Palavras de cientistas fazem supor que o estudo de impacto ambiental ainda não está completamente fechado. E, se está concluído, deixa algumas frestas perigosamente abertas para contestações.
Mais de duas décadas depois do primeiro anúncio de que o sítio de Belo Monte abrigaria uma usina hidrelétrica de grande porte, o estudo deveria estar completo, sem margem a dúvidas, mesmo que estas não signifiquem impacto significativo para a fauna e a flora, durante e depois da obra.
Se dúvidas persistem, devem ser colocadas às claras para a sociedade, em especial para os interessados diretos – comportamento que contribuiria para a maior credibilidade do órgão responsável pelo licenciamento.
A consideração sobre isso vem a propósito de críticas feitas por ictiólogos ao estudo que identificou espécias de peixes em trechos do rio Xingu, sobretudo na chamada Volta Grande do Xingu, área de construção da usina de Belo Monte.
Os cientistas consideram que, em virtude das mudanças já realizadas no projeto, o lago a ser formado pela barragem será de poucas proporções. Contudo, terá reflexo na vazão das águas, com efeito em algumas espécies, duas das quais, segundo a matéria do repórter Reinaldo José Lopes (FSP/ 16.05.10), estariam sob risco de extinção: o pacu-capivara e o cascudo-zebra. As críticas dos cientistas seguem por aí e vão mais longe.
Sei de muitas pessoas que tendem a minimizar tais coisas diante das vantagens da usina para o desenvolvimento da economia. Mas, o caminho para problemas maiores, às vezes para as grandes tragédias, começa com um dar de ombros às questões julgadas menores. E estas não são menores.
É importante colocar, em sua devida dimensão, o papel do órgão licenciador. Daí, a necessidade de que seus estudos não provoquem tergiversações. Para isso, precisa estar adequadamente aparelhado para as investigações in loco, sem as pressões dos que querem desqualificá-lo e negligenciá-lo. O trabalho que ele realiza precisa atender aos requisitos científicos exigidos. Desenvolvimento sim, mas a preços compatíveis com a preservação dos bens que a natureza coloca em favor de todos.
Fonte: Estadão