A Copa de Futebol de 2014 transformou-se em uma data-marco para a infraestrutura brasileira. Todos os planos de obras que estão sendo elaborados, todas as expectativas despertadas, todos os investimentos previstos, possuem, como horizonte, aquela data.
As entidades que congregam engenheiros e arquitetos, a administração pública, a partir da Presidência da República e do Ministério dos Esportes; os governos dos Estados cujas capitais vão sediar os jogos; a Infraero e os órgãos que operam rodovias, portos e transportes públicos; a rede hoteleira e outros segmentos da iniciativa privada. Enfim, todos os que vêem em 2014 uma razão para o estímulo ao crescimento e à movimentação da economia preservam, no imaginário, um compromisso com aquele ano no calendário.
É compreensível essa concentração de esforços e de preocupações com a infraestrutura a ser montada para realizar o maior evento esportivo do mundo. Somente o segmento de transportes vai exigir investimentos possivelmente superiores a R$ 40 bilhões. E haverá aplicação maciça de recursos na reforma e construção de estádios; na modernização da rede hoteleira e em serviços de apoio, prevendo-se um impacto enorme no conjunto da economia.
Esse impacto vai incidir na área de energia, na melhoria dos equipamentos urbanos, no visual das cidades e nas atividades industriais. Os fabricantes de TV, por exemplo, têm razão para o otimismo que vêm experimentando. Se aqui no Brasil, em 2002, a venda desses aparelhos foi da ordem de 4,9 milhões de unidades, na Copa seguinte o número elevou-se para 10,8 milhões – um volume que tende a crescer ainda mais até 2014, em especial porque o Brasil será o anfitrião do evento.
Em São Paulo a previsão é de que o plano de expansão dos transportes metropolitanos absorvam cerca de R$ 20 bilhões até o ano que vem, devem ser acrescidos mais 500 km ao sistema metrô-ferrovia até 2014.
Na área da segurança pública, em todos os Estados das cidades-sedes – Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília, Fortaleza, Salvador, Recife, Natal, Cuiabá e Manaus – estratégias estão sendo montadas para garantir o luxo turístico e a integridade da multidão que convergirá, infalivelmente, para as chamadas "arenas esportivas".
Mas, apesar dessa onda toda de otimismo, alardeado e difundido sobretudo pelo governo e pela imensa rede que patrocina e mantém lá no alto a expectativa instigada em todos os setores, há um dado para o qual se deve chamar a atenção: o fantasma dos "elefantes brancos". A infraestrutura para evento dessa magnitude tem que ser planejada item a item, passo a passo, obra a obra, a fim de que frustrações posteriores não sobrevenham.
Há diversos exemplos dessas frustrações aqui e no mundo. Muitas das instalações construídas com a soma de imensos recursos públicos, para os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, correram o risco, após o evento, de ficarem entregues às moscas, porque sua destinação não recebeu, originalmente, o planejamento adequado. Em Pequim, o "Ninho de Pássaro", construído para os Jogos Olímpicos do ano passado, está sendo redimensionado, a fim de que sua ampla área útil não fique ociosa. Todos sabem: "elefantes brancos" resultam da irresponsabilidade e da falta de planejamento.
Um repórter de televisão, ao conversar recentemente com o engenheiro José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco, ponderou, ao final da entrevista: "Às vezes, mais importante do que ganhar a Copa, é saber o que o País-sede pode ganhar com a Copa".
Fonte: Estadão