Construir em SP

Compartilhe esse conteúdo

Nildo Carlos Oliveira

Tomo o exemplo da Sinco Engenharia que constrói o Matizes do Butantã ao lado. O andamento da construção poderia ser diferente, mas não é. E imagino que outras construtoras também poderiam construir de modo diferente. Mas, diferente no quê? No comportamento, claro. Sobretudo, no respeito para com a vizinhança.

Desde o começo de uma construção, a empresa responsável deve ter em conta que há o vizinho ao lado. Gente miúda ou grande; crianças e adultos, muitos com uma sensibilidade intoleravelmente aguçada aos ruídos. Outros talvez doentes, talvez impacientes pela longevidade. E ojeriza não ao barulho comum e natural da metrópole; mas àquele, sincopado, frenético, das britadeiras, perfuratrizes, serras elétricas. E, aos gritos.

Barulho deve ter hora. Quando ele é iniciado às 6h30 e avança pelo dia até à noite, às vezes até mais das 10 horas da noite, nas ocasiões da operação de concretagem, chega-se ao auge do desespero. Na fase da desmontagem das fôrmas utilizadas na concretagem, quando as marteladas comem solta pelo dia adentro, a angústia da vizinhança se aproxima do paroxismo. O que fazer? Aparentemente nada. Sobretudo, porque não há a quem recorrer. A burocracia fiscalizatória das subprefeituras favorece quem gosta dos decibéis na estratosfera.

Mas deveria haver solução. Hoje, há técnicas avançadas para rompimento de concreto sem a utilização de britadeiras ao amanhecer ou ao anoitecer. E, além de tudo, deveriam ser levados em conta os princípios elementares da cidadania.

A empresa que constrói poderia, vez ou outra, dado o tipo de trabalho a ser feito, comunicar à vizinhança que em determinadas horas preservasse um pouco de paciência com o barulho. O aviso poderia ajudar na prevenção, de alguma forma, do aturdimento.

Li de uma empresa, no Rio, que fez isso. E a vizinhança agradeceu. Ela parou de trabalhar às 6h30. Começou a fazê-lo no horário em que os vizinhos sisudos saíam para o trabalho, as crianças para a escola e tudo entrava na rotina diária. Mas, esquentar as baterias logo depois das 6 da manhã e torpedear os ouvidos e a alma da vizinhança traumaticamente, sem trégua, durante todo o dia, todos os dias, é esquecer que o vizinho mora ao lado.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário