Luiz Aubert Neto*
Certamente muitos dirão que isso ocorre porque o Brasil é um país continental, tropical, de terras férteis e, portanto, comtalentopara a agricultura. Outros dirão que o alto preço internacional das commodities contribui para a competitividade do agronegócio brasileiro. Mas será que é só isso?
É claro que esses fatores contribuem, mas o fato é que existe, efetivamente, uma Política Agrícola que empurra o agronegócio brasileiro, o que está mais do que correto.
O Plano Safra 2013/14, anunciado em junho, é uma clara demonstração de que é possível fazer políticas que possam resultar no aumento de competitividade dos diversos setores da economia.
E as vantagens comparativas são muitas em relação aos demais setores da economia. O volume de recursos para o financiamento rural cresceu 18% e saltou paraR$ 136 bilhões.
Esses são os fatores que fazem, acertadamente, a agricultura brasileira uma das mais competitivas e produtivas do mundo, fazendo com que os resultados desta política permeiem sobre as demais cadeias do agronegócio, com geração de mais empregos e renda.
Enquanto isso, em uma realidade totalmente adversa, a indústria nacional de transformação, que agrega valor e gera desenvolvimento tecnológico, é obrigada a conviver com o “tripé do mal”(câmbio, tributos e juros)- custo Brasil que torna os produtos brasileiros cerca de 40% mais caros que os produzidos na Alemanha e E.U.A (isso sem comparar com a China, onde a diferença é brutal); câmbio totalmente desfavorável ao processo produtivo; alto custo do crédito e escassez em linhas de financiamentos de longo prazo, uma combinação perniciosa que tira toda a competitividade da indústria nacional.
A seu favor, a indústria tem apenas o PSI-FINAME, com taxa de 3,5% ao ano e até 10 anos para pagar(porém, metade das empresas não pode usufruir deste incentivo por não possuir CND – Certidão Negativa de Débito – todos impostos em dia). Não fosse isso, a indústria estaria em situação ainda mais grave. Reconhecemos que outras medidas foram implementadas, como a desoneração da folha, o crédito imediato da PIS/COFINS e a redução do IPI, contudo são incapazes de reverter a atual estagnação da indústria de transformação.
Mas ainda é possível reverter esse quadro, com políticas que ataquem as questões estruturais. É preciso construir uma política industrial voltada à ampliação dos investimentos em infraestrutura para impulsionar a produtividade da indústria. Do contrário, a taxa de investimento (FBCF) continuará em torno dos inexpressivos 18% do PIB. Para se ter uma ideia, o mundo investe, em média, 23% do PIB. Ou seja, o Brasil continuará a patinar no que se refere ao desenvolvimento, geração de emprego e riquezas.
Onde uma Embraer(será que existe atividade mais complexa do que produzir avião?!)e a agricultura dão certo, por que não podemos ter uma indústria de transformação forte e competitiva?
O que não podemos é, por exemplo, ser um dos maiores produtores de café do mundo e, ao mesmo tempo, ver a Alemanha, que não possui um pé de café, ser a maior exportadora de café industrializado do planeta.
Caminhos existem, desde que haja vontade política e, consequentemente, uma Política Industrial bem estruturada.
*Luiz Aubert Neto é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq)
Fonte: Revista O Empreiteiro