. É importante notar que alguns estádios as coberturas estão sendo projetados com cabos, porém, nesses casos, a sustentação do conjunto construído também é feita em estrutura metálica”, lembra.

Ele aponta nas vantagens das peças metálicas a rapidez para a construção, já que chegam prontas e pré-pintadas para montagem, propiciando, ainda, limpeza e facilidade de execução. Sobre os custos, ele avalia que a solução da estrutura metálica é mais coerente no Brasil pelos projetos apresentados, necessidades e as condições dos estádios.

Zajakoff defende que não há necessidade de parceria estrangeira para o caso específico de construção de estruturas metálicas no Brasil, mas faz ressalva sobre o conhecimento que vem de fora sobre o tema. “Empresas alemãs nas áreas de projeto de arquitetura, projetos estruturais e também para o fornecimento e montagem de estruturas com cabos e policarbonato têm contribuído muito com o know how e a tecnologia avançada que possuem para o desenvolvimento de alguns dos projetos de estádios brasileiros. Em função da experiência adquirida em eventos esportivos que já realizaram ao redor do mundo, estas empresas agregam novas tecnologias aos projetos nacionais’, avalia.

Escoramento de alumínio será empregado no
estádio de Brasília

Um novo sistema de escoramento de alumínio capaz de sustentar até 14 t por poste, mais que o dobro da capacidade de carga dos produtos até então disponíveis no mercado nacional, será usado para atender às complexas estruturas do Estádio Nacional de Brasília, o antigo Mané Garrincha. Inaugurado em 1974 e demolido em 2011, o estádio está sendo reconstruído pelo Consórcio 2014, formado pelas empresas Andrade Gutierrez e a Via Engenharia.

Para essa obra, a Mills também desenvolveu uma forma metálica circular especial para se adaptar às características específicas dos pilares, que são a marca registrada do estádio. Além disso, a utilização do ALU-L (sistema de painéis de fôrmas de alumínio) nos blocos e pilares tem se destacado pela sua leveza e grande produtividade dentro do canteiro, assim como o sistema Alumills de escorões de alumínio, fundamental para que a obra seja executada no prazo e com economia de mão de obra. O Alumills permite a montagem do sistema na horizontal e seu posterior içamento com gruas ou guindastes. Depois de erguidas, as torres do sistema podem ser movimentadas livremente para outras etapas da obra.

A Mills foi a primeira a trazer para o Brasil o sistema de escoramento, conhecido como Alumills, que foi desenvolvido pela empresa alemã NOE, combinando a leveza do alumínio com a alta resistência do sistema e proporcionando elevada produtividade, graças à menor concentração de peças necessárias para montagem.

Sistema de drenagem
do Engenhão
usa “nãotecido”

Que o futebol é uma paixão nacional e que o gol é o seu momento máximo todo mundo já sabe. O que poucos se lembram é que, além da quali

dade técnica e categoria dos jogadores e da esperteza tática dos treinadores, esse grande espetáculo depende muito das condições do campo.

Para o exercício profissional do “esporte bretão”, como diriam os mais antigos, é fundamental que o local onde ele é praticado esteja bem cuidado e seja, na medida certa, resistente a mudanças climáticas, seco e livre de poças de água e lama. Nesse aspecto, cresce a importância do sistema de drenagem e de impermeabilização do gramado.

No caso do Estádio Olímpico João Havelange (Engenhão), no Rio de Janeiro, que foi sede dos Jogos Pan-americanos em 2007 e dos Jogos Mundiais Militares 2011, e está atualmente arrendado para o Botafogo Futebol Clube, sob o gramado foram utilizadas as mantas Bidim de geotêxteis de “nãotecido”, com propriedades hidráulicas mais eficientes que os convencionais filtros de areia, de acordo com o engenheiro Demetrius Guimaraes, gerente da Mexichem – empresa especializada na fabricação e instalação do produto.

Esse material, de acordo com a empresa, absorve a água da chuva, garante a transpiração da terra nos períodos mais quentes, atua como elemento filtrante, facilita o escoamento da água e evita entupimentos no interior dos drenos. O sistema de drenagem adotado foi de espinha-de-peixe, com inclinação de 0,5% nos tubos instalados no perímetro do campo e de 0,625% no meio do campo. As trincheiras drenantes foram executadas com tubos flexíveis e, com o material granular empregado, a manta assegurou a estabilização do solo adjacente ao gramado.

A execução do sistema de drenagem do gramado demandou 18.640 m² de manta geotêxtil Bidim RT-10, mais que duas vezes a área do campo principal, que é de 7.596,33 m². Foram utilizados tubos de drenagem com diferentes diâmetros, variando de 65 mm a 230 mm. A quantidade total de tubos drenos utilizados nas trincheiras drenantes (canaletas) foi de aproximadamente 4.214 m.

“O sistema espinha-de-peixe, composto por trincheiras drenantes, estabiliza o solo adjacente, permite o escoamento rápido da água, e, ao mesmo tempo, evita o carreamento de partículas do solo e a contaminação da camada de drenagem pelas partículas”, explica Demetrius Guimaraes.

A empresa surgiu no mercado brasileiro, em 1971, como uma divisão da Rhodia, quando o geotêxtil “nãotecido” era um material ainda desconhecido no País. O produto ganhou espaço na área de infraestrutura, com aplicação em importantes rodovias, como a Bandeirantes, que consumiu cerca de 300 t de geotêxteis. Nos anos 1980, a empresa passou a atender também ao mercado industrial.

As soluções com o emprego de geossintéticos foram estendidas aos mais diversos tipos de obras, como estabilização de subleito de estradas, recapeamento asfáltico, reforço de muros de arrimo e taludes, aterros sobre solos moles e proteção de canais de irrigação, lagos, plantas de mineração, lajes de concreto etc.

A partir de 2008, a empresa foi adquirida pelo Grupo Mexichem e tornou-se líder de mercado em geossintéticos na América Latina.

Fonte: Estadão


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