As imagens se repetem: há chuvas nas cabeceiras, os rios engordam e vão ganhando força na medida em que os afluentes, também caudalosos, aumentam o volume d´água, que extravasa do leito. As correntezas vão carregando árvores, casas, pontes, viadutos, animais e pessoas surpreendidas no meio do caminho.
As chuvas preparam o terreno para os deslizamentos. E, quando eles acontecem, casas e famílias ficam soterradas. Populações de cidades de Minas, Rio, Santa Catarina e de outros estados têm que se superar, sem o apoio do poder público, para conviver com os problemas das inundações e dos deslizamentos.
O dramático dessa história, que acontece todos os anos na mesma época, é que tudo é previsível. E, apesar da previsibilidade, nada é feito, na expectativa de que a tragédia de hoje seja esquecida amanhã, até que se fale da previsão da tragédia futura, que também entrará para a rotina dos esquecimentos. As administrações apostam na falta da memória da população, para continuar a ludibria-las.
Mas há outros componentes graves nessa história. Leio, por exemplo, que o governo federal deixou de aplicar, no ano passado, por intermédio dos ministérios da Integração Nacional e das Cidades, perto de R$ 530 milhões para obras de prevenção de enchentes, desabamentos e deslizamentos. A importância é considerável e poderia ter evitado uma somatória imensa de desastres que provocaram elevados prejuízos materiais e irreparáveis perdas humanas
Leio, também, que de um volume de R$ 124,2 milhões destinados a obras de macrodrenagemn, apenas R$ 13,5 milhões foram reservados no orçamento para esse fim. O paradoxal disso tudo é que a mesma história, repetida todos os anos, costuma reservar um final feliz para os responsáveis por esses crimes de omissão.
Texto:Nildo Carlos Oliveira
Fonte: Padrão