Coberturas do Maracanã e do Mineirão ganham soluções diferentes

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Dois importantes estádios que receberão jogos da Copa do Mundo dão rumos distintos às estruturas que servem de abrigo aos espectadores: um decidiu pela demolição; o outro criou um prolongamento com elementos de sustentação independente, sem precisar remover a antiga construção.

Ambos são tombados pelo patrimônio público

Orçamento mais alto e uma mudança radical no projeto. Estas foram as duas novas notícias anunciadas recentemente pela secretaria Estadual de Obras do Rio de Janeiro para o projeto de reforma do Maracanã. As duas geraram polêmica.

O orçamento das obras do estádio saltou de R$ 600 milhões para R$ 956 milhões. O aumento expressivo dos custos fez com que o projeto recebesse críticas. Também foi decidida pela demolição da marquise, considerada comprometida do ponto de vista estrutural pelos técnicos. A secretaria de Obras explicou a elevação do orçamento justamente devido à construção de uma nova cobertura.

O Maracanã foi inaugurado em 1950 para receber naquele ano a primeira Copa do Mundo no Brasil. O estádio tem o nome de Mário Filho, jornalista esportivo que se engajou na construção da arena e era irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues. O projeto vencedor da obra foi apresentado por sete arquitetos: Miguel Feldman, Waldir Ramos, Raphael Galvão, Oscar Valdetaro, Orlando Azevedo, Pedro Paulo Bernardes Bastos e Antônio Dias Carneiro. O local foi palco à época da fatídica derrota do Brasil para o Uruguai na final do Mundial.

A atual reforma prevê entregar o estádio pronto em dezembro de 2012. No ano seguinte, a arena receberá a Copa das Confederações. No Mundial de 2014, o Maracanã terá vários jogos, inclusive a final. Atualmente, 800 trabalhadores, que atuam em regime de dois turnos, estão envolvidos nas obras.

O trabalho de reforma do Maracanã está com 90% da parte prevista para demolição seletiva realizada. Esta etapa inclui derrubar os dois lances de arquibancada, vestiários, banheiros, cabines de rádio e televisão e camarotes, para, em seguida, reconstruí-los conforme novos padrões.

No final de maio, as fundações para as novas arquibancadas e as rampas de acesso externas começaram a ser feitas. Atualmente, o estádio possui duas rampas de acesso. Com a reforma, duas outras estarão sendo erguidas, permitindo que em cerca de 8 minutos todos os torcedores deixem o estádio – uma exigência da FIFA.

“Existem inúmeras dificuldades quando se trata da reforma de uma construção com idade avançada. Podemos, inicialmente, citar a recuperação da estrutura existente e que permanecerá no novo projeto. A seguir, a adequação de arena antiga aos parâmetros modernos especificados pela FIFA. Depois, a coordenação de todos os sistemas projetados e que ocuparão áreas neste mesmo estádio. Essa será uma obra de contínuas dificuldades”, reconhece Wilson Fernandes, gerente de Obras do novo Maracanã.

Dúvidas ao projeto

A antiga marquise, que já está sendo demolida, foi considerada comprometida a partir de laudo técnico. Com isso, uma nova cobertura será projetada, duas vezes maior do que a antiga, fabricada em lona tensionada de fibra de vidro translúcida e autolimpante para proteger de intempéries 95% dos espectadores dentro do estádio. A estrutura de suporte será metálica.

“Há um grande desafio nesta obra que será a substituição da antiga cobertura do estádio, em concreto armado, por um novo método tenso”, explica Fernandes. “A primeira parte reside na cuidadosa substituição de lajes e vigas da antiga cobertura situada a 30 metros de altura do campo de jogo, com a utilização de pesados equipamentos. Não poderá haver queda dinâmica de nenhuma das partes desta cobertura, uma vez que existem estruturas da arquibancada sob sua projeção que deverão fazer parte do novo projeto. Assim, a demolição deverá ser executada em fatias com suas partes sendo cuidadosamente posicionadas na cota do campo para serem posteriormente britadas”, complementa.

Por ser composta por membranas delgadas e flexíveis, a nova cobertura não oferece tanta resistência à compressão ou à flexão, exigindo, assim, uma estrutura mais esbelta para sua sustentação. A estrutura metálica com lona tensionada é composta por mastros e escoras e colunas tubulares, além de cabos de aço. A cobertura é sustentada por mastros e treliças ou vigas cruzadas apoiadas a intervalo de 2 m. Pilares receberão as cargas verticais.

“Como segunda parte deste desafio haverá também a montagem do anel de compressão externo, estando este último posicionado sobre aparelhos de apoio situado no topo dos pilares gigantes do estádio. A seguir, será montada uma estrutura metálica que servirá de sustentação a sistemas e equipamentos, bem como suporte para a membrana tensionada que a recobrirá. Este conjunto a menos do anel de compressão externo será montado no solo sendo posteriormente içado por meio de macacos até que esteja em seu posicionamento final (big lift)”, descreve Wilson Fernandes.

Mas há oposição ao projeto que está sendo executado naquele que já foi chamado de maior estádio do mundo. “A nova cobertura é um equívoco. Poderiam ter recuperada a estrutura atual com injeção de concreto”, avalia Ricardo Villar, vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ). “O Maracanã tinha que ser demolido. É um estádio retrógrado, antiquado. Seria muito mais barato”.

A proposta anterior era de fazer uma complementação da cobertura sem necessidade de demolição. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) autorizou a derrubada da marquise, que fazia parte do conjunto do estádio tombado pelo patrimônio público.

A montagem da nova cobertura, que deverá ser mais baixa que a antiga, com maior flexibilidade para instalação de equipamentos e condições de iluminação mais uniforme, levará cerca de dois meses para ficar pronta.

O projeto do novo Maracanã tem certificação Leardership In Energy and Environmental Design (LEED), o que estabelece utilizar dispositivos economizadores de água e a implantação de um sistema de captação de água pluvial para irrigação do gramado e utilização nos banheiros.

No interior do estádio, serão instalados 60 bares e o número de vasos sanitários subirá de 761 para 927 – total de 231 banheiros. Dezesseis elevadores estarão disponíveis aos torcedores.

O Maracanã terá capacidade para 80 mil pessoas. Serão construídos 110 camarotes, com 150 m² cada, metade climatizada e metade aberta, que ficarão em um nível entre a arquibancada superior e inferior do novo estádio.

A arquibancada superior avançará 12 m em direção ao campo em relação à estrutura antiga. Já a arquibancada inferior, onde se localizavam as chamadas cadeiras azuis, se elevará 5 m e ficará mais próxima do gramado.

A reforma do Maracanã está sendo feita pelo Consórcio Maracanã Rio 2014 (Odebrecht, Andrade Gutierrez e Delta), a partir de contratação por licitação do Governo do Estado Rio de Janeiro, proprietário do estádio. O projeto da nova cobertura é da empresa alemã Schlaich Bergermann und Partner (SBP), que vem realizando 90% dos projetos desse tipo em novos estádios pelo mundo.

Ficha técnica

• Obra: Maracanã

• Construtoras: Odebrecht, Andrade Gutierrez e Delta

• Gestão: EMOP (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro)

• Projeto da cobertura: Schlaich Bergermann und Partner (SBP)

• Contingente atual: 800 profissionais, em dois turnos

• Custo total: R$ 956 milhões

Belo Horizonte mantém cobertura e
cria prolongamento independente

O Mineirão, em Belo Horizonte (MG), está também em fase final de demolição seletiva da parte interna do estádio, para posterior reconstrução dos setores de acomodação de público, atletas e imprensa, além de novas áreas de serviços, apoio e atendimento. Porém, as novidades da arena para a Copa do Mundo no Brasil estão na construção de um prolongamento da cobertura — ao contrário do novo projeto do Maracanã — e de uma esplanada no entorno do estádio.

A previsão é que em dezembro de 2012 os trabalhos estejam encerrados. Em 2013, o novo estádio já receberá a Copa das Confederações. O custo da obra é de R$ 666 milhões. Atualmente, 300 operários trabalham no Mineirão. No ano que vem, serão 2 mil trabalhadores.

O Mineirão tem o nome oficial de estádio Governador Magalhães Pinto e foi inaugurado em 1965. O projeto arquitetônico foi de Eduardo Mender Guimarães Júnior e Gaspar Garreto.

Tombado pelo patrimônio público, o Mineirão possui uma cobertura de 30 m de largura, integrada a uma estrutura externa composta por 88 pórticos (com 7,5m de distância um do outro) de concreto armado.

Para receber o prolongamento da cobertura com mais 30 m sem afetar a atual estrutura, a extensão será montada com placas de policarbonato importadas, sustentadas por cabos de aço, ligados a 44 pilares metálicos erguidos de forma independente da estrutura de sustentação de concreto existente. A estrutura metálica da cobertura pesará cerca de 2 mil t.

Toda a extensão da nova cobertura deverá ser içada ao mesmo tempo, a partir do solo, sendo que os cabos deverão ser tensionados a partir dos pilares metálicos, que terão em sua parte mais elevada vigas de concreto para transferência de carga. As referidas vigas se interligação em torno de todo o estádio.

“A cobertura metálica será um dos principais desafios que teremos que vencer”, reconhece Ricardo Barra, presidente da empresa Minas Arena, responsável pelas obras e posterior operação do Mineirão por 25 anos. De acordo com o executivo, por se tratar de uma reforma de modernização, a necessidade de trabalhar com a estrutura existente torna-se uma ação com alta concentração de esforços.

Barra explica que a estrutura da cobertura metálica poderá ser apoiada somente em elementos estruturais internos, sem atrapalhar a visão do público. “Estamos buscando as mais refinadas técnicas em engenharia para resolver esta questão: executar o serviço respeitando a fachada, a visibilidade do torcedor e, também, o prazo estabelecido no cronograma”, expõe.

Ainda na cobertura do estádio, prevê-se a instalação de painéis fotovoltaicos para geração de energia. A cobertura também coletará água pluvial para irrigação do campo e uso nos banheiros. Dois placares eletrônicos serão montados em lados opostos na nova cobertura.

Com o prolongamento, todos os assentos da arquibancada serão protegidos às intempéries, sem prejudicar a presença de luz natural no gramado. O novo Mineirão terá três lances de assentos: inferior, intermediário — estes com camarotes — e superior. Antes, existiam dois níveis de assentos. No total, o estádio terá 64,5 mil lugares.

A nova tribuna de imprensa terá capacidade para 2.955 profissionais no Mundial, sendo 480 posições paracomentaristas. No novo Mineirão, serão erguidos 41 camarotes, de 20 a 40 m² quadrados, além de 90 camarotes privativos com 1,5 mil assentos dedicados. O projeto de reforma prevê na parte interna do estádio à disposição do público 28 lanchonetes e 68 banheiros. A execução das obras de reforma consumirá aproximadamente 107 mil m³ de concreto armado, com resistência (fck) de 20 a 30

MPa.

O gramado do Mineirão foi ainda rebaixado em pouco mais de 3 m para melhorar a visibilidade dos espectadores.

Esplanada

Uma enorme praça pública no lado externo, chamada de esplanada, de 80 mil m², no mesmo nível das entradas principais do Mineirão, se conectará com diversos pontos do sistema viário do entorno da arena, facilitando o fluxo de um grande número de pessoas ao mesmo tempo.

Na esplanada serão erguidas lojas e áreas de apoio ao estádio. O local também poderá receber shows. Um estacionamento coberto para 2.600 veículos será construído em dois níveis, debaixo da esplanada.

A proposta é criar uma área permanente de atividades, durante todos os dias da semana, integrada à lagoa da Pampulha, que fica próxima do estádio. Esta prevista a construção de uma passarela ligando o Mineirão ao ginásio Mineirinho, que se tornará um centro de apoio durante a Copa do Mundo.

As obras do Mineirão estão sendo executados pelo consórcio Minas Arena, integrado pela Construcap, Egesa e Hap. O projeto da estrutura metálica é da empresa SBP. Com o modelo de contrato baseado na parceria público-privada com o Governo Estadual de Minas Gerais, a concessão do estádio para o Minas Arena durará 25 anos.

Ficha técnica

• Obra: Mineirão

• Construtora: Construcap, Egesa e Hap

• Gestão: SECOPA (Secretaria de Estado Extraordinária da Copa do Mundo de Minas Gerais)

Projeto da cobertura: Schlaich Bergermann und Partner (SBP)

• Contingente atual: 300 trabalhadores

• Custo total: R$ 666 milhões

Fonte: Estadão


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