As companhias abertas de distribuição, geração e transmissão de energia elétrica fecharam o segundo trimestre do ano com margens apertadas, lucro líquido menor e custos maiores, mas a receita líquida cresceu 6,4% mesmo com a redução das tarifas ao consumidor provocadas pela revisão periódica feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Essa revisão afetou diretamente as distribuidoras de energia, mas a receita maior mostra que o consumo continuou crescendo no segundo trimestre, amenizando o impacto tarifário. Na média, o consumo residencial, por exemplo, cresceu 5%.
Os investidores tiveram a mesma percepção e apostaram no setor em busca principalmente dos dividendos, já que boa parte das empresas distribui quase 100% do resultado e semestralmente. Na bolsa, o setor elétrico é a grande vedete num ano em que o Ibovespa tem uma perda de 13,32%. Das 20 ações com maiores altas na Bovespa até ontem, sete delas eram do setor de energia e com retornos superiores a 11%. A Companhia de Transmissão Paulista sobe quase 32%. No geral, o índice do setor teve uma alta de 3,9% no ano, até ontem.
Juntas as empresas tiveram uma receita líquida de cerca de R$ 20 bilhões neste segundo semestre, com crescimento de 6,4%, de acordo com levantamento feito pelo Valor Data com 25 empresas – já considerando as holdings que abrigam geradoras e distribuidoras sob uma mesma companhia. A Eletrobrás ficou de fora deste levantamento, pois seus resultados distorcem os números do setor.
O lucro líquido destas 25 empresas ficou em R$ 3,5 bilhões, uma queda de 3,2%. Os custos subiram 11,2% e alcançaram R$ 12,8 bilhões. Nesse consolidado, estes custos refletem diretamente o preço da energia no mercado à vista, que subiu. E esse é um fator que beneficia diretamente as geradoras. A margem líquida recuou de 19,4% para 17,6%. A dívida total líquida das companhias caiu 1,9%, para um total de R$ 34,5 bilhões.
As altas dos preços chegam em tempos diferentes nos resultados de geradoras e distribuidoras. Para as geradoras, a alta tem impacto imediato, pois elas vendem no mercado livre. A Tractebel, a maior geradora privada do país, vende quase metade de seus megawatts no mercado livre. O seu lucro líquido caiu neste segundo trimestre, mas foi um efeito contábil, já que no ano passado distribuiu juros sobre o capital próprio, que permitem um abatimento no imposto de renda. Se não fosse esse efeito, teria lucrado 10% mais. A receita líquida da empresa subiu 6%, reflexo direto da alta de 16% do preço da energia que vendeu.
Já as distribuidoras não podem repassar imediatamente a alta do preço de energia. Só depois do reajuste, feito anualmente pela Aneel. A Agência Nacional de Energia Elétrica faz dois tipos de revisão de tarifas.
Um periódico, na média de quatro em quatro anos, e que analisa uma série de fatores como o retorno sobre os investimentos, resultados, entre outras coisas. Quanto mais eficiente a empresa, essa revisão tem um percentual negativo maior, fazendo com que a tarifa caia para o consumidor. Foi o que aconteceu no ano passado e neste ano, quando começou o segundo ciclo de revisão tarifária. Ao todo cerca de 40 distribuidoras estão passando por revisão. Algumas tendo que reduzir na média as tarifas em até 12%.
“Esta revisão negativa só mostra que a companhia estava meio gorda”, diz o diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman. & ldquo;Isto significa que o acionista se apropriou deste ganho de eficiência entre o intervalo de uma revisão e outra.” Ele diz isso porque o setor é altamente regulado, já que não existe concorrência nas áreas de concessão. As taxas de remuneração das distribuidoras não podem ser superiores a 9,98% em termos reais (descontada a inflação e os impostos). E a meta é de 56,2% para a participação da dívida no capital total dessas empresas, segundo dados da Aneel.
Já o reajuste anual, que é feito nos anos em que não há revisão, leva em consideração, entre outras coisas, o IGP-M (índice de inflação) e o próprio preço de energia. Também embute os encargos do setor, como o custo de se ligar as térmicas, que é distribuído entre os consumidores. Neste ano, por exemplo, estes encargos chegaram a R$ 1,5 bilhão, contra R$ 24 milhões de todo o ano passado e vão refletir na tarifa do consumidor em determinado momento.
O melhor exemplo para mostrar os efeitos dos dois tipos de ajustes é o da AES Eletropaulo, que, como lembra o vice-presidente financeiro do Grupo AES, Alexandre Innaccu, é uma das poucas distribuidoras listadas na bolsa que não está sob o chapéu de uma holding. A empresa teve sua revisão periódica feita em julho do ano passado. As tarifas caíram em média 8,42% e tiveram impacto direto no lucro líquido da empresa, que caiu 42%. A queda também foi causada pelo encargo das linhas de transmissão, que subiram 34%. Neste ano, a empresa já teve seu reajuste anual, que vai fazer com que as tarifas subam 8%. Ou seja, praticamente anula o efeito da queda do ano passado e isto significa que a empresa vai faturar mais nos próximos trimestres.
O mesmo efeito vai acontecer na Energias do Brasil. As distribuidoras Bandeirante Energia, Enersul e Escelsa tiveram revisões negativas. Para manter o resultado, a Energias do Brasil teve que reduzir o que se chama de custos gerenciáveis, ou seja, gastos com pessoal, materiais, serviços. Estes custos caíram 16%.
O presidente da empresa, Alexandre Pita de Abreu, diz que a Bandeirante Energia e a Enersul tiveram a revisão no ano passado e neste ano terão o reajuste, o que significa que uma nova tarifa virá, o custo será repassado e as receitas tendem a melhorar.
Fonte: Estadão