Joaquim Nabuco, um brasileiro de todos os tempos

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Livro antigo, recolocado aos olhos dos leitores na coleção Grandes nomes do pensamento brasileiro da Folha de S. Paulo, chega-me às mãos, estimulando nova leitura, tantos anos passados, O Abolicionista, de autoria de Joaquim Nabuco, este pernambucano filho de senhor de engenho nascido em 1849 e falecido em 1910.

É gratificante caminhar pelas ruas do pensamento deste monarquista empedernido, mas de pensamento que estava a milhares de quilômetros além de sua época, que teve uma vida pública limpa e uma trajetória intelectual marcada pelas posições avançadas que assumiu, destacando-se, ao lado de Machado de Assis, como fundador da Academia Brasileira de Letras.

O Abolicionista é a constatação de que o pensamento, quando reflexo de uma época e de uma posição de vanguarda em favor das grandes causas humanas, jamais se aposenta. Extrapola os limites do tempo em que foi elaborado e passa a constituir uma fonte de permanente referência para quem queira compreender o passado, a fim de atualizar-se em relação aos problemas políticos, econômicos e sociais de sua época.

Colocadas estas palavras, passo a reproduzir alguns trechos do livro da luta de Joaquim Nabuco contra a escravidão no Brasil, O Abolicionista:

"Em outros países, a propaganda da emancipação foi um movimento religioso, pregado do púlpito, sustentado com fervor pelas diferentes igrejas e comunhões religiosas. Entre nós, o movimento abolicionista nada deve infelizmente à igreja do Estado; pelo contrário, a posse de homens e mulheres pelos conventos e por todo o clero secular desmoralizou inteiramente o sentimento religioso de senhores e escravos.

A Igreja Católica, apesar do seu imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação.

Depois que os últimos escravos houverem sido arrancados ao poder sinistro que representa para a raça negra a maldição da cor, será ainda preciso desbastar, por meio de uma educação viril e séria, a lenta estratificação de trezentos anos de cativeiro, isto é, de despotismo, superstição e ignorância.

A escravidão é um estado violento da compressão da natureza humana no qual não pode deixar de haver, de vez em quando, uma forte explosão.

A vida, do berço ao túmulo, literalmente debaixo do chicote, é uma constante provocação dirigida ao animal humano, e à qual cada um de nós preferiria, mil vezes, a morte.

… a história não oferece, no seu longo decurso, um crime geral que, pela perversidade, horror e infinidade dos crimes particulares que o compõem, pela sua duração, pelos seus motivos sórdidos, pela desumanidade do seu sistema complexo de medidas, pelos proventos dele tirados, pelo número das suas vítimas, e por todas as suas consequências, possa de longe ser comparado à colonização africada da América."

Por esses pensamentos – e muitos outros em vários de seus livros – Joaquim Nabuco é um brasileiro de todos os tempos.

Fonte: Estadão


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