Modelagem 3D em dispositivos móveis ainda tem função limitada

Crescimento de programas de projetostridimensionais em tablets e smartphonesdepende de vários fatores

Augusto Diniz

O AutoCAD, criado em 1982 pela empresa norte-americana Autodesk para desenvolver modelos tridimensionais, evoluiu muito desde então. Trata-se do mais popular software de desenhos e projetos do mundo, bastante utilizado na arquitetura e engenharia, e também na área de entretenimento e design de produtos diversos.

“A empresa, por 30 anos, vendeu software paradesktope depoislaptop, mas agora as pessoas estão se conectando comsmartphonesetablets. Tivemos que focar nisso também”, afirma Chris Bradshaw, vice-presidente mundial de Reputação, Consumo, Educação e Mídia e Entretenimento da Autodesk, durante evento anual da organização realizado este mês (outubro), em São Paulo.

Nos últimos anos, pelo menos 30 aplicativos para aparelhos móveis foram criados pela multinacional, o que fez saltar o número de usuários de produtos da empresa no mundo de cerca de 10 milhões para lá de 100 milhões.

O grande aliado para uso profissional de programas da Autodesk em aparelhos móveis é ocloud computing – em português, computação em nuvem, o serviço de armazenamento de dados da internet que permite acesso a arquivos a qualquer hora e lugar.

No entanto, Marcelo Landi, presidente da Autodesk Brasil, não crê que os dispositivos móveis irão substituir osdesktopsnessa área. “O que se prevê é uma maior integração entre ambas as plataformas”, expõe.

Silvio Guido, gerente da Autodesk e responsável pela área de aplicativos, relata que a empresa tem dois tipos de atuação para aparelhos móveis: consumidor final (que são os programas não técnicos, basicamente para modelagem e criações em 3D) e para o mercado (para aplicações profissionais, que permite anotação, acompanhamento de projeto 3D, colaboração e geolocalização). Os aplicativos rodam no sistema operacional IOS e Android.

No entanto, para Silvio Guido, osmartphonenão é ideal para fazer projeto: “Não é confortável”. O tamanho da tela, de fato, é um impeditivo, levando vantagem, nesse caso, entre os aparelhos móveis, otablet, mas nem tanto assim para programas de desenvolvimento de desenhos e projetos profissionais.

O problema de rede é outra questão difícil no Brasil para rodar aplicativos baseados no AutoCAD, principalmente para colaboração e troca de informação entre usuários. “Sem redeonline, perde-se a instantaneidade.” Mas o gerente faz questão de frisar que se pode trabalharofflineem campo com os programas da empresa.

“A gente tem que adequar a ferramenta para o usuário”, lembra Silvio. A afirmação é uma espécie de esclarecimento sobre os softwares que estão aí, mas é preciso que a indústria de celulares inteligentes e tablets, por exemplo, permita também possibilidade de usar esses poderosos programas nos dispositivos móveis.

BIM

O processo integrado que amplia sobremaneira a compreensão de um empreendimento, com produtividade, transparência, redução de custo e previsibilidade, caminha no Brasil ainda de forma pontual.

“O ponto crítico do Building Information Modeling (BIM) é implementá-lo em todo o processo de trabalho”, conta Dave Rhodes, vice-presidente para as Américas da Autodesk. Ele explica que o desafio do Brasil é o conhecimento e a habilidade na ferramenta, inclusive para sair do 2D para 3D.

A estratégia da empresa norte-americana no País continua em trabalhar com o governo para esclarecer a necessidade de implementação das ferramentas tecnológicas, além de atuar perto das grandes construtoras, que têm capacidade de disseminar para fornecedores e subcontratados de obras as tecnologias nesse campo.

O Exército tem liderado a introdução da metodologia BIM no governo – não à toa que outro órgão que também saiu na frente na implementação da tecnologia é o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), cuja direção-geral está nas mãos de um general, Jorge Fraxe.

O BIM no Exército está sendo implementado na gestão dos prédios militares, envolvendo contratação e elaboração de projeto, controle financeiro, manutenção e acompanhamento de obra. “Há 85 mil edificações do Exército no País”, relaciona o tenente-coronel Washington Luke, da Diretoria de Obras Militares.

Ele explica que, nas concorrências realizadas para obras e serviços para o Exército, não são todos os itens que são solicitados em BIM. “Estamos dando tempo para as empresas se adequarem”, esclarece.

O Exército tem auxiliado outros órgãos públicos a implementar a ferramenta. O Exército foi convocado em setembro para elaborar uma biblioteca BIM, chamada inicialmente de Portal BIM brasileiro, com as diretrizes e a normatização para uso da metodologia.

O tenente-coronel crê que em quatro ou cinco anos a ferramenta já esteja implementada em todo o governo federal, que colocou a questão do BIM como prioridade – pacote lançado em abril pelo Executivo, com 200 ações para nortear a política industrial, inclui a metodologia como instrumento essencial para se alcançar os objetivos.

Washington, ao lado do coronel Alexandre Fitzner do Nascimento, gerente de projetos da Diretoria de Obras Militares, relacionou as questões que ainda precisam deixar apenas ser resolvidas com relação ao BIM: legislação específica, adequação do TCU, a fiscalização, a criação de um modelo e a forma de se remunerar corretamente o uso dessa plataforma.

“O desafio primeiro, no entanto, é o entendimento do que é BIM”, afirma Washington.

Construtora

A Odebrecht fechou contrato global com a Autodesk para fornecimento de soluções de tecnologia em seus empreendimentos de infraestrutura no mundo. A área de engenharia da empresa experimenta mudanças com a utilização da metodologia BIM nas suas diversas áreas.

A medida, além de reduzir custo, fará com que a construtora tenha um apoio consultivo da empresa de tecnologia não apenas por obra ou projeto mas também no ciclo de todos os negócios da organização.

O projeto piloto da iniciativa foi implantado no Peru, onde a Odebrecht está liderando a construção de uma hidrelétrica entre os distritos de Chaglla e Chinchao. Uma equipe foi a campo mapear as necessidades daquele empreendimento e percebeu que uma das maiores oportunidades do processo de construção era ter um fluxo de informações mais eficiente com a empresa projetista e a capacitação da mão de obra local. Aproveitando a expertise da Autodesk em capacitação e certificação, a equipe formada pelas duas empresas implantou treinamentos e orientou a liderança do projeto quanto à adoção do BIM.

Fonte: Revista O Empreiteiro

Deixe um comentário