Em busca da globalização

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Com investimentos previstos de US$ 8,7 bilhões de 2008 a 2012, o setor de papel e celulose aplicou nos últimos dez anos a quantia de US$ 12 bilhões na construção, ampliação e modernização de suas unidades operacionais. Apenas em 2007, os recursos aportados chegaram a US$ 3 bilhões. São 220 empresas presentes em 450 municípios, localizados em 17 estados, em todas as regiões brasileiras. São mantidos 1,7 milhões ha de área plantada para fins industriais, 2,8 milhões ha de florestas preservadas e 2,2 milhões ha de área florestal total certificada. O balanço de 2007 mostra que foram exportados US$ 4,7 bilhões, com um saldo comercial de US$ 3,4 bilhões, que corresponde a 8,5% do saldo da balança comercial do Brasil.

No ano passado foram produzidas 11,9 milhões t de celulose e 8,9 milhões t de papel. A projeção para 2008 indica que esses números passarão, respectivamente, a 12,8 milhões t e a 9,2 milhões t, com um crescimento de 7,4 e 3,2%.

O ano também foi de expansões nos parques industriais: Aracruz, no Espírito Santo, Bahia Pulp e Suzano, na Bahia, e Klabin, no Paraná, ampliaram suas instalações, ganhando maior capacidade operacional. No período 2007-2009, a Votorantim Celulose e Papel (VCP) constrói a que é tida como a maior linha de produção de papel do mundo, com capacidade de 1,3 milhão t/ano de celulose branqueada de eucalipto, situada em Três Lagoas (MS). No mesmo sítio, a International Paper (IP) constrói uma fábrica de produção de papel. Idealizadora do Projeto Horizonte, como foi denominado, a IP fez uma troca de ativos em 2006 com a VCP, ficando só com a fábrica de papel e passando à outra companhia a responsabilidade de realizar o empreendimento.

Com o término das obras programado para abril de 2009, o Projeto Horizonte está consumindo recursos de US$ 1,5 bilhão na criação da fábrica da VCP e outros US$ 260 milhões na fábrica da IP. A construtora Camargo Corrêa responde pelas obras de infra-estrutura, vias de acesso, estações de tratamento de água e efluentes, terraplenagem, subestação principal e caldeiras. A Pöyry Tecnologia faz o gerencialmente total, por intermédio da Pöyry Empreendimentos Industriais, contratada pelo regime turnkey. A Método Engenharia responde pelos projetos básicos e executivos e execução dos três grandes alojamentos de operários idealizados especialmente para a obra, bem como portarias, sala de espera de caminhoneiros e posto de abastecimento de gás natural.

O que vem por aí

De acordo com a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), responsável pela divulgação dos números do setor, encontram-se atualmente em estudos, para o período 2010-2012, os seguintes empreendimentos: nova unidade da Aracruz na cidade de Guaíba (RS), este já aprovado, no qual serão investidos US$ 1,8 bilhão, projetos de expansões da Veracel (Veracel II), na Bahia, ao custo de US$1,5 bilhão, e novas unidades da VCP e da Stora Enso no Rio Grande do Sul, também no valor de US$ 1,5 bilhão cada. A Cenibra analisa expansão no valor de R$ 680 milhões em Minas Gerais.

O projeto de duplicação da Veracel (Veracel II) está em fase de estudo de viabilidade. Segundo Jouko Karvinen, principal executivo da companhia sueco-finlandesa que detém 50% da brasileira Veracel (os outros 50% são da Aracruz), serão necessários de 12 a 15 meses para definir o tamanho e o valor do investimento na nova fábrica. Ele lembra que “a nova fábrica da Aracruz, no Rio Grande do Sul, está estimada em US$ 2,6 bilhões. É sabido no setor que o custo de instalação de uma tonelada fica na casa de US$ 2 mil, o que resultaria numa fábrica de 1,3 milhão t”, declarou em recente visita ao Brasil. O valor divulgado por Karvinen inclui também os investimentos florestais e portuários que serão aportados.

Na oportunidade, ele informou que a Veracel já produz mais de 1 milhão t/ano de celulose, tendo ultrapassado 10% do patamar previsto, o que exige intervenções. Mas como depende de licenciamento ambiental, inclusive no que se refere à área de plantio, esteve em visita ao governo da Bahia para tratar do assunto. No entanto ressalva: “Temos de seguir as leis do país”.

Ao mesmo tempo, o plano de construir uma nova unidade no Rio Grande do Sul enfrenta um imbróglio jurídico, pois as terras para plantio de eucaliptos estão na zona fronteiriça com o Uruguai. Pelas leis brasileiras, não é permitida a instalação de companhias comerciais nessa região. Enquanto tenta resolver a questão com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Conselho de Defesa Nacional, a Stora Enso já tem plantados 9 mil ha e iniciou o plantio de outros 10 mil em áreas que estão em nome de terceiros. Circulam no Rio Grande do Sul notícias de que tanto a Votorantim, quanto a Stora Enso, poderão instalar suas unidades em Capão do Leão, embora as cidades de Arroio do Padre e Pelotas ainda não tenham sido descartadas, pois se beneficiam da logística representada pela existência do canal de São Gonçalo.

Por sua vez, Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose, afirmou que a empresa tem acesso até a US$ 10 bilhões para investir na expansão de suas operações ou efetuar aquisições, tendo em vista a demanda dos mercados emergentes. Segundo ele, a Suzano possui US$ 1,1 bilhão para investir no setor. O restante seria captado no mercado de capitais.

Deve sair mais uma

A expansão da fábrica de Guaíba (RS) não é a única aposta da Aracruz este ano. Isac Zagury, diretor financeiro da companhia, divulgou que está de olho em outros sítios, fora dos estados onde opera – Rio Grande do Sul, Bahia e Espírito Santo – para a construção de mais uma fábrica, a quarta no País. “A decisão será tomada até o fim de 2008. É o máximo que posso falar”, declarou ao jornal paulista Valor Econômico. De acordo com o executivo, “Aracruz, VCP e Suzano serão para a celulose o que as mineradoras Vale e BHP Billiton são para o minério de ferro”. Juntas, deverão responder pela produção de um volume de 12 a 15 milhões t/ano de celulose entre 2012 e 2014. Analistas definem o mercado atual de celulose na casa das 50-55 t, sendo que a de eucalipto – a matéria-prima das empresas brasileiras – é responsável por 50% da movimentação.

A implantação da segunda linha de produção em Guaíba não vem sozinha. Dos R$ 2,6 bilhões a serem aplicados, US$ 170 milhões serão destinados às obras de construção de três terminais fluviais para transporte de madeira. Eles estarão situados nas cidades de Guaíba, Rio Pardo e Cachoeira do Sul, todas no Rio Grande do Sul. Além disso, será erguido um terminal privativo marítimo especial

mente para escoamento de celulose, no município gaúcho de São José do Norte. O projeto hidroviário utilizará a hidrovia do Jacuí, que atravessa regiões com alta capacidade agrícola, conectando-as à capital gaúcha e ao porto de Rio Grande. A idéia é assegurar e manter a navegação perene no rio Jacuí entre Rio Pardo e Guaíba, com volume diário de até 10 mil t.

A atual unidade da Aracruz na cidade, que produz 450 mil t/ano, estará integrada à área expandida e terá algumas instalações modernizadas, como as mesas de alimentação e picadores, processo de coleta e tratamento de odor e torre de resfriamento de água. A nova linha será desenvolvida pelo sistema EPC (Engineering, Procurement and Construction) e a diretriz da Aracruz é contratar equipamentos e serviços predominantemente no Brasil.

O conceito é de fábrica com mínimo impacto. As tecnologias serão aplicadas no processo integral, desde o cozimento da madeira até o branqueamento da celulose, produzindo mais com menos insumos químicos. O complexo funcionará continuamente, 24 h/355 dias ao ano. A licença prévia foi concedida em março último pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luís Roessler – RS (Fepam).

Segundo a direção da empresa, a otimização da logística via projeto hidroviário tem o objetivo de reduzir os impactos nas regiões de operação. Serão usadas oito barcaças, que medem aproximadamente 85 m x 12 m, conduzidas por seis empurradores, que transportarão a madeira carregada em Rio Pardo até Guaíba. O calado projetado é de 2,5 m e a capacidade de movimentação será de 2,5 milhões t/ano, correspondendo a 40 a 50% do total.

O terminal de Rio Pardo terá a construção iniciada em 2009 e iniciará operações em 2011. A construção do terminal de Cachoeira do Sul é estimado para uma segunda etapa, de modo a entrar em operação a partir de 2015. E o terminal de Guaíba entrará em funcionamento concomitante à partida da fábrica. O terminal de escoamento da produção, para exportação de celulose, está planejado para ser construído em São José do Norte em área de 64 ha, que já foi adquirida. Na fase inicial movimentará 105 navios/ano, contando com berço de atracação, retroárea, prédios administrativos e sistemas de apoio, entre outras estruturas.

Afora as obras civis para construção da estrutura portuária, a Aracruz será responsável pelo aprofundamento do canal que liga o terminal de Guaíba ao canal do Leitão, próximo à cidade, o que representa a dragagem de cerca de 536 mil m3. O projeto foi efetuado pela Superintendência de Portos e Hidrovias do Rio Grande do Saul e está em fase de licenciamento ambiental.

De acordo com o cronograma divulgado, as obras de construção da nova linha de produção deverão ser iniciadas no terceiro trimestre de 2008 (ver cronograma nesta página).

A companhia também responderá por melhorias, como asfaltamento da RS-703 e da ligação entre Guaíba e Barra do Ribeiro, município onde se encontra o viveiro de mudas e o maior horto florestal da Aracruz no Rio Grande do Sul. Também estão a seu cargo a abertura do acesso alternativo da BR-116 ao sítio industrial de Guaíba; a construção de novo trevo de acesso a Guaíba, já em execução; a ampliação da pista da BR-116 do trevo BR-116/BR-290 a Guaíba; além de rotatórias e trevos de acesso nessas duas estradas, bem como adequação dos Planos Diretores Urbanos dos municípios envolvidos no projeto.

Fonte: Estadão


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