Muita coisa foi passada a limpo no encontro organizado pela revista O Empreiteiro e pela Totvs, ontem (28), em São Paulo. O tema sobre as mudanças climáticas permitiu analisar o movimento de algumas peças em um tabuleiro complicado da vida urbana. No final, a conclusão, conquanto previsível, é um grito de alerta para o poder público e para os que planejam, elaboram projetos, investem e fazem obras.
Foram vários os participantes. Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, falou do Instituto de Geotécnica daquele município, cujas vistorias têm prevenido deslizamentos de encostas, prejuízos materiais e perda de vidas humanas. Mas, chamou a atenção para a necessidade de capacitá-lo ainda mais e de transformá-lo em exemplo para a disseminação de outros órgãos do gênero, pelo País afora. Se Niterói contasse com um instituto igual àquele, é bem possível que a tragédia do Morro do Bumba não tivesse ocorrido com a dimensão catastrófica que teve.
O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos mostrou como a cidade de São Paulo foi gradativamente impermeabilizando o solo urbano e sufocando a estrutura física a partir da qual se desenvolveu. As respostas da natureza, nas últimas enchentes, estão na memória de todos. E, tanto ele, quanto o engenheiro José Carlos Vertematti, provaram que seria possível reduzir os prejuízos materiais e humanos que elas deixaram. Atropelar o planejamento urbano, transformar sítios urbanos em lixões, poluir rios e córregos, reduzindo-lhes a capacidade de vazão mínima, e não encontrar uma destinação correta para os entulhos da construção civil, é ser corresponsável com o sacrifício da cidade.
Os engenheiros Márcio Amorim e João Alberto Viol enfocaram o tema sob o viés do planejamento. E deixaram claro que as administrações públicas têm agido de modo criminoso, na medida em que deixam de fazer as tarefas para as quais foram delegadas.
No final, o grito de alerta: As obras de engenharia não devem ser feitas para afrontar a natureza. Os projetos precisam ser elaborados de modo a se adaptarem à natureza e não o inverso. Quando o inverso acontece, a resposta da natureza tarda, mas não falha.
Fonte: Estadão