A expectativa é muita e se justifica: o terminal de integração do Vilarinho, a ser entregue em março de 2007, significará um divisor de águas no conjunto das obras do Metrô-BH. A maior estação intermodal do sistema de transporte coletivo da Região Metropolitana de Belo Horizonte ocupa terreno de 81.407 m², com a estimativa de que a demanda diária será de 120 mil usuários, atendidos por uma frota de até 400 ônibus nos horários de pico. Ali, funcionará a estação do metrô e será construído um shopping center com capacidade para 174 lojas, dois cinemas e ampla praça de alimentação. Serão 26,5 mil m² de área bruta locável, apoiados por 2.573 vagas de estacionamento. O shopping resultará de concorrência que o metrô está realizando para a concessão do espaço, para aquela finalidade, por parte da iniciativa privada. Do ponto de vista urbanístico, o empreendimento terá forte impacto na região, que compreende mais de dez bairros, somados à vizinhança do município de Vespasiano. O conjunto é formado por dois blocos principais dispostos longitudinalmente nos dois lados da estação do metrô – os setores norte e sul, que serão interligadas por passarelas cobertas dispostas sobre a Avenida Vilarinho. Possui seis pavimentos, com estações de trem e de ônibus no térreo, centro comercial no primeiro e segundo pavimentos e estacionamentos nos três níveis seguintes. Esse conjunto deverá absorver investimentos de R$ 68 milhões (R$ 35 milhões privados e R$ 33 milhões públicos), com reflexos na economia e nas atividades urbanas locais. O setor norte comportará, na cobertura, estacionamento com acesso direto ao nível inferior, onde estarão as lojas, praça de alimentação, área de recepção de mercadorias, galerias técnicas, infra-estrutura de apoio e acesso à área externa e à Avenida Cristiano Machado. O setor sul abrigará as lojas e cinemas, com acesso à área externa e à Avenida Vilarinho. A circulação vertical é resolvida com a instalação de escadas rolantes, elevadores públicos e de carga e escadas convencionais. O projeto, como um todo, é uma composição modular, simétrica, com vigas e pilares executados em concreto armado pré-moldado. A cobertura receberá estruturas metálicas. Segundo o escritório de arquitetura Torres Miranda, que desenvolveu o projeto executivo e os detalhamentos a partir do qual foi elaborado pelo arquiteto Márcio Pinto, também de Belo Horizonte, a linguagem plástica e a volumetria se complementam e a funcionalidade favorecerá plenamente os usuários. Os materiais construtivos e de acabamento são especificados segundo critérios de durabilidade e de facilidade de manutenção. E o conjunto vai colaborar para aliviar o centro urbano da carga de veículos motorizados e do contingente humano que diariamente circula pelas ruas da capital mineira.
A construção
A construção dessa estrutura que proximamente será ocupada pelo shopping center é da responsabilidade da Construtora Beter. Foi ali, nesse canteiro da obra, que reencontramos o engenheiro Manuel Severino, conhecido de outros empreendimentos, um dos quais, as obras de ampliação do Aeroporto Internacional Juscelino Kubtischek, de Brasília. Os trabalhos no terminal de integração do Vilarinho têm alguns aspectos curiosos. Desenvolvem-se em terreno que, a rigor, não exigiu considerável terraplenagem. O cronograma original previa uma obra, até certo ponto, rápida. Mas, no decorrer dos serviços, apareceram algumas surpresas. A idéia que se tinha – e as projeções indicavam isso – era a de que as fundações seriam, todas elas, executadas com estacas pré-moldadas. Mas, o terreno local revelou-se imprevisível. As sondagens realizadas em um ponto, não indicariam as mesmas condições geológicas em outro. Constatou-se, portanto, uma enorme variação de subsolo. Daí, a indagação: como, em terreno de apenas um pouco mais de 80 mil m², poderiam ocorrer diferenças tão extraordinárias? O jeito foi assimilar as diferenças e fazer as fundações segundo a imposição do terreno. Ali, há, portanto, fundação feita com estacas pré-moldadas, hélice contínua, estacas-raiz, Franki, fundação direta (sapata) e tubulão. É quase um imenso canteiro experimental de todas as modalidades de fundações disponíveis. Superadas esses obstáculos oriundos da imprevisibilidade de solo, os serviços prosseguiram, tranqüilos. As peças pré-moldadas – vigas e pilares – são fabricadas pela Premo ali perto, em Vespasiano, e entregues no canteiro em carretas para posicionamento final com o uso de guindastes. Ao todo, compreenderão cerca de 36 mil m² de pré-moldados. O pré-moldado revelou-se a melhor solução para esse tipo de obra. Como se trata de conjunto a ser implementado em etapas (a etapa do shopping virá depois), nada melhor do que o uso de componentes desse tipo para o encaixe das peças do quebra-cabeça. A tecnologia favorecerá também uma fase cuidadosa da execução: a transposição do leito ferroviário e da Avenida Vilarinho, cujo movimento de trem e veículos não deverá ser interrompido. As peças a rigor têm 12 m de comprimento, mas ali, na transposição, serão de até 23 m de comprimento. No dia em que visitamos as obras, fins de novembro, a Construtora Beter estava superando uma das dificuldades técnicas que lhe fora colocada: a demolição de uma passarela antiga que cruza a Avenida Vilarinho, a fim de construir nova ligação, mais ampla e segura, que fará parte da interligação entre os setores norte e sul. Para demolir a passarela, Manuel Severino adotou uma série de cuidados: mandou fazer um desvio semipavimentado e, depois, determinou que ali fosse utilizado o popular “picão”: um rompedor pneumático acoplado a uma escavadeira Caterpillar.
Fonte: Estadão