Mudanças na matriz energética criam oportunidades

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Andreh Jonathas (Fortaleza-CE)

O Ceará tem oferta de gás natural (GN) maior que a demanda. Aumento do fornecimento estimula projetos de expansão

O Ceará se destaca na produção de gás natural (GN). A demanda da fonte de energia está em fase de crescimento e o governo do Estado sabe disso. Tanto que estuda um projeto de ampliação da rede de gasoduto para fornecimento de GN para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A proposta anima o setor de construção civil, que avista, com isso, novas oportunidades de geração de emprego e renda.

Há bem pouco tempo, o estado contava somente com quatro poços na praia de Paracuru e o poço de Guamaré, no Rio Grande do Norte, que chega através da linha de gasoduto chamada Nordestão. Isso começou a mudar quando a Petrobras iniciou vultosos investimentos, como o Terminal de Regaseificação no Porto do Pecém, com capacidade para processar 7 milhões m3 por dia, usados prioritariamente para atender a usinas termelétricas a serem instaladas no Complexo Industrial e Portuários do Pecém (CIPP).

Tudo isso, ainda vem acompanhado, mais recentemente, do Gasoduto da Integração Sudeste-Nordeste, o Gasene, que vai até a Bahia, onde se interliga com o Nordestão. Portanto, é mais uma fonte de fornecimento de gás para o Ceará, o que aumenta o potencial de distribuição no Estado.

“No Ceará, nós contamos com uma oferta muito grande. A demanda deve crescer, principalmente, para termoeletricidade, onde nós temos no Pecém duas usinas que estão sendo construídas e está sendo estudada uma terceira, a José de Alencar”, comenta o presidente da Companhia de Gás do Ceará (Cegás), José Rego Filho.

Para a expansão da rede de gasodutos, as construtoras aumentam o volume de trabalho e, consequentemente, de contratações.

“Na geração de emprego, temos a construção do gasoduto de distribuição. É uma oportunidade de um investimento a ser feito e as construtoras vinculadas a esse sistema se preparam e têm a oportunidade de gerar emprego”, afirma Rego Filho.

No entanto, ele explica que a expansão de gasodutos não é feita aleatoriamente, é feita para atender um determinado mercado. “Em sendo atendido o mercado, surge a oportunidade de ter nos mercados a adaptação de mão de obra para aquele segmento. Por exemplo, temos 83 postos veiculares, que você precisa de trabalhadores capacitados. Na indústria é a mesma coisa”, disse o presidente da Cegás.

Entre os profissionais que atuam em um projeto de construção de gasodutos estão engenheiros, economistas, técnicos de nível superior e médio, gestores, mestres de obra, pedreiros, encarregados, etc.

Plano quinquenal

A Cegás está desenvolvendo um plano quinquenal, que prevê a expansão anual de 10% a 15% no consumo de gás do Estado, o que leva a forte expansão da rede de gasodutos também. O objetivo é interiorizar o fornecimento para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e outras cidades no Interior. O investimento estimado é de R$ 7 milhões a R$ 10 milhões por ano, a partir já de 2010.

“Deverá haver uma interiorização para atender o segmento prioritário que é o residencial-comercial. É uma concepção de um projeto que já está sendo elaborado para 2011. No segmento veicular, não estamos com expectativa de novos clientes. A indústria não tem se manifestado com grande expansão. Mas existem dois grandes projetos do governo que é o Centro de Eventos do Ceará e o Acquario, dos quais poderemos participar, gerando eletricidade e climatizando. Estamos estudando se é compensador”, afirma o presidente da Cegás.

No início do segundo semestre deste ano, o projeto já deverá ficar pronto. “Vamos começar a fazer uma levantamento da potencialidade de alguns municípios, como Maranguape e Guaiúba, para ver se existe uma demanda que justifique o investimento”, informou.

Cegás

A Cegás é uma empresa de economia mista, tendo como acionista o Governo do Estado do Ceará, a Petrobras e a Vicunha. A Cegás atua há 15 anos. Antes dela, a atividade de distribuição de gás natural era uma competência da Petrobras no Brasil inteiro. Com a nova Constituição Federal (1988), essas atribuições passaram a ser de cada estado. O Governo do Estado delegou a Cegás por cinquenta anos.

A missão da Cegás é fazer com que o energético gás natural mais amplamente utilizado, de tal maneira que se tenha a participação e o desenvolvimento nos vários segmentos, tais como industrial, automotivo, residencial, comercial e de termeletricidade.

Em 15 anos a Cegás passou de 33 clientes para 247 e ampliou de 76 km de rede de distribuição na jurisdição do Ceará para 274 km.

Mais informações

– A malha de gás no Brasil quase dobrou de 2003 para 2010, passou de 5.451 km para 9.219 km de extensão. O Gasene aumentou a oferta de gás natural para o Nordeste, além de ter dado mais flexibilidade operacional para atendimento aos mercados térmico e não térmico da região.

– Além de regaseificar gás natural, a Petrobras também importa o produto regaseificado. De acordo com o relatório de atividades da estatal, o volume total importado foi 0,67 milhão de m3/ dia. Ano passado, foram comercializados pelas distribuidoras um volume médio de gás natural de 37 milhões de m3/dia. A Petrobras não vende gás diretamente ao mercado, ela repassa às distribuidoras estaduais, como a Cegás. São 27 distribuidoras em todo o País.

Potencial do mercado estimula especialização

A VM Construções é um bom exemplo do que vem acontecendo no Ceará. A empresa, que só atuava no ramo de construção civil, agora desenvolve atividades também na construção de gasodutos. É uma das que mais atua no setor no Estado. Além dela, a JS Construtora e a Monte Carlo também trabalham com a Cegás.

“Nós mantemos, diretamente ligada a parte de gasoduto, em torno de 40 pessoas, entre soldadores, encarregados, inspetores, montadores e ajudantes. Fora a movimentação que fazemos em equipamentos alugados e fretes, porque nós adquirimos em São Paulo e Rio de Janeiro, quando não é importado”, comenta Luiz Pereira, engenheiro da VM Construções.

Para ele, os projetos de expansão trazem a possibilidade de mais empresas se especializarem no segmento, o que expande a geração de emprego e renda. “Eu diria que, por ser uma atividade altamente especializada, dentro do estado há poucos. Para você ter uma ideia, nosso soldador ganha em média R$ 2,5 mil; é um profissional que, de seis em seis meses, tem de se requalificar para manter a qualidade de servido que requer uma tubulação de gás”, afirma Pereira.

Ele cobra mais projetos do governo do Estado para o desenvolvimento do setor. “É um mercado em ascensão, mas depende também de medidas governamentais de expansão”.

VM Construções

A VM Construções tem mais de 20 anos no mercado. Atuava anteriormente só na construção civil. A partir de 2007, começou a desenvolver um trabalho junto à Cegás, ganhando algumas licitações. A empresa possui, atualmente, quase 90% dos contratos da Cegás, por meio de contratos licitados.

“Nossa atividade abrange a parte de construção e montagem do gasoduto, tanto de polietilendo (principalmente o residencial e comercial), que é uma instalação mais econômica, até o método de lançamento através do furo direcional, que não requer vala aberta”, informa o engenheiro.

Obras incrementam geração de emprego e renda

Entrevista com o engenheiro Erasmo Pitombeira, presidente da Cearáportos, empresa que administra o Porto do Pecém

O Empreiteiro – Qual a importância das obras de ampliação do Porto do Pecém para a geração de emprego e renda, principalmente, na construção civil?

Pitombeira – As obras de ampliação, ora em andamento, no Terminal Portuário do Pecém, ganham importância na medida em que intensifica a geração de empregos diretos, com a utilização de mão de obra da própria região, e indiretos no setor de serviços como comércio, aluguel de imóveis, hotelaria, alimentação, dentre outros. Isso também favorece e reforça a geração de renda local. Para o setor da construção civil, em especial, destaca-se a importância dessas obras de grande porte e a complexidade na formação de mão-de-obra especializada na região, atuando em atividades com intenso uso de tecnologias e métodos construtivos modernos. Tudo isso embasa o desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) e serve de apoio a atração de novos investimentos como, por exemplo, a Refinaria Premium II, a Companhia Siderúrgica do Pecém, termoelétricas, áreas industriais, etc.

O Empreiteiro – Quantos empregos diretos estão sendo gerados com as obras de ampliação do Porto do Pecém?

Pitombeira – No atual estágio das obras, estão sendo gerados cerca de 850 empregos diretos.

O Empreiteiro – De onde são os trabalhadores aproveitados por essas obras?

Pitombeira – A maior parte dos trabalhadores é proveniente da própria cidade onde o porto está instalado, São Gonçalo do Amarante, e cidades vizinhas como Caucaia e Fortaleza. Existem também trabalhadores vindos do interior do Estado e de outros pontos do Nordeste, como Pernambuco e Bahia.

O Empreiteiro – Quais as funções desempenhadas pelos profissionais da construção civil nos projetos do porto?

Pitombeira – Existem diversas funções relacionadas às atividades desenvolvidas, como topógrafos, mergulhadores, soldadores, engenheiros de produção, engenheiros civis, engenheiros mecânicos, engenheiros de segurança do trabalho.

(AJ-Fortaleza)

Fonte: Estadão


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