O pior pessimista tende a ser, invariavelmente, o melhor otimista bem informado. Por isso, não podemos ignorar as opiniões dos pessimistas, sobre a situação, absolutamente sem precedentes, do sistema Cantareira. Sobretudo porque, por mais que o governo paulista adote iniciativas de emergência, como o bombeamento das reservas profundas d’água (volume morto), contenção de vazamentos em 150 mil km de redes e outros programas do tipo, a realidade da escassez de água na região metropolitana de São Paulo é visível tanto nas torneiras quanto na paisagem árida dos reservatórios que compõem o sistema.
A situação se agrava, pois se ontem era o sistema Cantareira, que entrava em colapso, comprometendo o abastecimento de quase 8 milhões de habitantes, hoje é o segundo maior reservatório da região, o sistema Alto Tietê, responsável pelo abastecimento de perto de 5 milhões de pessoas, que é atingido pela seca e pela falta de investimentos em novas obras de captação na década passada.
Considerando a gravidade e a complexidade do problema, entendemos que se faz necessário — e urgente — que a engenharia se manifeste, para propor soluções técnicas, uma vez que as soluções políticas já provaram que seus autores pecaram pela inépcia e irresponsabilidade. E, esperar por São Pedro, não nos parece a saída mais recomendável, por mais que os milagres às vezes aconteçam.
A primeira etapa do sistema Cantareira, conforme matéria publicada na edição 530 desta revista, entrou em operação em 1974. Com a operação da segunda fase, em 1981, a capacidade de adução era da ordem de 33 m³/s. A água, armazenada em seus cinco reservatórios de regularização, é transportada por um complexo de canais e tubulações que permitem o abastecimento da Grande São Paulo. Componente importante do conjunto é a Estação Elevatória Santa Inês, que possibilita recalcar a água captada.
Nas circunstâncias atuais, o volume de água que vem sendo retirado do chamado “volume morto” do sistema Cantareira tem sido da ordem de 19,7 m³/s . Trata-se de um volume que pode acabar em outubro próximo, embora a Sabesp tenha informado que as vazões determinadas pelos órgãos reguladores são suficientes para garantir o abastecimento da população até meados de 2015.
O curioso nos prognósticos da empresa é que, apesar dos riscos de desabastecimento, nenhuma obra de captação está em perspectiva, com exceção daquela do Sistema Produtor de Água de São Lourenço da Serra que, no entanto, só deverá tratar 4,7 m³/s em 2017. Houve uma tentativa mal articulada de se propor a transposição das águas do rio Paraíba do Sul, prontamente rechaçada pelo governo fluminense. E, enquanto o governo descarta o racionamento, possivelmente de olhos nas próximas eleições, este já é visível nas torneiras de milhares de moradores, em diversas regiões da Grande São Paulo.
Tendo em vista esta situação, a revista está montando uma mesa-redonda, com a presença de diversos especialistas da área da engenharia — e também da saúde pública – buscando soluções do ponto de vista de investimentos, tecnologia e obras de grande porte que ajudem na solução do problema. E vamos mostrar como outras grandes cidades do mundo conseguiram resolver problemas semelhantes, sem levar suas populações a sacrifícios extremos.
A cidade-estado de Cingapura, na Ásia, é um exemplo considerado clássico. Em 50 anos, saiu de uma situação de escassez para pleno abastecimento d’água, empregando a avançada tecnologia de membranas para osmose inversa, reciclando a água usada para torná-la potável novamente. Essa água reciclada já responde por 30% da demanda da população. Entendemos que a engenharia deva ser convocada, pois a hora dos políticos de plantão já passou.
Fonte: Revista O Empreiteiro