O II Workshop “Gestão eficaz impacta nos custos e prazos de projetos e obras” mostrou como tem sido realizada, na prática, a aplicação das novas tecnologias e a metodologia BIM. Grandes construtoras e projetistas compartilharam casos que decerto já se inscrevem como paradigma na indústria da engenharia.
A Potencial Engenharia mostrou ao público o projeto de transferência completa de unidade industrial produtora de gás da Bahia para a Amazônia. O empreendimento é da Petrobras. Roberto Luís Bernardes Rodrigues, gerente de contrato da empresa, e Emanuel Lopes, gerente executivo, destacaram todo o esforço de planejamento e transporte da unidade de Pojuca (BA) para o Polo Arara, em Coari (AM), que incluiu a desmontagem e depois a remontagem no novo sítio. A complexidade do projeto foi conhecida e dimensionada com o auxílio de Scanner Laser em 3D, isto é, com a reconstituição, peça por peça, de toda a unidade de Pojuca num ambiente virtual. O recurso teve caráter cautelar e se mostrou eficiente, antecipando possíveis interferências e reduzindo riscos. A unidade UPGN4 está em testes e entra em atividade ainda este mês (abril), ampliando a produção de gás local de 4,5 milhões de m3 para 7 milhões de m3.
Outro projeto de destaque revelado em detalhes no evento foi o da execução da nova fábrica da Suzano Celulose no País, em Imperatriz (MA), de celulose branqueada de eucalipto. Localizado à margem do rio Tocantins, o empreendimento movimentou 15 milhões de m3 de terra, consumiu 15 mil m3 de concreto e um total de 19 milhões de homens/hora de trabalho, a um custo total de US$ 2 bilhões. Marcel Westermann, diretor de gestão e construção da Pöyry, gerenciadora responsável pela obra, sublinhou a importância do planejamento e gerenciamento meticulosos, de forma a garantir a rentabilidade e a qualidade esperada do trabalho. “Não fazemos obra sem material e mão de obra. Sem engenharia e gerenciamento fazemos, mas custa mais caro e atrasa”, alertou. Outros programas de TI também foram empregados ao longo dos trabalhos.
A interligação elétrica do Madeira, a linha de transmissão de energia mais extensa da história do Brasil, com 2.375 km, confirmou a importância do gerenciamento para a correta execução. Esse trabalho coube à Sistema PRI Engenharia e foi explicado pelo diretor José Carlos Peani. Com custo total de R$ 2,2 bilhões, a linha de transmissão começa na subestação das novas usinas hidrelétricas do rio Madeira, de Santo Antônio e Jirau, no estado de Rondônia, e segue até o Sudeste, no município de Araraquara, interior paulista. À Sistema PRI Engenharia coube fiscalizar, normatizar e padronizar todas as práticas para a edificação da linha, dividida em oito trechos. Peani, da PRI Engenharia, frisou que as frentes de trabalho avançaram paralelamente e que a gestão foi decisiva para dar a continuidade necessária ao empreendimento. “Tem de ter uma sequência de trabalho. Não dá para pular uma torre e passar para outra”, justificou. A propósito, a linha de transmissão do Madeira se constituiu de 5 mil torres de energia.
Com o tema de execução do novo edifício do Museu da Imagem e do Som (MIS), em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, o engenheiro Jardel Olivatto, da Rio Verde Engenharia e Construções, mostrou os princípios construtivos e cuidados que direcionaram os trabalhos. A localização do novo empreendimento, na orla da famosa praia, entre edificações já existentes, exigiu esforço extra de monitoramento e controle. Importa não atrapalhar nem o tráfego nem os moradores do bairro, nem interferir na estrutura dos edifícios vizinhos. Olivatto destacou o uso da modelagem 3D, como recurso adequado para descobrir possíveis pontos críticos e interferências no próprio projeto (clash detection), além de possibilidades de reaproveitamento de materiais.
Marcio Alberto Cancellara, presidente da Projectus Consultoria, expôs a difícil montagem do sistema de pipe rack do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras, em área de 45 km2 em Itaboraí (RJ). O pipe rack se estende por 9 km, sua estrutura metálica pesa 39 mil t e precisou de 36 mil m3 de concreto para a execução. Uma das principais soluções empregadas no empreendimento foi a modularização da estrutura do pipe rack (estrutura metálica mais tubulação). Em sete linhas simultâneas de produção (hangares) localizadas no canteiro, o módulo era fabricado e montado e em seguida transportado por via terrestre, para ser então posicionado no lugar correto, bastando, por fim, soldá-lo no outro módulo. “Esse processo reduziu a exposição dos funcionários a riscos”, comemorou Cancellara. O sistema, responsável pela fabricação e montagem de 270 módulos no total, também trouxe ganhos de prazo e de custo.
Amanda Parro, relações-públicas de engenharia da Odebrecht, explicitou a complexidade da execução da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro, que liga Ipanema, na Zona Sul, à Barra da Tijuca, na Zona Oeste, com seis estações. O traçado segue por área densamente ocupada e uma série de medidas protetivas tiveram de ser adotadas a fim de mitigar o impacto das obras para o dia a dia da população local e preservar as edificações, muitas delas de importância histórica. A execução da linha alterna técnicas de construção de túneis, com uso ora de TBM (tatuzão), ora do sistema NATM (com explosivos), ora da técnica “cut and cover”. A conclusão da nova linha está prevista para 2016.
Tomnila Lacerda Motta, gerente de engenharia da Odebrecht no projeto executivo do Parque Olímpico da Rio 2016, informou que o empreendimento adota a modalidade de parceria público-privada (PPP), num consórcio com a Andrade Gutierrez e a Carvalho Hosken, chamado Rio Mais. O escopo do projeto inclui a infraestrutura do Parque Olímpico e da Vila dos Atletas, arenas do Centro Olímpico de Treinamento, as instalações do Media Press Center e do International Broadcast Center e de um hotel. Entre as soluções de engenharia aplicadas ao empreendimento, Tomnila citou o reaproveitamento de todo o material proveniente da demolição do antigo Autódromo de Jacarepaguá, com consequente redução do uso de recursos naturais, diminuição da ocupação do solo e menos emissão de gases e consumo de combustíveis. Alertou que a imprensa diária tem confundido os projetos sob responsabilidade da Rio Mais, que estão com o cronograma em dia, com o atraso na licitação do complexo de obras em Deodoro, a ser ainda realizado.
Guilherme Neves, da MHA Engenharia, tratou do BIM do ponto de vista da engenharia consultiva. “Ele é um projeto de colaboração”, opinou. Para Neves, significa que é menos uma tecnologia e mais um processo, diretamente relacionado à gestão de projetos. E, para implementá-lo na empresa, é preciso, primeiro, definir qual a finalidade dele. Neves ressaltou a importância de se trabalhar com BIM em real integração e sincronia com todas as áreas envolvidas no projeto. Lembrou ainda que as ferramentas de TI disponíveis no mercado necessitam de um processo de customização na própria empresa usuária, já que há uma quantidade extensa de elementos construtivos que seguem os padrões norte-americanos ou europeus — que podem não ser aplicáveis num empreendimento no Brasil.
Fonte: Revista O Empreiteiro