Engenharia do milênio? Este é o Milênio da Engenharia

José Roberto Cardoso*

Quero dizer que este é o milênio da engenharia. O surto de desenvolvimento tecnológico que estamos observando e que observaremos nas próximas décadas não será comparável a nenhuma outra época da história da humanidade.

Por ser um país que atualmente tem sua fonte de riquezas baseada em commodities, nosso maior desenvolvimento tem se concentrado nestas áreas. As grandes empresas mineradoras, petróleo e gás e agronegócio são as áreas que mais inovaram e por esta razão assumiram um papel de liderança no cenário internacional. Precisamos de um grau de inovação semelhante na área de manufaturados, para que se consiga ocupar um espaço importante também neste setor.

Sobre a ajuda no processo de aquisição e transferência de know how com a construção de arenas esportivas, quero salientar que tal contribuição representa muito pouco para a nossa engenharia. Importar projetos elimina a criatividade da engenharia nacional. Se ao invés de comprarmos projetos tivéssemos incentivado as empresas de consultoria nacionais a encararem o desafio, com certeza faríamos algo semelhante ao que foi feito.

Quanto ao enunciado sobre normas técnicas, tenho a dizer que o processo de atualização das normas brasileiras não está conseguindo acompanhar o rápido avanço tecnológico. No entanto, o simples fato de seguirmos uma norma internacional já é um fator positivo, pois se isto não fosse feito estaríamos enfrentando sérios problemas.

Sobre a quarta questão que a revista nos coloca temos dois fatores ali embutidos. O primeiro refere-se aos desastres naturais. Para enfrentá-los precisamos ter centros eficientes de monitoramento e um preparo eficiente, sob o ponto de vista de treinamento, equipamentos e logística para minimizar os problemas causados. Nossos centros de monitoramento são poucos e os centros de defesa contra desastres naturais praticamente não existem, pois a Defesa Civil não demonstra ter recursos para o enfrentamento do problema, a não ser após o ocorrido.

Sobre a indagação – O que fazer a fim de que a engenharia brasileira se posicione com mais ousadia e assuma a responsabilidade de denunciar a situação acima descrita para não ficar como a vilã da história diante da negligência do poder público ? – enfatizo o seguinte: O surto de desenvolvimento tem levado a sociedade a utilizar profissionais de áreas técnicas que não tem a formação de engenharia a resolver problemas de competência de um engenheiro. Isto não pode acontecer. Os conselhos regionais precisam aumentar a fiscalização para minimizar este problema.

Os cursos de engenharia, por sua vez, necessitam ser mais atraentes, de modo a mostrar ao estudante a beleza da profissão, para, de inicio, reduzir a evasão, e também melhorar este índice amoral de reprovações, que só ocorre nos cursos de engenharia. Resumidamente, esta é a minha mensagem.

*José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)

Fonte: Revista O Empreiteiro

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