Neoenergia inaugurou o primeiro parque de geração associada de energia renovável do Brasil. O complexo, que une geração solar e eólica, exigiu investimentos de R$ 3,5 bilhões
Localizado no sertão da Paraíba, o Complexo Renovável Neoenergia integra a geração de energia eólica do parque Chafariz e a solar da planta Luzia. A energia gerada pelo complexo soma 0,6GW, o suficiente para abastecer 1,3 milhão de residências por ano. Os parques estão conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) pela subestação Santa Luzia II e a respectiva linha de transmissão. Segundo a empresa, a sinergia entre os ativos dos parques eólico e solar com a linha de transmissão e a subestação otimiza o uso da rede em função da complementaridade das fontes.
“O projeto representa a visão integrada que temos dos nossos negócios. Acreditamos que o caminho promissor para um futuro mais econômico e sustentável aponta para a geração de energia por fontes renováveis integradas por meio de redes inteligentes. Com o esse complexo, alcançamos 90% da capacidade instalada em energia limpa”, afirma Eduardo Capelastegui, CEO da Neoenergia.
De acordo com estudos da companhia, com a energia produzida no complexo será possível evitar a emissão de mais de 100 mil toneladas de CO2 por ano. A meta é situar as emissões na geração abaixo de 20 gramas de CO2 por kWh, visando alcançar a neutralidade em carbono em 2050, apoiando o combate às mudanças climáticas.
Em operação plena desde início de 2022 e formado por 15 parques eólicos e 136 aerogeradores, a Chafariz atua com capacidade instalada de 471,2 MW. Já as duas plantas de Luzia, com 228 mil painéis e potência instalada de 149,2 MWp, marcam a estreia da companhia na geração fotovoltaica centralizada. A empresa utiliza aerogeradores Gamesa de 3,46 MW no parque eólico e módulos Canadian de 065 MW na usina solar.
No total, o complexo renovável se estende por uma área de 8.700 hectares, dos quais 14% estão ocupados e fazem parte dos municípios de Santa Luiza, Areia de Baraúnas, São Jose de Sabugi e São Mamede, todos na Paraíba.
A conexão à rede é feita pela subestação e linha de transmissão, com extensão de 345 km. De acordo com Fúlvio Machado, diretor-executivo de Negócio de Redes da Neoenergia, a sinergia resultante das conexões permite uma gestão mais eficiente das duas fontes renováveis, a redução de custos e o melhor aproveitamento de todas as respectivas potencialidades, inclusive do sistema de transmissão.
A otimização do uso da rede elétrica é o principal benefício da geração de energia por diferentes fontes que compartilham a mesma infraestrutura de transmissão. Como a energia renovável é intermitente, dependendo da disponibilidade dos recursos naturais para a produção, nos momentos em que um deles não é suficiente, o outro pode suprir a demanda utilizando um ‘espaço ocioso’ na rede de transmissão, sem necessidade de sua expansão.
Na integração de plantas eólicas e solares, enquanto as fotovoltaicas têm o melhor desempenho no meio de dias ensolarados, os ventos mais adequados para a geração de energia normalmente acontecem à noite porque, sem o sol, há uma mudança na temperatura que provoca a movimentação do ar. Assim, ocorre uma complementaridade entre as fontes. Com isso, é possível também dar mais previsibilidade aos projetos renováveis, reduzindo a variabilidade da geração ao longo do tempo.
A diretora-executiva de Renováveis da Neoenergia, Laura Porto, que lidera os novos projetos, observa que a geração associada de diferentes matrizes energéticas é uma inovação regulatória recente no país dentro do conceito de hibridação de fontes e otimização do setor. “Essa estratégia teve o objetivo de aproveitar, de forma eficiente, os recursos dos complexos eólico e solar, valorizando a complementariedade dessas fontes com inovação tecnológica e otimização do uso da rede de transmissão. Assim, de forma combinada, o parque gerador e a linha de transmissão inauguram um novo modelo, privilegiando a integração entre os negócios com criação de valor na alocação de capital e na qualidade da operação”, destaca.
Laura Porto, engenheira de formação, com passagem pelo Ministério de Minas e Energia, onde coordenou os Programas de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e Luz para Todos, afirma que sempre acreditou no potencial dos ventos como “fonte renovável, estratégica, confiável e competitiva para contribuir com a matriz elétrica nacional”. No ano passado, a executiva recebeu o título de ‘Embaixadora do Vento’ no principal congresso de negócios da América Latina sobre energia eólica, o Brazil Windpower. Foi em reconhecimento aos mais de 20 anos de contribuições ao desenvolvimento da energia eólica no setor elétrico brasileiro.
À frente da expansão do portfólio da empresa, que está perto de triplicar a capacidade instalada em eólica e alcançar mais de 90% em energia limpa, Laura faz coro às boas perspectivas para os próximos anos no país. “O primeiro passo para o crescimento do mercado de energia eólica offshore no Brasil é a definição de um marco regulatório do novo segmento. Apenas com a definição de uma política energética que integre os benefícios criados com esse tipo de geração será possível ir adiante, de forma que dê segurança jurídica e previsibilidade para o investidor, com alocação assertiva de riscos e incentivos”, acredita.
Parte do grupo espanhol Iberdrola, a Neoenergia desde a sua fundação no Brasil, em 1997, tem focado a atuação em projetos com fontes renováveis. A companhia foi uma das primeiras a instalar parques eólicos onshore, com Rio do Fogo (RN), em operação desde 2006, e vem firmando acordos para o desenvolvimento de projetos de novas tecnologias, como a eólica offshore, se mantendo na vanguarda nacional das fontes renováveis. Em novembro do ano passado, iniciou a construção do Complexo Eólico Oitis. No total, serão 12 parques instalados, localizados entre a Bahia e o Piauí, totalizando 566,5 MW, o suficiente para abastecer uma cidade com 2,7 milhões de habitantes.
Segundo a empresa, a operação total está prevista para o segundo semestre deste ano.