Crise do sistema Cantareira polariza o debate entre técnicos

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“Já era para estar deflagrada uma operação de guerra”; “As informações não podem ser sonegadas à população”; “O impacto que a falta d’água provoca na saúde pública” e “É preciso planejar agora as ações para 2030” são algumas das manifestações na mesa-redonda que reuniu profissionais da engenharia e do campo universitário

O governo paulista, por intermédio da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), tem buscado soluções de curto prazo para o colapso do sistema Cantareira, aguardando que o longo período de estiagem — o maior nos últimos 80 anos — termine logo. Mas encontrar saídas para a crise não tem sido fácil, quando se sabe que as diversas administrações estaduais, que se sucederam até aqui, não cuidaram de investir em novas obras de captação para a região metropolitana de São Paulo, como se apostassem na possibilidade de que o sistema em operação há quatro décadas pudesse suportar o aumento da demanda, durante todo o tempo.
 

Entre as várias soluções até aqui tentadas, nenhuma tem contado com a retaguarda de projetos e obras consistentes de engenharia. O governo recorre às reservas do chamado “volume morto” das represas que formam o sistema; impõe a redução do consumo e não quer ouvir falar em racionamento.

Mas não foi por falta de recursos e advertências da engenharia — e da população — que se deixou de construir obras de abastecimento de água. Haja vista que os lucros da Sabesp, em valores corrigidos, chegaram a R$ 13,7 bilhões no período 2005-2013. E ela registra patrimônio líquido de R$ 12,9 bilhões, contando com rentabilidade média de 11,86% ao ano. Portanto, poderia ter executado ou estar executando obras de maior fôlego do que a única que pretende colocar em operação a partir de 2018, o sistema produtor São Lourenço, que deverá tratar apenas 4,7 m³/s e abastecer uma população da ordem de 1,5 milhão de consumidores.

Na perspectiva de que a engenharia e a parte representativa da comunidade científica da universidade indicassem opções viabilizáveis, a revista O Empreiteiro articulou esta mesa-redonda. As opiniões, diversificadas, confluem para um leito comum: a necessidade de investimentos em obras públicas. No fundo, respondem às questões suscitadas pelas seguintes perguntas:

• Por que aconteceu o colapso do sistema Cantareira?

• O monitoramento prévio do regime dos rios e as análises meteorológicas não teriam permitido à Sabesp se antecipar ao problema?

• A explosão demográfica da região metropolitana de SP já não estaria sinalizando, há longo tempo, a necessidade de um novo Cantareira?

• Quais outras captações de água já poderiam estar sendo exploradas para prevenir situações como essa que SP está vivendo?

• Hoje, colocadas as condições que estão à vista, como esta crise pode ser superada?

 

Participam da mesa-redonda o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto, do conselho deliberativo do Instituto de Engenharia de SP; Doron Grull, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP; Antonio Carlos Zuffo, professor de Recursos Hídricos da Unicamp; Pedro Mancuso, também professor da Faculdade de Saúde Pública da USP; Roberta Baptista Rodrigues, professora do curso de engenharia da Universidade Anhembi Morumbi; engenheiro José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco); engenheiro Carlos Alberto Amaral de Oliveira Pereira, da Cobrape; e engenheiro Luciano Amadio, presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop). (Nildo Carlos Oliveira)

Fonte: Revista O Empreiteiro


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