Mudanças climáticas, El Niño e sensação térmica acima dos 50 ºC marcaram o mês de novembro em diversos estados brasileiros e despertaram um alerta: o aumento do consumo de água e a necessidade pelo recurso hídrico cada vez mais com os recordes de temperatura.
A técnica da remoção de sal da água do mar não era muito comum há alguns anos, mas agora já está sendo utilizada globalmente, com cerca de 20 mil usinas de dessalinização em operação em mais de 170 países. As dez maiores usinas estão situadas na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Israel.
A maior delas é a Jebel Ali, situada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos e capaz de produzir 2,2 milhões m³/dia de água para consumo. No Brasil já existem um pequeno sistema de dessalinização no Arquipélago de Fernando de Noronha (PE), capaz de produzir até 72 m³/h; e a planta de dessalinização em Vitória (ES), no complexo portuário da ArcelorMittal Tubarão, com capacidade para dessalinizar 500 m³/h de água. A nova usina, que será instalada em Fortaleza (CE), prevista para 2026, será a maior do país, para produzir 3600 m³/h.
Prevendo uma escassez hídrica, antes mesmo da onda de calor e dos fenômenos naturais, diversos países de regiões áridas já adotam uma solução para a falta de água: “transformar o mar” em água potável para consumo humano, através da dessalinização.
As usinas brasileiras adotam o sistema de dessalinização por osmose reversa (RO). Segundo a IDE Technologies, empresa israelense contratada para a montagem da planta em Fortaleza, existem duas principais tecnologias de dessalinização: a membrana (RO) e dessalinização térmica (MED, MVC e MSF). A dessalinização por osmose reversa (RO) usa o princípio da osmose para remover sal e outras impurezas, transferindo água através de uma série de membranas semipermeáveis.
A dessalinização térmica utiliza calor, muitas vezes calor residual de usinas de energia ou refinarias, para evaporar e condensar a água para purificá-la. Nas usinas de dessalinização mais avançadas, a água é pré-tratada para melhorar a eficiência do processo.
Planta em Fortaleza terá capacidade para atender 720 mil pessoas
O projeto da usina de dessalinização de Fortaleza, prevista para 2026, já recebeu licença prévia. O empreendimento será instalado na Praia do Futuro e será a primeira do país a produzir água potável em larga escala por meio da tecnologia osmose reversa. Em entrevista à revista OEmpreiteiro, o diretor-presidente da SPE Águas de Fortaleza, Renan Carvalho, contou que, com a licença, as obras iniciam no primeiro semestre de 2024.
O projeto é coordenado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), vinculada ao Governo do Ceará. A operação será feita por meio de parceria público-privada com o consórcio SPE Águas de Fortaleza, que venceu a licitação com investimento previsto de R$ 3,2 bilhões ao longo dos próximos 30 anos. Durante as obras serão gerados aproximadamente 800 empregos e durante a operação serão 60 empregos.
A torre de captação e as tubulações são as estruturas da usina que ficarão dentro do mar na Praia do Futuro. A água será captada a pouco mais de 1 km da costa, com torre submersa a 14 m de profundidade. Ela é projetada para preservar a dinâmica das correntes marítimas da região. Na planta de dessalinização, a água do mar passa por um primeiro processo de filtragem; em seguida a água é pressionada contra membranas que retém as partículas de sal; em terceiro, a água recebe flúor e outros minerais, além de passar por desinfecção e correção do pH. A capacidade de produção é de 1 m³ por segundo (mil litros por segundo). “É a técnica mais moderna do mundo e será a maior planta de dessalinização para consumo humano da América Latina.
Como a Dessal, existem diversos exemplos exitosos em operação em vários países do mundo, como por exemplo: Estados Unidos, Espanha, Emirados Árabes Unidos, Singapura, Israel, Chile, entre outras.
A tecnologia é reconhecida e testada mundialmente”, destacou Carvalho. VISITA À ISRAEL Pesquisadores do Laboratório de Gestão Integrada da Zona Costeira da Universidade Estadual do Ceará (LAGIZ/Uece), instituição técnica que coordenou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do projeto de instalação da planta de dessalinização de Fortaleza – DESSAL do Ceará, estiveram, no final de agosto, em missão oficial de visita a quatro plantas de dessalinização de água do mar em Israel.
A equipe composta ainda por representantes da Cagece, Semace, Câmara de Vereadores de Fortaleza e SPE Águas de Fortaleza foi recebida pelos diretores e técnicos da empresa israelense IDE Technologies, que vai disponibilizar a tecnologia de dessalinização utilizada na DESSAL do Ceará. Na visita, a equipe técnica esteve nas plantas de dessalinização Hadera, Sorek I, Sorek II (em construção) e Palmachim, onde foram mostrados em detalhes os processos utilizados na dessalinização, desde a captação de água do mar, limpeza, retirada dos sais por osmose reversa, remineralização da água para fornecimento à população, limpeza das membranas, até o descarte da salmoura no mar Mediterrâneo.
Sobre a guerra em Israel e os fornecimentos da empresa, o diretor de Águas de Fortaleza, disse que “fatores geopolíticos não irão interferir no andamento da obra. A IDE possui estrutura em vários outros Países e não só em Israel”, frisou. Para concluir, Carvalho ressaltou os benefícios da usina de dessalinização à população não só de Fortaleza. “Seu impacto atingirá inclusive o sertão cearense, uma vez que a água produzida pela planta aliviará todo o sistema e minimizará o transporte de água dos reservatórios do interior aumentando a disponibilidade de água no interior do Estado. É um avanço enorme para o Estado como um todo”.