Três décadas a espera do asfalto

A rodovia BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA), foi aberta nos anos 1970 como mais uma das grandes obras de infra-estrutura projetadas pela ditadura militar. Seu objetivo: abrir as portas da Amazônia à ocupação humana, integrando a região à economia nacional. Seus 1.780 km atravessam uma das mais ricas regiões do País, em recursos naturais, potencial econômico, diversidade étnica e cultural. Em seu traçado, a rodovia corta a Floresta Amazônica e o Cerrado, além de áreas de transição entre eles, onde se encontram as bacias hidrográficas do rio Amazonas, Xingu e Teles Pires-Tapajós.

Até a sua construção, a região era um enorme vazio demográfico. A solução para o problema seria atrair agricultores, sobretudo do Sul e Nordeste do país – áreas que já começavam a ser palco de conflitos pela posse da terra – para se instalarem ao longo das estradas recém-abertas. A promessa era terra grátis, crédito fácil e o braço protetor do Estado para aqueles dispostos a enfrentar a natureza e trazer o progresso à região. Essa estratégia tinha até um bordão, repetido exaustivamente nas propagandas políticas divulgadas pelo governo, na época: “As terras sem homem da Amazônia para o homem sem terra do Brasil”.

Parte desse projeto se cumpriu: o brasileiro sem terra respondeu à convocação. Mas o governo não cumpriu o que prometeu. Dos 1.780 km da BR-163, apenas 800 foram asfaltados, todos ainda no Mato Grosso, que equivale metade da estrada. No Pará, estado cortado pela outra metade, há apenas dois pequenos trechos de asfalto que, juntos, não somam 150 km.


Esses trechos estão perdidos em meio ao mar de lama, que se tornou todo o resto, principalmente na época de chuvas mais intensas.

Ao longo da história recente do País, não houve candidato a prefeito, governador, deputado da região, ou mesmo Presidente da República que, em época de eleição, não tenha prometido levar o asfalto ao restante da rodovia.

O asfaltamento tornou-se, nos últimos anos, reivindicação de vários setores econômicos regionais, os quais alegam que a obra poderia facilitar e baratear o escoamento da produção agropecuária do norte do Mato Grosso, um dos pólos mais dinâmicos do País no cultivo de grãos, em direção ao rio Amazonas.

Além disso, segundo empresários e políticos, a pavimentação da rodovia também poderia encurtar o transporte dos produtos eletro-eletrônicos produzidos na Zona Franca de Manaus até os grandes centros da região Sul. Por todos esses fatores, o asfaltamento da BR-163 será ainda um desafio para os próximos governos.

A área cortada pela BR-163 equivale a aproximadamente 14,5% do território nacional, correspondendo a 1,230 milhão de km2, onde vivem 2 milhões de brasileiros em mais de 70 municípios.

Eliminando pontos críticos

Depois de muitos anos de espera e de inúmeras promessas, na segunda quinzena de maio de 2008, o 9º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército – BEC deu início a obras de pavimentação em trecho de 53 km da BR-163, trecho entre Guarantã do Norte (km 1067) e a divisa com o Pará (km 1120), no Mato Grosso. Com previsão de conclusão em 2010, as obras foram orçadas em R$ 49 milhões e fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. A pavimentação irá facilitar o escoamento de grãos da região, principalmente o acesso do Porto de Santarém
Foram iniciados, também, serviços de pavimentação em 84 km da rodovia, entre os municípios de Vila Vargas e Nova Alvorada do Sul. Os investimentos nesse trecho somam R$ 57 milhões.

Também no início de 2008, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) autorizou o repasse de R$ 22 milhões ao 8º Batalhão de Engenharia de Construção do Exército (BEC), para a execução de obras de pavimentação de 20 km da BR-163, considerado trecho crítico. O trecho a ser pavimentado vai do km 98 até o 118, entre o município de Rurópolis e o início da área já pavimentada. Além disso, serão executadas obras de reforço de outros 109 km da rodovia que possuem apenas revestimento primário (cascalho). Segundo o superintendente regional do DNIT/PA, João Bosco Lobo,estes serviços visam melhorar as condições da rodovia no período chuvoso, que se estende até maio.

Ele antecipou que está prevista, na programação do Governo, a pavimentação de outros trechos da BR-163 até 2010, dentro do PAC. Para isso, já em janeiro de 2009 o órgão estará recebendo as propostas das empresas interessadas na execução de obras de recuperação para um trecho de 380 km, no Mato Grosso do Sul, entre Campo Grande e a divisa com Mato Grosso.

O investimento estimado é de R$ 133 milhões, para serviços de revitalização do pavimento, recuperação de sistemas de drenagem, sinalização horizontal e vertical. Os contratos irão prever, ainda, a manutenção dessas intervenções durante dois anos.

Fonte: Estadão

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