Sob críticas, de um lado, e aplausos de outro, foi inaugurada ontem, em Belo Horizonte, a nova sede do governo mineiro. A Cidade Administrativa "Tancredo Neves", conjunto arquitetônico formado por cinco edifícios projetados por Oscar Niemeyer, aposenta a velha sede da Praça da Liberdade, de onde o então candidato à Presidência da República, falando menos para os políticos e mais para a História, havia afirmado: "O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade".
As críticas centram-se no preço da obra – R$ 1,7 bilhão; no envidraçamento do edifício principal, que tem quatro andares e vão livre de 147 m, sendo considerado o maior prédio suspenso (por tirantes) do mundo; e, dentre outros argumentos alinhavados, o vazio que a mudança de governo provocará no centro da capital, cujos imóveis, que serão desocupados pelo governo, secretarias e órgãos autárquicos, podem correr o risco da deterioração ocasionada pelo abandono.
Mas as críticas mais veementes vão mesmo para a obra do arquiteto, historicamente acusado de exigir o impossível da engenharia, sobretudo da engenharia de cálculo. E de construir edifícios que pecam pela falta de funcionalidade.
Quando ele projetou o Memorial da América Latina e, lá, um edifício com vão livre superior ao do Masp, as críticas foram semelhantes. No fundo, tinham razão de ser. No caso do vão livre do Masp, da genial Lina Bo Bardi, a concepção por si só se justificava: ele preservaria a visão para ao belvedere e para a paisagem que se descortinava para a região da Nova de Julho e adjacências. A estética do prédio se valorizaria pelo espaço coberto e pela visão propiciada pelo mirante. Já no Memorial, por que vão livre daquela dimensão se não havia justificativa plausível?
As mesmas críticas vêm à tona com a Cidade Administrativa. Nenhuma palavra sobre o que ela pode significar, daqui para diante, para a renovação urbana e crescimento da região em que está implantada. Nem de que ela amarra um ciclo arquitetônico iniciado com Pampulha, há tantos anos atrás. Dizem que outros arquitetos poderiam ter feito melhor. Talvez sim. A capacidade e a inventividade dos arquitetos brasileiros, desta e de outras gerações, não estão colocadas em xeque. O fato é que quem fez foi ele. E, ele, teve a audácia de pensar e agir como pensou e agiu, com as exigências que somente ele poderia ter cobrado para o cumprimento de seus sonhos.
Resumindo: Niemeyer, sob aplausos ou críticas, fica; a caravana passa.
Fonte: Estadão