Um leitor de jornal e, depois, um engenheiro que costuma dar uma vista d´olhos nessa coluna para me estimular a continuá-la, disseram haver alguma coisa estranha na informação do governo, segundo a qual, a continuar as altas taxas de consumo de energia, ele terá de adotar algumas providências muito sérias para não comprometer o fornecimento e a distribuição.
Lembrei-me do cenário de 2001, quando veio o apagão. Naquele tempo, os reservatórios das hidrelétricas estavam por um fio, alguns expunham as pedras no fundo do leito e o consumo teria de ser restringido senão cidades inteiras poderiam ficar às escuras. Contribuíram para a cor sombria desse cenário a falta de planejamento e de investimentos para a construção de novas hidrelétricas.
Hoje, não. Chuvas não têm faltado. Em algumas regiões, elas são diluviais. Os reservatórios estão no topo e chegou a difundir-se um pouco de medo por conta dos riscos de que alguns deles poderiam até transbordar. Também não há falta de hidrelétricas. Tucuruí está em sua segunda fase, há planejamento, e o governo não cansa de alardeá-lo de norte a sul, de leste a oeste. E Itaipu ainda não foi acionada para alcançar sua capacidade máxima.
Portanto, invocar o fantasma do apagão parece algo extemporâneo e fora de propósito. Mas tem-se insistido no tema. E, para prevenir tal ocorrência, vem-se dizendo que, talvez não haja outro jeito, senão acionar as termelétricas.
É aí que entra o senso comum. Tal providência seria justificável? O que estaria por trás de decisão desse tipo?
De duas, uma: ou o governo está blefando ou não tem havido, ao longo do tempo, eficiente serviço de manutenção nas linhas de transmissão. Hidrelétrica tem e água está sobrando. O que não existe, talvez, seja outra coisa que o senso comum ainda não está projetando. Mas, de uma coisa ele sabe: acionar termelétricas significa custos extras e elevados. Serão custos inapelavelmente repassáveis ao consumidor, já tradicionalmente esbulhado em seu poder de compra e em seu direito de continuar vivendo.
Fonte: Estadão