Água pluvial em pavimento não é problema a ser negligenciado

Três engenheiros se unem, redigem livro sobre o tema da drenagem em pavimentos e mostram que os pequenos problemas são os que mais encurtam a vida útil de estruturas, podendo levá-las ao colapso e provocar graves prejuízos ao tráfego e à economia

Nildo Carlos Oliveira

Não imagino quando. Mas, há algum tempo, três engenheiros – Carlos Yukio Suzuki, Angela Martins Azevedo e Felipe Issa Kabbach Júnior — se reuniram e decidiram escrever o livro Drenagem subsuperficial de pavimentos – conceitos e dimensionamento. Publicado pela Oficina de Textos, ele levanta as questões teóricas e práticas da construção de pavimentos e chama a atenção para o fenômeno da água pluvial.

A água costuma encontrar os seus próprios caminhos. E, desde que não lhe coíbam a liberdade da trajetória, infiltra-se onde não deve. Com o tempo, provoca deterioração e ruptura. E o pavimento, seja ele rodoviário, aeropotuário ou ferroviário, acaba comprometido, por melhor qualidade que tenha. Por experiência e vivência, a gente sabe do que as infiltrações são capazes, não apenas naqueles, mas em múltiplos outros segmentos de obras da engenharia.

Professores Carlos Suzuki, Felipe Issa e Angela Azevedo, os autores

A professora Liedi Légi Bariani Bernucci, da Politécnica da USP, que prefacia a obra, reforça, com muita clareza, o que pensamos sobre a água: “… seja por infiltração de chuvas, percolação ou ainda por ascensão capilar, ela tem levado a um grande número de insucessos e de rupturas prematuras de pavimentos, mesmo estruturalmente bem dimensionados, por inadequação e mesmo inexistência de sistemas de drenagem”.

Os estudos dos três professores mostram que a drenagem superficial é vital para o desempenho dos pavimentos. E, no entanto, segundo eles, não tem merecido a atenção que merece, mesmo de muitos especialistas nessa área. E por quê? Porque talvez considerem que o fenômeno se dá, com exceção dos períodos chuvosos, de modo transitório e “superficial”. Não atentam para o poder corrosivo das infiltrações ao longo do tempo.

Além do que, temos o hábito de enxergar o problema apenas quando ele se manifesta traumaticamente. Antes disso, conforme tem ocorrido nas rodovias e aeroportos, vai-se empurrando a dificuldade com a barriga, até onde dá. E, aí, já é tarde demais. Sobretudo porque, conforme assinalaram os autores do livro, “o processo de deterioração da estrutura e da redução da vida útil do pavimento é gradual e pode passar despercebido durante muito tempo.”

As falhas se revelam na pressa ou na falta de projetos específicos; na maneira eventualmente açodada como é feita a execução do pavimento e na negligência com que esses aspectos, da maior relevância, são colocados como última prioridade ou prioridade nenhuma. Para alguns administradores públicos, o importante é a aparência (às vezes nem isso). Até que os danos internos do pavimento vão expondo a natureza e a dimensão da ruptura.

Da origem do problema às soluções

Os professores analisam a origem da água nos pavimentos e seus reflexos na umidade, no subleito e nas camadas da estrutura; os efeitos de capilaridade; os diversos meios de infiltrações; os problemas que surgem nos revestimentos asfálticos e também no pavimento de concreto, quando as placas ficam até empenadas; e mostram como a prevenção contra as infiltrações pode ser feita.

Na busca para indicar a melhor opção para a drenagem, os autores ressaltam que os materiais empregados na pavimentação precisam ter baixa sensibilidade às variações do teor de umidade; que a estrutura deve ser projetada levando em conta os períodos em que ela vai operar com teores elevados de umidade, seja reforçando ou reduzindo camadas estruturais. Eles analisam os fatores de dimensionamento hidráulico, as camadas drenantes e separadoras e os drenos em suas variações.

As pesquisas abrangem a concepção de projeto dos pavimentos permeáveis e sustentam que os estudos de viabilidade, que normalmente antecedem o projeto, devem permitir a verificação da permeabilidade do pavimento e avaliar se a opção de controle é a mais adequada às condições locais das obras de drenagem. Eles estudam também os critérios de projeto e dimensionamento; os revestimentos asfálticos drenantes e as experiências, nesse campo.

Um dado que o livro não esboça, ou deixa entrevisto somente nas entrelinhas, é fundamental: diz respeito à qualidade do projeto, das soluções previstas e dos materiais usados na execução do pavimento. Porque, pavimento não é para uma vida útil de seis meses ou seis anos. E, conquanto não seja “eterno enquanto dure”, precisa durar o tempo que seja necessário.

Fonte: Revista O Empreiteiro

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