Com medo da escalada da inflação, para atender a alta da demanda por alimentos no Brasil e no exterior, que tem a China como um dos principais propulsores, o governo brasileiro agiu rápido: liberou em junho um novo pacote de subsídios para o setor da Agricultura, com enfoque na produção de alimentos: são R$ 65 bilhões, 217% a mais que no ciclo 2002/2003, distribuídos entre custeio, comercialização e investimentos. A meta é aumentar a produção nacional de grãos na nova safra em 5%, chegando a 150 milhões t, superando a safra anterior que deve chegar a 142,42 milhões de t de grãos, fibras e cereais, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), já um recorde na história do País. O crescimento da área total de plantio no período é de 2,1% – expansão equivalente a 958,2 mil hectares sobre as 46,2 milhões ha do ano passado. Os espaços cultivados com todas as culturas de verão e inverno totalizam 47,17 milhões ha. A região Sul participa com 36,6% (17,27 mil ha); o Centro-Oeste, 32,2% (15,18 milhões ha); o Nordeste, 17,41% (8,2 milhões ha); o Sudeste 10,2% (4,82 milhões ha) e o Norte responsável por 3,6% (1,7 milhão ha).
O programa atingirá a safra 2008/2009, aumentando os recursos ofertados já neste ano, que devem chegar a R$ 10 bilhões, com um aumento substancial de crédito em diversos programas e um fundo especial de R$ 1 bilhão para estimular a produção agropecuária sustentável. Do orçamento, R$ 6,5 bilhões estão disponíveis nos programas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 3,5 bilhões são dos Fundos Constitucionais.
O que o agronegócio tem a ver com a infra-estrutura do País? Tudo, pois o sucesso dessa produção precisa caminhar de braços dados com os investimentos em transporte modal (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos). Por outro lado, o incremento do agronegócio estimula também o desenvolvimento de pólos de indústrias de transformação destes produtos – a chamada agro-indústria – já visível em centros produtores como Mato Grosso e Goiás.
As exportações do agronegócio brasileiro em junho alcançaram a cifra de US$ 6,5 bilhões, com aumento de 30,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. De julho de 2007 a junho deste ano, as exportações brasileiras do agronegócio totalizaram US$ 65,4 bilhões.
Soja, carnes e complexo sucroalcooleiro foram os setores que mais contribuíram para o aumento das vendas em junho. Ao todo, as exportações do complexo soja cresceram 77,5%, alcançando US$ 2,2 bilhões. O valor exportado de soja em grãos aumentou 84%, passando de US$ 817 milhões para US$ 1,5 bilhão, resultado obtido devido ao aumento de 59,7% do preço dessa commodity no mercado internacional, combinado com o aumento da quantidade exportada que cresceu 15,3%. Também puxado pela alta de 85% dos preços internacionais, o valor das exportações de óleo de soja foi 49% maior que o do mesmo período de 2007, passando de US$ 157,7 milhões para US$ 235 milhões. O volume de óleo de soja embarcado, porém, diminuiu 19,5%.
Ainda em comparação com junho de 2007, as exportações de carnes registraram crescimento de 45,9%, atingindo o valor de US$ 1,3 bilhão. Esse resultado foi obtido tanto pelo aumento do preço, em 30%, quanto pelo crescimento da quantidade exportada, de 12%. No caso da carne bovina in natura, no entanto, a quantidade embarcada foi reduzida em 22%, mas essa diminuição foi mais do que compensada pelo aumento de 57,3% dos preços, o que correspondeu a um crescimento de 22,7% do valor exportado.
As exportações de carne de frango in natura apresentaram incremento de 51,5% do valor, resultante do aumento de 27% dos preços e de 19,3% da quantidade vendida. A receita obtida com as vendas externas de carne suína in natura registrou crescimento de 37%. O volume exportado foi praticamente igual ao do mesmo mês do ano anterior, mas os preços subiram 36,2%.
As importações do agronegócio em junho de 2008 cresceram 55,4% alcançando o valor de US$ 950 milhões. O saldo da balança comercial em junho foi superavitário em US$ 5,6 bilhões. O aumento do valor das importações ocorreu principalmente pelas aquisições de borracha natural (+45%), óleo de palma (+341%) e farinha de trigo (+132%). As quantidades importadas de trigo e arroz apresentaram redução de 34,8% e 57,5, respectivamente.
No primeiro semestre, as exportações somaram US$ 33,7 bilhões, valor 26,3% maior em relação ao mesmo período de 2007. As importações também cresceram nos primeiros seis meses do ano e registraram um incremento de 42,7%, alcançando cerca de US$ 5,6 bilhões. Os cinco principais setores responsáveis pela expansão das exportações de janeiro e a junho deste ano foram: complexo soja (+67,5%), carnes (+33,4%), cereais, farinhas e preparações (+77,7%), produtos florestais (+10,1%) e café (+15,4%).
No que se refere ao destino das exportações, destaca-se o crescimento dos valores exportados para os seguintes destinos: Aladi (64,3%, excluídos os países do Mercosul), Ásia (58%), Mercosul (22%), Europa Oriental (39%) e União Européia (23,3%).
Os números apontam para uma significativa mudança entre os principais importadores do agronegócio brasileiro. A forte elevação das vendas para China (81,9%) colocou o mercado daquele país como primeiro destino das exportações, com participação de 11,7% do total exportado do agronegócio brasileiro. Destaca-se também o significativo aumento das vendas para a Venezuela (152,4%) e Tailândia (121,3%).
Antes tarde do que nunca
O governo acordou tarde para um dos principais entraves à produção nacional a custos competitivos: a nacionalização dos fertilizantes. Com o aumento mundial da demanda por alimentos inflacionando os preços em todos os níveis, a importação do produto virou uma das principais pautas do ministro Reinhold Stephanes.
O governo trabalha atualmente para colocar em prática um plano de fomento à produção nacional de fertilizantes, reduzindo a dependência das importações que teve considerável aumento de preços nos últimos meses. A meta é reduzir, em 5 anos, a dependência dos fertilizantes importados, e obter a auto-suficiência, em 10 anos, em matérias-primas derivadas de nitrogênio e fosfato. Bunge e Fosfértil anunciaram no início do ano planos de investimentos em novas fábricas. Um dos entraves são empresas que detém concessões de exploração mineral de reservas há 30 anos, mas até hoje não investiram na produção. A idéia do Ministro Reinold Stephanes inclui, por exemplo, o confisco dessas concessões.
Há ainda em andamento um programa de melhoria do sistema armazenamento agrícola, a cargo da (Conab) e a nova ênf
ase governamental para o aumento de produção por parte dos agricultores familiares, com um crédito de R$ 13 bilhões. Segundo o governo, trata-se de uma oportunidade para o Brasil ratificar sua condição de “celeiro” do mundo, propondo o fim da visão maternal sobre os agricultores familiares, e inserindo-os na linha de produção global de alimentos.
Será necessário aguardar os resultados para uma análise do novo plano de incremento agrícola, mas o programa sinaliza a necessidade de avanço na produção em todas as escalas. A ver pelos avanços tecnológicos alcançados pela agricultura nos últimos 15 anos, será bom para os empresários de todos os setores darem maior atenção ao que está acontecendo pelo interior do Brasil. Como dizia aquela música do Milton Nascimento, muitos ainda estão “de frente para a praia e de costas para o Brasil”, ou seja, de costas para o interior.
Transporte – um problema pela frente
Dentre as obras de transporte inseridas no PAC, e consideradas fundamentais para o escoamento da produção agrícola, estão a dragagem do canal de navegação e bacia de atracação no Porto do Itaqui que, junto com o Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), em São Luis (MA), viabilizarão a ampliação da capacidade de embarque do Porto de 2,1 milhões t de grãos para 3 milhões t em 2009. Em sua 2ª fase, a capacidade deverá chegar 5 milhões t.
No campo das Rodovias, as mais importantes para o setor estão na região Centro-Oeste (veja tabela ao lado):
Obras nas outras modais
Até 2010 está prevista a conclusão da 1ª eclusa de Tucuruí (no rio Tocantins, PA), o que permitirá o uso do rio como hidrovia e o escoamento pela região Norte, encurtando a distância para Europa.
No âmbito das ferrovias, é fundamental a criação do corredor Centro-Norte, que permitirá a redução substancial do custo com fretes e deverá aliviar os portos das Regiões Sul e Sudeste. A Ferrovia Norte-Sul permitirá a integração dos estados do Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo, num total de 2.258 km de extensão. Pelo cronograma do PAC, até 2009 devem ser concluídos os 358 km do trecho Norte da ferrovia, que liga Açailândia (MA) a Palmas (TO). Cerca de 147 Km aparecem como concluídos segundo fontes do governo.
Outra obra ferroviária importante para o Centro-Oeste, com previsão de ser concluída até dezembro de 2010, é o trecho da Ferronorte (MT) entre o Alto Araguaia e Rondonópolis (260 km). A região será beneficiada ainda com a construção de um ramal da Ferrovia do Oeste do Paraná (Ferroeste), ligando Cascavel (PR) até Maracaju (MS).
Na região Nordeste, destaca-se a construção da Ferrovia Nova Transnordestina, que ligará os portos de Pecém (CE) e Suape (PE) a Eliseu Martins (PI). A conclusão dessa obra está prevista para dezembro de 2010. Há em andamento estudos de viabilidade técnico-econômica e ambiental para a conexão da Ferrovia Transnordestina e Ferrovia Norte-Sul, no trecho Estreito (MA) a Eliseu Martins (PI), permitindo uma importante conexão com a região de cerrado. Também foram iniciados estudos para a concessão da Ferrovia de Integração Leste-Oeste (Ilhéus/BA a Alvorada/TO) e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste – Leste (Uruaçu/GO e Vilhena/RO).
Com respeito aos portos, há o Programa Nacional de Dragagem, que deve atingir 16 portos brasileiros, priorizando os sete importantes centros importadores/exportadores de insumos e produtos agropecuários: Rio Grande (RS), Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC), Itajaí (SC), Santos (SP), Vitória (ES), Aratu (BA) e Itaqui (MA).
Enquanto as obras não chegam, o Ministério da Agricultura vem procurando meios que possam reduzir o peso do custo do frete. É o caso da Alíquota de 25% do Adicional de Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), incidente sobre as importações de insumos agropecuários, e também na cabotagem, (para transporte de produtos agropecuários). Ele defende sua eliminação como forma de melhorar a competitividade do setor. Desde maio, a importação de trigo conta com isenção do AFRMM, medida válida até dezembro de 2008.
Fonte: Estadão