Uma nova indústria petrolífera no Brasil

Paulo Godoy

O Brasil está diante de um desafio gigantesco e de uma oportunidade maior ainda. O desenvolvimento das reservas de óleo e gás na camada pré-sal, em águas ultraprofundas, oferece a chance para a implantação de uma indústria de classe mundial, fornecedora de bens e serviços de alta tecnologia, voltada ao suprimento das companhias petrolíferas instaladas tanto no Brasil quanto no exterior.
O desafio brasileiro é conseguir conciliar a oportunidade às necessidades da Petrobras e dos parceiros envolvidos nos investimentos nesses novos campos. Para isso, a indústria nacional precisa demonstrar capacidade física e tecnológica para produzir internamente boa parte dos equipamentos, componentes e peças que será necessário, com custos e prazos competitivos, além de desenvolver novas soluções e sistemas capazes de operar em condições extremas de pressão.
Essa não é a primeira vez que os fornecedores de bens e serviços para o mercado de óleo e gás são desafiados. Quando os planos de investimento da Petrobras cresceram vertiginosamente, a Agência Nacional de Petróleo (ANP), seguindo diretrizes do governo federal, instituiu a política de conteúdo mínimo, pela qual as empresas vencedoras dos leilões de concessão se comprometeram, contratualmente, a adquirir no Brasil parte maior das encomendas.
Para isso, investidores e fornecedores se envolveram em um programa de fortalecimento da cadeia produtiva nacional – o Programa de Mobilização da Indústria Nacional do Petróleo e Gás Natural (Prominp). Agora, no entanto, mais do que reforçar capacidade já existente, o desafio é desenvolver uma nova indústria no País.
Cabe ao Brasil articular, em um plano de longo prazo, as competências do poder público e da iniciativa privada, de investidores e de fornecedores, para planejar a inserção do País no mercado global de petróleo e gás, não somente como um produtor do insumo, mas também como um fornecedor mundial de bens e serviços.
Os desafios envolvem desde a fabricação e a montagem de componentes, equipamentos, plataformas e navios para atividades diversas, bem como a formação de recursos humanos e a capacidade financeira para assumir riscos. Além da capacidade tecnológica, é fundamental expandir a infraestrutura física na área de estaleiros. A existência de uma indústria nacional forte e abrangente, de classe mundial e com elevado componente tecnológico, seria ainda uma vantagem comparativa para a Petrobras e operadores instalados no Brasil.
Para superar o gargalo da capacidade de construir e ofertar equipamentos com elevado componente tecnológico, seria necessário interagir com os atuais fabricantes mundiais ou com outras empresas internacionais que tenham similaridades visando a identificar a disposição e a motivação delas para transferir tecnologia e, eventualmente, produzir esses equipamentos – ou parte deles – no Brasil.
Dessa forma, o Brasil pode programar a inserção no mercado internacional de bens e serviços para petróleo e gás natural, conciliando os interesses mercadológicos da Petrobras e dos operadores instalados, e propiciando o desenvolvimento de uma nova indústria de classe mundial e com alto nível de tecnologia.

Paulo Godoy é presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib)

Fonte: Estadão

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