Pontes sobre o abismo

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"É preciso aprender a erguer pontes sobre o abismo" é o título da análise de Roger Cohen, comentarista do The New York Times, a respeito da mediação do Brasil e da Turquia junto ao Irã, para limitar-lhe o estoque de urânio a ser enriquecido nas centrífugas de Natanz, fragilizando-lhe a possibilidade de fabricar futuramente armas nucleares.

O comentário, publicado no suplemento daquele jornal, na FSP de hoje, reconhece que o acordo suscita a necessidade de prudência, "diante da antiga duplicidade e da intransigência iranianas". Mas ele vê, no ceticismo manifestado pelo Ocidente, sobretudo na posição dos Estados Unidos, algo como um "desprezo mal disfarçado" em relação aos esforços do presidente Lula da Silva e do premiê turco Recep Tayyip Erdogan.

Cohen considera que colocadas as coisas nessa pé, o presidente norte-americano, Barack Obama, enfrenta uma decisão muito delicada. Se, de um lado, se revela favorável a uma reaproximação com o Irã, de outro, há forças muito fortes trabalhando contra isso, sob o argumento de que somente sanções rígidas poderão neutralizer as intenções iranianas em relação a seus objetivos com o enriquecimento do urânio.

Ponderadas as posições de lá e de cá, cabe destaque à inteligência embutida no comentário. Suponhamos que eventuais sanções acabem falhando. O que acontecerá depois? Para se evitar a incógnita maior não seria mais razoável entender que o acordo possivelmente venha a valer a pena?

Cohen diz, textualmente: "Para mim soa como Brasil e Turquia unindo-se para ajudar o Irã e os Estados Unidos a superar o abismo que os separa." A considerar esse raciocínio, é mais produtivo, para as partes interessadas – e para o mundo – construir pontes sobre o abismo, do que condenar, previamente, o engenhoso projeto que poderá levar a essa possibilidade.

Fonte: Estadão


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