Chuva e desapropriações dificultam obra que deve ficar pronta em 2012

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Considerada a maior obra viária de Salvador nos últimos 30 anos, a via expressa que ligará a BR-324-BA ao porto local tem 4,3 km de extensão. Chuvas e desapropriações são os maiores obstáculos para que ela seja concluída até 2012

Avia expressa, projetada para ajudar a estruturar o tráfego urbano da capital baiana, estabelecendo ligação direta entre o porto, a cidade e a BR-324, de modo a evitar o transporte de cargas pesadas pelo sistema viário tradicional, possivelmente já poderia estar concluída. Pelo menos é esse o raciocínio dos que vêem o andamento dos serviços – a obra foi iniciada em 2009 – e avaliam que eles poderiam estar mais acelerados.
Contudo, a obra enfrenta obstáculos que talvez não tenham sido previstos, em toda a sua dimensão, na época da elaboração do projeto: em alguns períodos do ano as chuvas em Salvador têm sido torrenciais, e a área por onde ela avança é densamente urbanizada, motivo pelo qual as desapropriações devem atingir 771 imóveis.
Os processos de desapropriação implicam audiências públicas morosas, nas quais o projeto é pormenorizadamente debatido para convencer a população de que, apesar dos transtornos que ela tem provocado, constitui um bem público comum em favor da melhoria da cidade e de seu progresso futuro.
A obra foi orçada em R$ 400 milhões, mas se tornou viável, apesar desse valor, por conta de convênio firmado entre os governos federal e estadual. Os recursos federais, ali aplicados por intermédio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), correspondem a R$ 360 milhões. Os recursos complementares – R$ 40 milhões – estão sendo liberados pelo governo estadual, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), que é responsável pela execução dos serviços.
O empreendimento foi dividido, para efeito de construção, em duas etapas: a primeira, já concluída, compreende seis viadutos ao longo da BR-324, na rótula do Abacaxi, no baixo da Cabula. Com a entrega desse trecho, houve melhoria sensível no fluxo do tráfego pelas avenidas ACM, Paralela e Bonocó. A segunda fase, ainda em andamento, prevê a ampliação das avenidas Glauber Rocha e Heitor Dias e a construção de dois túneis superpostos na Baixa de Quintas, na Ladeira da Soledade. O conjunto da obra, que terá 14 viadutos e três túneis, reserva espaço para 3.465,43 m de ciclovia.

De olho em 2014
Milton Villas-Bôas, presidente da Conder, diz que a obra assumiu maior importância ainda, depois que Salvador foi escolhida para sediar jogos da Copa de 2014. A capital passou a preparar-se para esse fim, considerando, no entanto, que "a mobilidade urbana é um dos aspectos fundamentais para qualquer cidade, em qualquer tempo e circunstância".
A via expressa, projetada como linha direta e exclusiva entre a BR-324 e o porto, deverá atender às exigências para um fluxo seguro do escoamento "de nossos produtos. É bom lembrar, na análise desses aspectos, que a Bahia figura dentre as principais economias do País". Para o presidente da Conder, a relevância do projeto pode ser constatada na prática, pela população, a partir de setembro do ano passado, quando o governo entregou as obras da nova rótula do Abacaxi e o tráfego pesado foi desviado do sistema viário tradicional.
Em alguns trechos, a via expressa terá 10 faixas – cinco no sentido da BR-324 e cinco no sentido porto-324, sendo que as quatro faixas centrais (duas em cada sentido) serão destinas ao fluxo do transporte público.

As obras de arte
Dentre as obras de arte projetadas ao longo do traçado, algumas das principais são o viaduto 3 localizado na área de triagem do porto e da avenida Juquitaia, com 127 m de extensão; os viadutos 4, 5, 6 e 7, com extensão variável até 205 m; os viadutos da Rótula do Abacaxi, um dos quais com 439,20 m de extensão e vários outros – um deles (V16) concebido com estrutura metálica.
Para eliminar a possibilidade de conflito de tráfego ao longo do traçado foram projetados ramais, por vias elevadas, entre a BR-324 e os acessos ao porto e à cidade. Esses ramais avançam sobre a rótula do Abacaxi e, a partir da ladeira do Cabula, transpõem a BR 324 e a linha do metrô. No acesso Norte, as intersecções são em níveis diferentes na Rótula do Abacaxi, no Largo Dois Leões e Cidade Nova; foi previsto um túnel na Ladeira da Soledade e uma via elevada sobre as avenida Jequitaia e Oscar Pontes, em Água de Meninos.
Do conjunto dessas obras, a interseção da Rótula do Abacaxi é considerada a mais importante, do ponto de vista do projeto. Fazem parte desse conjunto seis viadutos, cinco dos quais concluídos. Eles somam 2.480 m de extensão.
Para a construção dessas obras na interseção em área densamente urbanizada foram propostos sistemas construtivos capazes de reduzir a interferência dos trabalhos no sistema viário tradicional, o que poderia prejudicar, como efeito dominó, o tráfego da cidade. Para evitar essa possibilidade, o projeto previu, em alguns casos, o uso de estruturas pré-moldadas associadas a estruturas metálicas obtendo-se, a partir dessa interação, as seguintes soluções estruturais:
– Vigas pré-moldadas típicas de 40 m de vão, apoiadas em travessas de concreto armado ou protendido, todas localizadas sobre a rótula e em dois níveis de estruturas.
– Viga-caixão mista para acesso á Rótula do Abacaxi transpondo a BR 324 nas proximidades do acesso ao bairro da Cabula, com vão máximo de 50 m.
– Travessas de concreto protendido moldadas no local, com balanços de até 10 m para apoio das vigas pré-moldadas.
– E treliças metálicas com tabuleiro inferior em concreto armado, com vãos de aproximadamente 90 m para a transposição da linha do metrô, devido à grande esconsidade destes trechos da obra. O escoramento da obra foi realizado com equipamentos da SH, entre eles as torres de carga Modex e LTT, e as treliças Treliforma e SH 200.

O túnel duplo na Ladeira da Soledade
Milton Villas-Bôas disse à revista O Empreiteiro que na região da Ladeira da Soledade, a área disponível para a implantação de túneis é estreita. As limitações impostas pelas condições topográficas levaram a uma solução técnica "inovadora em nosso Estado: a construção de dois túneis superpostos, ou um túnel duplo, além do túnel anteriormente já executado no local". A solução, segundo ele, poderá ensejar, dada as necessidades futuras do tráfego local, a construção de um quarto túnel. Este terá a função estratégica de integrar a via expressa à ponte que ligará Salvador à Ilha de Itaparica, ligação que atualmente ainda se encontra, segundo ele, em fase de estudos.
O t&uac

ute;nel duplo foi projetado com 83 m de extensão e 16 m de altura. No meio dessa obra será instalado um elevado de concreto por onde passará a pista 1, sob a qual foi projetada a pista 2. No lado da Cidade Alta, mais especificamente no encontro da Estrada da Rainha com a Ladeira da Soledade, fica o emboque da Rainha, que constitui o trecho de rebaixamento das pistas, onde serão executadas obras de contenções para dar acesso ao portal do túnel duplo.
No lado da Cidade Baixa, na Ladeira do Canto da Cruz, localiza-se o emboque Porto, onde haverá obras de contenções para que ali seja executada a transição das pistas 1 e 2, entre a Cidade Baixa (avenidas Jequitaia e Porto) e o portal do túnel duplo. A pista inferior do túnel, concebido com mão dupla, será destinada ao tráfego de carga pesada, inclusive contêineres. Já a pista superior se destinará a veículos leves, procedentes de Água de Meninos, rumo à rodovia federal.
As operações para as escavações do túnel duplo são em quatro etapas: a primeira, já em execução, atingirão 5,65 m de altura (calota do túnel); as demais prevêem três rebaixos de 3,3 m de altura cada. Essas últimas escavações ocorrerão em rocha sã.
Técnicos da Conder informam que uma das operações mais delicadas na fase da construção do túnel duplo se refere ao uso de explosivos. Serão utilizados três aparelhos de sismografia para controle dessas operações. Os pontos de perfuração em rocha, para a colocação de explosivos, seguem à risca os critérios que previnem riscos de trabalho do gênero em áreas urbanas. Tanto assim, que serão adotados cuidados especiais para que não ocorram abalos capazes de causas quaisquer danos a residências ou a outros tipos de estruturas do entorno.

Ficha técnica

Obra: Via Expressa Baía de Todos os Santos
Traçado: Água de Meninos, Ladeira do Canto da Cruz, Estrada da Rainha, Avenidas Glauber Rocha e Heitor Dias, Rótula do Abacaxi, Ladeira do Cabula e Acesso Norte (BR-324)
Viadutos: 14
Passarelas para pedestres: 4
Projeto geométrico (pavimentação, drenagem, terraplenagem e sinalização): APT Engenharia
Projeto estrutural dos viadutos: JMB Engenharia
Construção: Construtora OAS, vencedora da licitação
Contratante: Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder)
Valor da obra: R$ 400 milhões
Conclusão: está prevista para ser entregue no primeiro semestre de 2012

Principais quantitativos
– Fornecimento, preparo e colocação de aço CA 50: 6.440.000 kg
– Fabricação e fornecimento de estrutura metálica V.12+16/parte: 885.000 kg
– Estacas metálicas: 32.800 m
– Fornecimento, transporte e montagem de vigamento metálico V 16: 800.000 kg
– Terra armada: 15.700 m²
– Concreto estrutural fck = 40 MPa: 28.200 m³

Fonte: Estadão


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