Terremoto

Depois do Haiti, o Chile. E, seja onde for que ele aconteça, expõe a impotência humana diante da tragédia.

Fala-se de um movimento de convergência, que levou a placa de Nazca e a placa Sul-Americana a se deslocarem. O encontro produziu uma fricção da qual resultou a liberação da energia, traduzida em terremoto, segundo os dados, na escala 8,8.

Contado assim, o fato parece uma narração sem grandes lances. Mas a ocorrência abalou a estrutura territorial chilena. Grandes edifícios e obras importantes da infraestrutura viraram pó em apenas alguns segundos. Autoestradas balançaram e viadutos e pontes ficaram em ruínas, soterrando carros e gente.

Os abalos destruíram centenas de residências, deixando ricos e pobres sem teto e sem rua. Famílias passaram a caminhar como zumbis em meio a escombros. E milhares de sobreviventes se dão conta de que terão de reconstruir a vida a partir do zero. Até ontem a estatística era de mais de 700 mortos. Os prejuízos ainda não puderam ser calculados.

Construir espaços para o desenvolvimento físico, intelectual, social e econômico leva anos. Reconstrui-lo, pode levar muito mais. Situando as coisas nesse pé, concluímos que o terremoto constituiu um golpe contra o que a inteligência da arquitetura e da engenharia foi capaz de construir ao longo de décadas ou de séculos.

A escritora Ana Maria Machado, que andava por Santiago, representando a academia Brasileira de Letras, presta um depoimento a um jornal paulista e fala do espanto. Diz: "Parece que todos os cachorros do mundo latem ao mesmo tempo".

Mas, aparentemente, o terremoto não abala o ânimo dos que se manifestam indiferentes às mudanças climáticas globais. Como se isso nada tivesse a ver com as agressões perpetradas contra a natureza. Estão mexendo com as entranhas da terra e se considera normal a ocorrência de tsunamis, terremotos, dilúvios e a acumulação, na atmosfera, de gases geradores do efeito estufa.

Por aqui nos mantemos no cotidiano: uma rodovia da importância econômica da Fernão Dias está fechada no sentido SP-MG; 77,7 toneladas de peixes mortos são retiradas da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro; políticos montam estratégias em cima de uma pesquisa eleitoral fora de época, e um arquiteto, Jonas Rabinovitch, divulga que o mundo desperdiça, por ano, US$ 1,5 trilhão, só em corrupção.

Fonte: Estadão

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