UTC recoloca a Constran entre os grandes da Engenharia

Nildo Carlos Oliveira

A simplicidade da idéia exposta na canção – “quem sabe faz a hora” – explica a aquisição da Constran pela UTC. No momento certo, o encaixe da peça certa. Agora, ela pode atuar com uma marca nacional no mercado das grandes obras civis da Engenharia

Por que uma empresa notabilizada na engenharia de montagem industrial, com um notável portfólio de obras das mais importantes, que inclui as maiores plataformas construídas e operadas pela Petrobras, de repente adquire uma empresa de construção pesada, que há cerca de três décadas figurava dentre as maiores na área da infraestrutura?

Dois empresários – Ricardo Ribeiro Pessôa, presidente da UTC Engenharia e João Eduardo Cerdeira de Santana, que assume a direção da Constran – mostram como um objetivo comum os aproximou. Ambos descobriram que o objeto de uma estratégia de mercado não precisaria ser buscado longe do território paulista. Ele estava ali, ao lado deles, preservando uma tradição de obras nos segmentos rodoviário, ferroviário, metroviário, portuário e de usinas hidrelétrica. Bastava movimentar uma peça disposta no tabuleiro das empresas de engenharia para concluir o lance e demonstrar que, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Ricardo Pessoa, baiano de Salvador, paulista desde 1992, que, segundo os seus amigos, não consegue descansar, senão trabalhando, diz que o modelo de negócios na engenharia, ao longo de décadas, tem mudado de acordo com as oscilações do mercado. Ocorre que a legislação brasileira segmentou muito a construção pesada e a construção industrial. Criou-se a idéia – artificial – de que quem projeta não pode construir e de que, quem constrói, não pode projetar.

Nessa linha de raciocínio, a empresa que se dedica a fazer construção civil, não pode dedicar-se a fazer montagem eletromecânica, da mesma forma como não poderia construir barragem. Uma segmentação que não ocorre em outros países, onde as empresas prestadoras de serviços de engenharia sempre estiveram e estão capacitadas para atividades afins.

Mas o tempo passou. A partir da década de 1990 constatou-se que o mercado da construção pesada é um só, independentemente das leis com as quais se procurou colocá-lo na camisa de força da segmentação.

O presidente da UTC, empresa muito direcionada no segmento de petróleo e na área industrial, observou, analisando o mercado daqueles anos até aqui, que precisaria de uma peça-chave na empresa para fazer frente às oportunidades ensejadas pelos grandes investimentos na infraestrutura. O encaixe dessa peça na sua organização forneceria à UTC os meios e a capacitação para atuar, com uma marca nacional, no mercado como um todo.

Foi assim que, no segundo semestre do ano passado, ele decidiu atuar também na área de infraestrutura. Os ventos estavam e estão favoráveis. O Brasil, conforme têm acentuado ao longo do tempo seus maiores pensadores, desde Euclides da Cunha, Gilberto Freyre e Celso Furtado, está definitivamente condenado ao crescimento. Sem crescer, ele não se constrói.

A decisão tomada por Ricardo Pessôa ganhou força na junção de interesses e de amizade com João Santana, um advogado e executivo com quem vem trabalhando há cerca de 20 anos. Ambos são unânimes no pensamento segundo o qual crescer é operar com objetos palpáveis: construir portos, metrôs, barragens, ferrovias, rodovias. Qual a empresa testada e provada, na prática, que poderia ser adquirida para concluir aquele movimento, talvez o xeque-mate?

“Nós tínhamos algumas opções”, fala Ricardo Pessôa. “Eu e o João consideramos que deveríamos conversar com o Olacyr de Moraes”. Olacyr, presidente do Grupo Itamarati, empreendedor que movimentou e fez deslanchar o mercado da soja no Brasil, era dono da Constran e fora também um dos maiores empreiteiros do País.

Pelo que Ricardo Pessôa sabia, a construtora não vinha sendo priorizada no conjunto do grupo. Apesar disso, a Constran mantinha o perfil da empresa de engenharia de que ele e João Santana precisavam: ela possui um currículo de realizações; construiu algumas das mais importantes obras de engenharia da infraestrutura brasileira; detém uma equipe técnica muito forte e se projeta, do passado para o presente, com todo o peso de sua tradição.

“Conversamos, portanto, com o Olacyr. Estabelecemos negociações e adquirimos o controle da Constran. João, que além de advogado, é um executivo atual e homem de gestão – não é à toa que tem um currículo que o credencia como tal – recebeu o convite para dirigir a empresa e vai torná-la mais forte do que era no passado”.

As negociações para a compra da Constran – Ricardo Pessôa preferiu não apresentar os números das negociações – evoluíram de fevereiro a abril do ano passado, quando a aquisição se concretizou.

“Este ano – 2010 – é o ano de arrumação. Estamos nos acomodando aqui, no Centro Empresarial de São Paulo, e, em 2011, já estaremos ocupando o espaço que a Constran teve e que continuará tendo no mercado da engenharia como uma das pioneiras na realização de obras como o metrô, a Imigrantes, a Castello Branco e portos, o principal deles, o de Sepetiba.”

O novo rosto da Constran

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João Santana, o homem que, com Ricardo Pessôa, começa a modelar o novo rosto da Constran sem, no entanto, alterar-lhe as características de origem, lembra que a construtora está comemorando 53 anos de atividades. Fundada em São Paulo, durante muitos anos, sobretudo na década de 1970, ela esteve colocada entre as maiores empresas no Ranking da Engenharia Brasileira, elaborado pela revista O Empreiteiro.

“Esses dados, essa lembrança, que estão documentados, não só sinalizam a grandeza da empresa, do ponto de vista de seu acervo, de sua capacidade técnica, mas demonstram fundamentalmente, do ponto de vista dos seus recursos humanos, a qualidade da engenharia desenvolvida por sua equipe técnica, sobretudo pelos engenheiros responsáveis pelas obras que a distinguem ao longo do tempo”, diz João Santana.

Ele recorda que a Constran foi a primeira empresa de engenharia a iniciar uma obra de metrô no Brasil. Diz que o prefeito Faria Lima e Olacyr de Moraes estiveram juntos no ato que deu a partida para as obras do metrô paulistano, no pátio de manobras do Jabaquara.

“Ela foi também pioneira em ferrovias. Construiu 900 km da Ferronorte e, sucessivamente, inúmeras outras obras de porte. Jamais será possível dissociar-lhe o nome das obras que ajudaram na construção do País: o porto de Sepetiba, as rodovias já mencionadas, a participação na construção do Aeroporto Internacional de Guarulhos; a usina hidrelétrica de Xingó e a maior ponte rodoferroviária já construída no Brasil – aquela de Santa Fé do Sul, que liga Mato Grosso à região Noroeste do Estado de São Paulo.”

O executivo diz que o controle da Constran pela UTC confere à empresa, em um primeiro momento, uma perspectiva organizacional muito forte, resultante da identidade que a empresa de montagem industrial conquistou no mercado. Além disse, dá à Constran a tranquilidade estrutural necessária para que ela se recomponha e volte a participar do mercado, da forma como merece, pelo seu tamanho e tradição.

Ele acha que os investimentos do País em infraestrutura continuarão a ser muito significativos nos próximos 10 ou 20 anos. O Brasil terá de ampliar, modernizar, manter e garantir a sua infraestrutura, caso continue com a sua inevitável opção preferencial pelo desenvolvimento. “E nós estamos nos preparando para as obras nessa área. Aqui e em qualquer outra região brasileira”.

A Constran, o braço direito da UTC, pretende viver uma nova época, na era moderna da Engenharia.

Fonte: Estadão

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