O País, neste início de ano e avanço do verão, retoma a rotina: de um lado, o ufanismo, a partir dos indicadores econômicos, que podem elevá-lo à sexta economia do mundo, superando o Reino Unido e, de outro, a realidade que a população vê, vive e sente: o descalabro dos serviços públicos e as denúncias de privilégios, desvios de dinheiro público e tentativas de acobertamento da corrupção e corruptos.
A realidade palpável elimina a necessidade de pesquisas para obtenção de dados comprobatórios. Sob o argumento de que as chuvas foram intensas demais, diversos aeroportos ficaram superlotados e, os passageiros, entregues à própria sorte. Basta conferir a situação do Santos Dumont e do Tom Jobim. Em outros, nas capitais por onde a possibilidade de chuva passou ao largo, a infraestrutura de serviços se revelou capenga. O simples serviço de desembaraço de bagagens nas esteiras denotou insuficiência, com prejuízos de tempo e desgaste de paciência dos passageiros.
E, as estradas? Entupidas e perigosas. Em São Paulo, algumas das principais vias para o litoral sul ou norte a condição foi de descontrole. E, naquelas, de responsabilidade das concessionárias, na rota para o interior, constatou-se situação anômala: poucos guichês abertos em praças de pedágio, enquanto filas de carros se encompridavam, com famílias à espera, sob sol forte. Um exemplo? – O percurso SP-Ribeirão Preto, logo depois do Natal. Diante de protestos, um funcionário do guichê se apressou a entregar um papel, com o telefone da central de atendimento, pedindo: “Reclamações é lá com eles”.
Com a chegada das chuvas observa-se que tragédias anteriores provocadas pelas enchentes não sensibilizaram em nada administrações públicas pelo País afora. Municípios, duramente afetados pelas águas em outros verões, continuam expostos à possibilidade de novas tragédias. O dinheiro, canalizado para reconstruir ruas, casas, escolas, postos de saúde, estradas vicinais, pontes e viadutos, sequer chegou a ser aplicado em obras com esse fim. As novas chuvas revelam a incúria de administrações, que deixaram a realidade ficar como estava para ver como é que fica. Apesar disso, algumas autoridades colocam o ufanismo, inflado pela notícia de que o Brasil poderá ser a sexta potência do mundo, como uma viseira nos olhos, para não enxergar a realidade que está diante do seu nariz.
Mário Gruber
O artista plástico universal Mário Gruber, morto numa clínica geriátrica em Cotia (SP) aos 84 anos, deixa um acervo de obras que deverá ser impermeável à ação do tempo. Criou um mundo de beleza incomparável na gravura, na pintura e no muralismo. Quem sabe, agora, o conjunto de sua obra será melhor divulgado.
Texto:Nildo Carlos Oliveira
Fonte: Padrão