Reconstruir um país destruído pela guerra, sem redes de energia, água, esgoto, não é uma tarefa fácil.
Reconstruí-lo, retirando minas antipessoais a cada km, então…, é o desafio enfrentado pelas construtoras em Angola, no continente africano.
Estima-se que existam 50 milhões de minas antipessoais espalhadas pela guerra no país, algo como quatro minas por habitante, o que coloca o país no mesmo patamar que o Cambodja, por exemplo. Os conflitos em Angola começaram em 1961, numa luta pela independência de Portugal.
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Em 1975, a liberdade foi conquistada, mas os conflitos pelo poder continuaram internamente por mais de 23 anos. Um acordo de paz vingou somente a partir de 2002, deixando a herança de milhares de minas no solo angolano. A retirada de cada mina é um processo que exige paciência, técnica e equipamentos apropriados. O primeiro passo é o reconhecimento da área pelos “sapadores”, homens treinados que analisam as condições superficiais do solo sob máximo cuidado.
Em seguida é realizada uma limpeza da área para permitir o acesso de equipamentos de detecção.
Definido o perímetro a ser trabalhado, inicia-se a escavação e a remoção das minas, com sua posterior desativação e detonação, acompanhada pelos órgãos de segurança do país. Durante 20 anos em que a guerra entre facções internas persistiu, dois engenheiros brasileiros coordenaram projetos fundamentais para a manutenção do país, principalmente na área de energia, sempre sob um forte esquema de sigilo e de segurança, utilizando-se de diversas empresas criadas para fins específicos, a fim de se protegerem do permanente risco de sabotagem e até de ataques aos profissionais envolvidos nos projetos. Com o fim da guerra, surgiu a Metroeuropa em 2000, construtora cuja missão assumida pelos seus fundadores é participar da reconstrução de Angola. Com 55 anos, Reinaldo Reis Vieira atua há mais de 25 na área de construção e comercio fora do Brasil. Foi em uma das primeiras viagens a Cochabamba (Bolívia) que ele conheceu Minoru Dondo, brasileiro, que tornou-se amigo e sócio nas atividades em Angola. “Ao longo de 20 anos operamos no país. Nos anos mais difíceis, não era possível ter empresas montadas em condições normais. Mas o governo de Angola já nos incumbia de obras estratégicas, executadas sempre com muita cautela.
Operávamos por meio de diversas empresas criadas para uma obra específica, para nossa proteção e dos nossos trabalhadores. Somente depois da guerra foi possível criar a Metroeuropa”, afirma Reinado Reis Vieira. O primeiro passo foi treinar e qualificar equipes na tarefa de retirada de minas, atendendo as especificações determinadas pelo Padrão Internacional SOP (Standart Operating Procedures for Demining Operations), atividade na qual a Metroeuropa acabou se especializando. “É muito gratificante ver que onde só havia mato e minas, hoje já é possível cultivar uma pequena roça de mandioca, plantar milho, criar gado, permitindo a sobrevivência digna da população”, diz Vieira. O primeiro contrato da Metroeuropa foi a execução de uma usina de turbinas a gás na capital Luanda, que não contava então com nenhum fornecimento de energia. No local de montagem das turbinas, num bairro periférico de Luanda, 330 minas foram retiradas. Esta seria a primeira das obras comandadas pela Metroeuropa, que passou a utilizar-se de jangadas, solução rápida e de baixo custo para permitir o transporte pelos rios, uma vez que a maioria das pontes tinham sido bombardeadas. Essas jangadas tornaram-se grandes aliadas na assistência às comunidades isoladas, tendo capacidade de transportar até 120 t de carga. Na execução da Central Térmica do Cazenga de 50 MW, foram eliminadas 6 mil minas ao longo do trajeto de 220 km da linha de transmissão, desde a barragem de Cambambe até chegar a Luanda. Na implantação de uma ponte ferroviária de 80 m de vão livre, sobre o Rio Luinha, para acomodar passagem de locomotivas de 600 t, o acesso era difícil e exigiu a construção de uma estrada de 70 km de extensão em plena selva.
“Além das minas, enfrentamos as serpentes, as mosca do sono (tsé tsé) e as chuvas torrenciais”, lembra Vieira. Hoje, a linha permite o acesso do comboio ferroviária até as regiões de Lucala e Malange, no Leste do país.
Na construção da ponte sobre o Rio Lucala, com 72 m de vão livre, 144 m de comprimento e 10 de largura, foi preciso retirar as ruínas da ponte existente antes da guerra. “O Rio Lucala apresenta uma forte e perigosa correnteza, mas sua transposição era fundamental para o acesso aquela região”, enfatiza Vieira. Antes do uso das jangadas e da construção das novas pontes, uma viagem de 600 km entre Luanda e Huambo levava de três a quatro dias, período reduzido atualmente a um dia. Na região sul, um percurso entre províncias que só era possível em dia de sol, consumindo três a quatro horas de trajeto, hoje é realizado em 45 minutos em qualquer época do ano. “A Metroeuropa não escolhe o tipo de obra que pode executar, pois sempre há um novo desafio a vencer. Além da recompensa de ver nossa empresa crescer, nos orgulhamos de contemplar a felicidade no rosto das populações atendidas”, diz Reinaldo Reis Vieira. Desde que foi fundada, há seis anos, a empresa pulou de um faturamento anual de 50 milhões de dólares, para cerca de 321 milhões de dólares anuais, a maior parte revertido em equipamentos, laboratórios, treinamento e formação de pessoal. Ela é formada por 120 funcionários de nacionalidade brasileira e 1.159 trabalhadores de Angola.