Foi publicado há algum tempo, pela Record, numa tradução de Roberto Muggiati, mas continua como tivesse sido publicado ontem. Um homem sem pátria, de Kurt Vonnegutt, é um conjunto de crônicas de um homem sabiamente indignado, que arranca da face escura, ou clara, dos fatos e das coisas, a dose de humor necessária para transmitir o que pensa, sem jamais sacrificar a graça em favor do destempero e da mediocridade.
Intercalando ilustrações do próprio punho e frases a partir das quais saca o pensamento mais rápido que qualquer outro intelectual de sua geração, ele atira contra o mundo atingindo o alvo político, social ou econômico, objeto de sua análise ou crítica.
Nascido em Indianápolis, EUA, em 1922, é pena que homem de mentalidade tão permanentemente jovem e astuciosamente afoita, haja falecido tão cedo: em 2007, aos 85 anos.
Desse livro trago à tona apenas algumas observações sobre um tema que, séria ou hipocritamente, vem nos induzindo a refletir sobre a sobrevivência nestas terras do mundo: a questão ambiental. Vamos a elas:
"Não estraguem a festa, mas aqui está a verdade: Nós desperdiçamos os recursos do nosso planeta, inclusive o ar e a água, como se não existisse amanhã, por isso agora o amanhã não existe."
"Comunidades eletrônicas não constroem nada. Você acaba a zero. Somos animais dançantes. Como é bonito levantar-se e sair e fazer alguma coisa. Estamos aqui na Terra para peidar por aí. Não deixem ninguém lhes dizer o contrário".
E, sobre a idiotice generalizada na Terra, formulou o seguinte pensamento:
"Não sei se existem homens na Lua, mas, se existem, devem estar usando a Terra como asilo de lunáticos".
Por último, o epitáfio que redigiu para ele próprio: "A Boa Terra – poderíamos tê-la salvo, mas fomos muito medíocres e preguiçosos".
A razão está com este Um homem sem pátria.
Fonte: Estadão