Transposição vira escândalo nacional

Temos aí, para todos verem na telinha, lerem nos jornais ou ouvirem nos comentários de rua, um escândalo, no mínimo, nacional. Refiro-me ao abandono das obras da transposição do Rio São Francisco. O projeto foi cantado em prosa e verso e, embora as obras tenham sido iniciadas em agosto de 2007, até hoje sertanejo algum viu cor alguma das águas do velho “Chico”, perto ou longe das localidades onde elas desaguariam com a transposição.

A transposição nasceu e prosseguiu polêmica. Poucos eram os que acreditavam que ela vingaria. Mas o governo Lula da Silva bateu na mesa. Ela seria realizada. E, a qualquer custo. Contudo, nem a qualquer custo – considerando os custos de hoje – ela ficou pronta.

As informações são de que o Ministério da Integração Nacional passou a considerar o projeto mais complexo do que fora inicialmente previsto. Caso sejam verídicas tais informações, estaremos no pior dos mundos. Pois, como é que um ministério daquele porte, que agrega tantos técnicos e gente com amplo conhecimento de todas as regiões brasileiras, não dispunha de estudos prévios identificadores das complexidades de um projeto daquela dimensão? E vejam que há estudos sobre a transposição do São Francisco desde que o mundo é mundo, ou melhor, desde os tempos do Império.

Diversas empresas assinaram os contratos para fazer as obras. Algumas começaram os trabalhos a partir do Eixo Norte e, outras, a partir do Eixo Leste. Todas se revelavam determinadas a levar as águas do São Francisco para as regiões mais áridas dos quatro estados beneficiários, através de dois canais de concreto que avançariam sertão adentro. As águas generosas matariam a sede de milhões de pessoas, 34 mil delas somente na localidade de Sertânia, onde há um açude que até o mês passado armazenava apenas 4,5% de sua capacidade. A essa altura a calamidade deve ter aumentado.

Acontece que as obras empacaram. E, os 9 mil operários que trabalhavam nas diversas frentes, arrumaram a matula e deixaram os canteiros para trás. Daqui em diante, e para que a transposição adquira algum ritmo, será preciso muito dinheiro. Se até janeiro último ela estava custando R$ 6,8 bilhões, daqui para a frente esse valor só tende a aumentar. Por esses dias a obra já estava sendo calculada em cerca de R$ 8,2 bilhões. E, do ano que vem em diante, quanto custará?

Obra abandonada transforma-se na obra mais cara do mundo. Ela embute expectativas frustradas, dinheiro que já foi pago, sonhos de trabalhadores que se dispersaram e podem andar por aí sem, talvez, encontrar o caminho de casa, e o naufrágio das esperanças dos que haviam recebido, do governo, a certeza do fornecimento de água capaz de alterar-lhes o curso da sobrevivência.

Agora, o governo promete fazer novas licitações para que as obras da transposição sejam concluídas até 2015. Quem viver verá.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira

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