Adutora aguardada há 20 anos é iniciada

Região, com problemas típicos de crescimento econômico nas áreas de mineração e energia, está no traçado da Ferrovia Leste-Oeste no Sudoeste da Bahia

Katja Polisseni – Salvador (BA)

A construção da Adutora do Algodão em Guanambi, localizada no Sudoeste do Estado da Bahia e a cerca de 700 km da capital Salvador, saiu do papel e promete resolver o problema de abastecimento de água enfrentado pela população de seis municípios da região. As obras, iniciadas em março deste ano, em caráter emergencial, tem previsão de entrega para junho de 2012. Segundo a Companhia de Desenvolvimento dos Vales São Francisco e Parnaíba (Codevasf), coordenadora do convênio com a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), gestora da obra, o sistema terá capacidade para captar de 3 a 4 m³/s, suficientes para atender a demanda por água potável por pelo menos mais 20 anos.

A obra, que contará com 235 km de tubulação, em diâmetros variados, faz parte da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e demandará investimento da ordem de R$ 76 milhões, sem contar os R$ 35 milhões já investidos pela Codevasf no desenvolvimento dos projetos básicos e na compra de tubulações. Seis reservatórios e seis estações de bombeamento serão construídos ao longo do sistema para fazer com que a água chegue às comunidades mais distantes, atendendo 226 mil pessoas.
O superintendente da Companhia em Bom Jesus da Lapa (BA), Sérgio Antônio Coelho, lembra que a deficiência hídrica de Guanambi, Malhada, Iuiú, Palmas de Monte Alto, Candiba, Pindaí e Matina é antiga e que a empresa já sabia que o açude Ceraíma e a barragem Poço do Magro (ambos localizados no município de Guanambi) não conseguiriam suprir a demanda por água potável da crescente população dos municípios e também do desenvolvimento econômico que se anuncia na região. “Há pelo menos 20 anos que pensamos na adutora como solução”, afirma.
As chuvas da região da Serra Geral são insuficientes para abastecer os reservatórios de Ceraíma e Poço do Magro, com capacidades de armazenamento estimadas, respectivamente, em 58 milhões m³ e 39 milhões m³. “Nos últimos anos, tivemos que fazer racionamento de água e interromper o projeto Ceraíma, que levava irrigação para 110 agricultores”, lamenta Coelho. Segundo ele, com a conclusão da adutora, haverá liberação da água dos dois reservatórios para uso de irrigação, o que permitirá desenvolver uma cadeia produtora de hortaliça, de pecuária leiteira e perenizar uma parte do rio.

Coelho informa que 10 km de tubulação já estão implantados nas três frentes de trabalho. O vereador José Carlos Lélis Costa, que preside a União dos Vereadores de Guanambi, diz que a expectativa em torno da obra é grande. “Se a obra não fosse iniciada, o desenvolvimento da cidade e região poderia ser estrangulado. Até abril, antes do período chuvoso, a Embasa estava distribuindo água por setores, controlando para não faltar”, diz.
Porém, a população ainda reclama do racionamento. Regiane Barbosa, moradora do bairro Monte Pascoal, por exemplo, já recebeu água de três em três dias. “É uma dificuldade enorme até para beber. Quando chega à torneira, a gente tem de correr para lavar roupa, limpar a casa e encher os baldes”. Esmeraldina Santos, em Ceraíma, também sofre com o problema: “Tem vezes que a água só chega de cinco em cinco dias, uma vez por semana, aqui em minha casa. Esperamos uma solução”.

O vereador está acompanhando o andamento das obras da adutora e semanalmente vai ao canteiro da MRM Construtora, responsável pela execução dos trabalhos, para acompanhar o progresso da construção. “A obra vem em hora certa. Hoje somos a cidade mais próspera do sertão baiano, com a economia pujante não apenas no setor agrícola. Empresas de setores estratégicos como a Bahia Mineração e a Renova Energia estão investindo aqui e a construção civil está aquecida”, aponta José Carlos. Para ele, a adutora representa o fim do risco de um colapso no abastecimento de água da região.

Até o início da construção da adutora, foram dois anos de negociação do Governo da Bahia, Prefeitura de Guanambi, Codevasf, Embasa e sociedade civil organizada. As tubulações foram compradas com recursos do PAC 1, mas com atrasos em razão de indefinições no âmbito jurídico e administrativo, foi incluída no PAC 2. A obra prevê captação de água a partir do rio São Francisco.

Mineração, energia e ferrovia
A região do Sudoeste da Bahia vive momento de crescimento econômico, fazendo com que medidas de melhoria de saneamento básico se acelere para atender às novas demandas da população.

Caetité, município vizinho a Guanambi, é a única cidade brasileira com minas de urânio. Desde 1999, as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a Bahia Mineração produzem na mina minério de urânio que é transformado em combustível para abastecer parcialmente as usinas nucleares de Angra 1 e 2. Como o Brasil ainda não domina comercialmente o processo de enriquecimento de urânio é necessário que a produção do combustível nuclear seja enviada para enriquecimento no exterior.

Recentemente, moradores da localidade impediram a entrada da carga trazida por carretas por acreditar que fosse de resíduos nucleares, ou “lixo radiativo”. Na verdade, o material de urânio, proveniente de São Paulo, havia sido encaminhado pela Marinha do Brasil para reembalagem em Caetité e posterior envio ao Exterior para enriquecimento. Em 2008, a contaminação de um manancial de água na cidade criou a primeira desconfiança da população na exploração do minério no local.
Também na região de Guanambi, obras de 14 parques eólicos já começaram.

A expectativa da Renova, empresa de energia vencedora do leilão, é que sejam investidos R$ 1,17 bilhão na construção para geração de energia eólica. Além de Guanambi, o projeto contempla os municípios de Caetité e de Igaporã. Será o maior complexo desse tipo no país. Cerca de mil proprietários rurais da região deverão ter suas terras arrendadas para o complexo eólico. O Instituto do Meio Ambiente (IMA), ligado ao Governo da Bahia, já autorizou a construção dos parques.

Já a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, de 1,4 mil km e que ligará Figueirópolis (TO) a Porto Sul, em Ilhéus (BA), cruzará vários municípios da região. De responsabilidade da Valec, a obra, que ainda não começou devido & agrave; dificuldade de obtenção de licença ambiental, já mobiliza autoridades locais e prevê expansão econômica com a nova rota de transporte.

Fonte: Estadão

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