Condephaat, contra o cupim do tempo

É para lá de arcaico imaginar que tombar um imóvel é imobilizá-lo no tempo. Empacotá-lo com todas as suas características de época de modo a torná-lo objeto de museu para as gerações futuras, sem lhe dar outra finalidade senão a de peça própria para embasbacar turistas e saudosistas.

Por sorte, essa ideia, que vinha engessando procedimentos de órgãos como o Conselho de Defesa do Patrimônio Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), do Estado de São Paulo, está sendo jogada a escanteio pela realidade urbana. Criado em 1968 pela Lei 10.247, o Condephaat se dispunha a proteger, valorizar e divulgar o patrimônio cultural paulista.

Mas os verbos proteger e valorizar em muitos casos sequer foram efetivamente declinados em favor de muitos de seus cerca de 300 bens tombados ao longo do tempo. Possivelmente porque proteger e valorizar significaria reformá-los, conferindo-lhes melhorias que poderiam arrancá-los da imobilidade.

Hoje se está concluindo que as reformas são essenciais. E, que a melhor maneira de conservar o legado de gerações passadas, é permitir que as novas gerações o utilizem, adequando-o aos interesses e necessidades que o presente – sempre passado, e por isso mesmo continuamente renovado – deem-lhe novas regras de funcionamento, a exemplo do que tem ocorrido com a Casa das Rosas, na avenida Paulista, concebida e construída pelas mãos de Ramos de Azevedo.

Prova de que aquela ideia antiga está mudando é a decisão do órgão para a revisão do tombamento de imóveis seculares do bairro da Luz. Os edifícios, embora venham a conservar os valores estéticos que guardam os traços da história e da cultura de sua época, serão reformados para abrigar funções desses tempos acelerados pela tecnologia. Com isso, o bairro poderá ser inserido em planejamento urbanístico mais amplo e – quem sabe? – recuperar o tempo perdido para a deterioração e o abandono.

Fonte: Estadão

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