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Em vez de utilizar o termo efluentes, o correto é dizer efluentes líquidos industriais, água residuária industrial ou mesmo esgoto industrial, o que ajuda a entender o alcance do assunto sob o viés ambiental, afirma o especialista André Negrão, da Haztec, empresa especializada no desenvolvimento de soluções integradas no campo ambiental. “O menor impacto ambiental se atinge mediante o controle das fontes geradoras poluidoras, na segregação dos diferentes tipos de despejos e na substituição de matérias primas de elevado impacto ambiental por outras de menor impacto (conceito aplicável principalmente com produtos/substâncias químicas e metais reconhecidamente tóxicos/carcinôgenos/mutagênicos)”, afirma ele.

Tais ações resultam em menor volume de esgotos industriais, e em maior facilidade no tratamento. É mais eficiente tratar separadamente diferentes tipos de esgotos do que misturas de diversas correntes de diferentes despejos, ou utilizar de um único processo de tratamento.

Este profissional explica que atuar nas fontes geradoras implica em abandonar antigos conceitos: por exemplo, o de atuar somente a partir do fim do tubo. “O foco até recentemente era promover o tratamento do despejo industrial de uma indústria; não interessava conhecer o processo de geração nem atuar preventivamente para reduzir o volume de esgotos nem minimizar seu potencial poluidor”.

Os parâmetros de qualidade são muitos e variam conforme a legislação de cada Estado. No âmbito federal o que há sobre a questão do lançamento de esgotos tratados em corpos hídricos é a Resolução Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) 357/2005, e para o Estado de São Pauloo Decreto 8468/1976.

De modo geral, a legislação ambiental impõe parâmetros físicos (pH, temperatura, cor, material sedimentável, material flutuante, etc); químicos (DQO – Demanda Química de Oxigênio, parâmetro que expressa a quantidade de oxigênio necessário para oxidar quimicamente um determinado composto ou substância presente na água/esgoto – tais como metais, sais,concentração de oxigênio, etc); bioquímicos (DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio, parâmetro que expressa a quantidade necessária para oxidar bioquimicamente substâncias e compostos orgânicos presentes na água/esgoto). Os parâmetros utilizados para a mensuração da carga poluidora de um esgoto são a DBO e a DQO.

Política ambientalmente correta

No Brasil, ainda são tímidas as iniciativas da indústria em avançar nessa linha de pensamento, diz o especialista. “Um projeto ambientalmente correto implica investimentos ou um padrão mínimo de tratamento de despejos e isto não é prioridade para a maioria dos representantes deste segmento”.

Entretanto, nas indústrias transnacionais este cenário é um pouco melhor, pois há pressão de suas matrizes e do mercado externo (principalmente europeu) para que elas respeitem o meio ambiente. “Mas estamos muito distantes de uma condição satisfatória e desejável para garantirmos um padrão mínimo de respeito ao meio ambiente”, complementa.

Um exemplo de sistema eficiente de tratamento desses efluentes líquidos é a fábrica da Volkswagen Taubaté-SP, tanto do ponto de vista sanitário quanto industrial, com um projeto muito bem sucedido de reuso de água. O projeto foi implantado ali em 2003, pela Haztec, e já resultou em expressivo ganho ambiental e de economia de recursos. A Vicunha do Nordeste também adotou uma solução integrada de tratamento de esgotos industrial e sanitário, com o aproveitamento de água de chuva e a prática do reuso.

Os sistemas e os equipamentos especificados para esse fim resultam da análise dos objetivos propostos com respeito à dimensão da planta, necessidade do tratamento e qualidade final requerida. Os processos de tratamento são diversos e podem ser classificados em três correntes:

Processos biológicos aeróbios – lagoas aeradas, lodos ativados, lodos ativados com aeração prolongada, filtros aerados, Membrane Bioreactor (MBR), etc – e anaeróbios – tanques sépticos, lagoas anaeróbias, reatores anaeróbios. Há ainda os processos químicos de oxidação química e processos físicos.

André Negrão esclarece que a finalidade de qualquer processo de tratamento é reduzir a carga poluidora/contaminante do esgoto bruto pelo menor custo. O nível da redução da carga poluidora/contaminante depende do padrão de qualidade visado (legislação ou água de reuso).

Os resíduos sólidos podem ser destinados para co-processamento (uma alternativa de disposição final que tem ganhado espaço nos últimos anos), aterro industrial (caso possua metais, óleo) e outros componentes que exijam este tipo de disposição), compostagem (para resíduos orgânicos passivos de serem transformados em adubo) ou aterro sanitário. Já os esgotos tratados são usualmente lançados em coleções hídricas (rios, córregos, lagos).

De modo geral, os segmentos industriais mais críticos com respeito a tratamentos dos efluentes líquidos são o químico/petroquímico – pois mais de 10 mil novos compostos químicos são criados a cada ano –; o farmacêutico e a agroindústria – devido aos defensivos agrícolas, hormônios utilizados para crescimento dos animais, e vinhaça decorrente da produção do álcool).

Para Negrão, o Brasil tem uma das legislações mais rigorosas do mundo nesse caso, inclusive em comparação com os países do Primeiro Mundo. “Uma das especialidades das instituições e governos brasileiros é traduzir a legislação internacional e implementá-la por aqui. Afinal de contas, se ela é boa para países do Primeiro Mundo por que não seria boa para o Brasil?, questiona. “Temos uma legislação atualizada. Ppor outro lado, não temos a estrutura funcional/legal para garantir seu cumprimento pleno”.

A dificuldade de aplicação das leis por parte dos órgãos ambientais, soma-se também à deficiência de parte dos laboratórios em realizar a análise de muitos dos parâmetros físico-químicos controlados pela legislação, conclui ele.

Formação profissional

Não há restrições comerciais que impeçam as empresas de utilizar as melhores tecnologias disponíveis no mundo para o tratamento de esgotos industriais. Basta que disponham de recursos financeiros e contem com profissionais qualificados.

“O problema é que o Brasil ficou mais de 20 anos sem investimento em infra-estrutura o que interrompeu, por uma geração, a formação de profissionais especializados n&at

ilde;o só em disciplinas ligadas ao saneamento básico/ambiental, mas também na defasagem da maioria dos cursos de engenharia”, diz Negrão. Por esse e outros fatores, a grande parte dos profissionais que atua no segmento ambiental está tecnologicamente defasada, enfatiza. “Dominamos praticamente todos os processos tecnológicos de tratamento de esgotos sanitários há pelo menos 30 anos, mas este ainda é a maior causa de poluição/contaminação dos nossos recursos hídricos.

Hoje há dois pesos e duas medidas: para o setor privado o rigor da lei para o público a benevolência do Estado, mesmo que em detrimento do meio ambiente e da sociedade”, conclui.

A Haztec já desenvolveu diversos projetos para empresas como Basf, Bayer, Prosint, Braskem, Volkswagen, Fafen, Sucos Del Valle, dentre outras. Um dos empreendimentos é o do Grupo Vicunha, cuja expansão no Nordeste exigiu a implantação de várias unidades fabris. Para abastecer as unidades Vicunha I e V, a Haztec-Geoplan foi contrata através da modalidade B.O.T. (Build, Operate and Transfer) para implantar um sistema de reuso de efluentes líquidos e fornecer água industrial e água abrandada a partir do tratamento dos efluentes líquidos industriais gerados da planta industrial. Foi montada uma infra-estrutura complexa que conta com uma unidade manual de intertravamento de segurança automatizada, contando com uma Estação de tratamento de efluentes com tecnologia de ultrafiltração por membranas e reuso total de água. A empresa é responsável desde o projeto, fornecimento de equipamentos e materiais, montagem, eletromecânica, obras civis, comissionamento e partida, operação e manutenção pelo prazo de 10 anos.

Nova planta de ultrafiltração da Klabin

A Klabin iniciou a operação do novo sistema de ultrafiltração que integra a Estação de Tratamento de Efluentes da Unidade Monte Alegre, localizada em Telêmaco Borba (PR), permitindo que a água que passa pelo sistema seja devolvida ao rio Tibagi com elevada qualidade. De acordo com as análises bioquímicas de oxigênio realizadas pela empresa a água devolvida pela fábrica ao rio Tibagi apresenta 1 miligrama por litro de concentração de matéria orgânica (DBO5). O teor médio de concentração de matéria orgânica do rio é de 3 miligramas por litro. A água usada também retorna mais límpida ao rio. A cor média da água do Tibagi é definida em 400 ppm PT (partículas por milhão, medida padrão de coloração). Já a usada pela Klabin fica em 200 ppm PT, ou seja, bastante mais transparente.

O próximo passo a ser dado com o sistema de ultrafiltração é realizar o reúso da água. Com isso, a Klabin reduzirá os volumes de efluentes que retornam ao rio e economizará água. Atualmente, passam pelo sistema de ultrafiltração 40% da água usada na produção. Segundo Júlio Nogueira, gerente de meio ambiente da Klabin, os volumes totais de água que retornam ao rio Tibagi apresentam níveis de qualidade superiores aos estabelecidos pela legislação ambiental do Paraná.

O sistema de ultrafiltração da unidade é a maior planta do gênero no mundo no setor industrial e o único no setor de produção integrada de papel e celulose, sendo desenvolvida pela Centroprojekt, dentro do Projeto de Expansão Klabin MA-1100. Uma das metas atingidas pela Klabin com o projeto de expansão é a redução do consumo específico de água para 30 m3 por tonelada produzida de papel.

Fonte: Estadão

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