A Construtora Norberto Odebrecht, que iniciou sua escalada internacional em 1979 com a construção da hidrelétrica de Charcani V (135 MW), no Peru, alcança, em 2007, receita total de US$ 4,5 bilhões, dos quais US$ 3 bilhões com negócios no exterior.
A escalada foi difícil, tanto do ponto de vista de logística quanto da execução das obras. Em 1979, a empresa iniciou, no Peru, a caminhada pelo exterior. Ali começou a construir a hidrelétrica de Charcani V, na encosta do vulcão Misti, na Cordilheira dos Andes. Naquele mesmo ano desviou o curso do rio Maule, no Chile, para a construção da hidrelétrica de Colbún-Machicura. Depois desses primeiros passos, não parou mais de construir no exterior. Hoje, contabiliza cerca de 500 obras fora do País, marcando presença, forte, em quatro continentes. Cerca de 70% de sua receita bruta anual advêm dessa escalada internacional.
Dentre algumas das obras que atualmente a CNO está priorizando duas estão no Panamá. São elas o projeto de irrigação “Remígio Rojas” e a auto-estrada Cidade do Panamá-Colón. Na prática, tais obras ampliam espaço para a participação da empresa em empreendimento maior – a duplicação do Canal do Panamá. Outra obra que a empresa considera representativa de suas incursões externas é o projeto Olmos, que prevê a transposição de águas para irrigar extensa área de cultivo no Peru.
Remigio Rojas foi um agricultor que nasceu e passou toda a vida em Chiriquí, no século 19. Sua história de trabalho e persistência inspirou o governo panamenho a batizar com o seu nome o projeto, integrante do Plano Nacional de Irrigação do Panamá, que abrange área de 3.200 ha e visa a favorecer 214 propriedades onde vivem as famílias da Associação de Usuários do Sistema de Irrigação Remigio Rojas.
A obra é formada por uma represa para a qual é captada a água do rio Chico, um canal de condução com 4.634 m, um canal principal com 3.317 m, quatro canais secundários somando 22.047 m e uma rede de canais terciários totalizando 29 mil m.
Santiago Esquivel, presidente daquela associação, diz que o Panamá tem 270 mil ha aptos para receber projetos de irrigação. Desse total, porém, apenas 30 mil ha são alcançados por essa benfeitoria.
Panamá-Colón
A outra obra da empresa em território panamenho é a auto-estrada Cidade do Panamá-Colón. Há um antecedente curioso que diz respeito a essa obra, destinada a ligar as duas principais cidades do país. Ela começou a ser construída em 1994 sob a responsabilidade de uma empresa do México, mediante contrato de concessão. Foi interrompida, no entanto, com apenas 14 km construídos, de um total de 56 km previstos. Um acordo de cessão, firmado em junho de 2006 entre a empresa mexicana e a Odebrecht com o aval do governo panamenho, vem permitindo a continuidade dos trabalhos. Para esse fim, a Odebrecht montou uma nova estrutura financeira e jurídica, que conta com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Citibank e do Banco Nacional do Panamá (BNP).
Os 42 km restantes começaram a ser construídos nos primeiros meses de 2007 e deverão se estender até o primeiro semestre de 2009. São três frentes simultâneas de trabalho, que enfrentam alguns problemas naturais da região: topografia acidentada, grande quantidade de rios, o que exigirá a construção de diversas obras de arte, e um período de oito meses de chuva. A rodovia moderna contará com o auxílio de uma estrada opcional. Trata-se da antiga estrada Cidade do Panamá-Colón, que corre paralela e quase bordejando o Canal do Panamá. Tem 80 km de extensão e foi construída pelos norte-americanos em 1944. O traçado foi concebido priorizando a segurança. Há trechos protegidos por morros e, outros, ocultos pela vegetação. Na época em que ela foi construída o mundo estava em guerra e o Canal do Panamá tinha de ser protegido a qualquer custo.
Essas obras no território panamenho refletiam, na ocasião da assinatura dos respectivos contratos, a expectativa da Odebrecht em relação aos preparativos para participar do projeto maior: a duplicação do Canal do Panamá. Executivos da empresa brasileira disseram, na época, que viabilizar a participação da Odebrecht na maior obra da engenharia internacional – a duplicação do canal – “era um dos pontos de concentração do nosso programa de obras nesse país”.
Transposição das águas
As obras do Projeto Olmos, para a transposição de águas destinadas à irrigação,
estão sendo realizadas pela Odebrecht Peru Ingenieria y Construccion S. A . C., no Peru, desde março de 2006. As águas do rio Huancabamba, que nasce na vertente atlântica dos Andes, serão transpostas para a região de Olmos, no outro lado da cordilheira, cerca de 40 mil ha da planície, onde as terras, embora secas (por ali não chove mais do que 215 mm/ano, em média) são consideradas muito férteis.
As obras, no departamento de Cajamarca, incluem a barragem Limón, com 43 m de altura, destinada a represar as águas fluviais, e um túnel a ser escavado na cordilheira com 20 km de extensão e 5,3 m de diâmetro. A obra precisa ser entregue, segundo o contato, até o dia 22 de março de 2010.
O Projeto Olmos prevê três fases de obras: 1. A construção da represa Limón simultaneamente à abertura do túnel transandino; 2. A construção, nas encostas dos Andes, de uma hidrelétrica concebida para aproveitar as águas que passarão pelo túnel (406 milhões de m³/ano) e 3. A implantação de um sistema de irrigação para cultivo sobretudo de frutas e legumes.
Para tornar viável a execução da primeira fase do projeto, o governo peruano recorreu ao regime de Parceria Público-Privada (PPP) e lançou edital de licitação vencida pela Odebrecht. Pelo contrato, no valor de US$ 190 milhões, a empresa atua como investidora, construtora e, por 20 anos, concessionária do serviço de transposição das águas do Huancabamba.
Erlon Arfelli, diretor de contrato da construtora, diz que dentre as obras em andamento, a que se revela possivelmente mais desafiadora é a escavação do túnel de 20 km de extensão, 13,9 km dos quais serão abertos pelo equipamento Tunnel Boring Machine (TBM), que avança em arrancadas de 1,8 m. A cabeça da máquina (cutters) é uma superfí
;cie circular de 5,3 m de diâmetro, provida de discos metálicos (cutters) de 17 polegadas cada, com capacidade para cortar a rocha. O material resultante da escavação vai sendo automaticamente recolhido através de seis “janelas” abertas na ca beça da TBM e segue, por correia transportadora, para os oito vagões de uma composição ferroviária que o transportará para o exterior da galeria.
No traçado das obras há a necessidade da realocação de 5,6 km do Oleoduto Nor-Peruano (ONP), que se desenvolve a partir da região amazônica em direção a Bayovar, no litoral do país, passando pela região onde será formada a represa da barragem Limón. As tubulações não suportariam o peso das águas. Além disso, a construção de um by-pass nesse trecho do oleoduto interferiu na rodovia IIRSA Norte, que teve de ser recortada e, em seguida, refeita. Ao mesmo tempo, a empresa precisou realocar os moradores do povoado de El Pedregal, transferido da área a ser inundada.
Já a construção da barragem, que será assentada sobre uma camada de 35 m de aluvião, vai requerer 990 mil m³ de material. A impermeabilização será garantida por uma face de concreto com 50 cm de espessura. Para evitar possibilidade de infiltrações no fundo da barragem, foi construída uma parede-diafragma formada por 45 painéis de concreto plástico com 80 cm de espessura. Com 270 m de extensão e superfície total de 6.840 m², essa parede tem profundidade média de 35 m.
A previsão é de que o lago comece a ser formado em 17 de dezembro de 2009. Uma vez concluído o enchimento, o que deverá ocorrer em um período de três semanas, será colocada em funcionamento uma tomada de água provisória, que vali alimentar o túnel transandino, até o dia em que a barragem tiver a sua altura aumentada para 85 m. A partir daí, as águas vazarão por uma tomada definitiva – um túnel com 1,11 km de extensão, que a Odebrecht se comprometeu a deixar aberto no encerramento do contrato, em 2010, quando restará, para ser feita, apenas a ancoragem.
Fonte: Estadão