Reflexões de JK sobre o crescimento brasileiro

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São muitos os administradores públicos que tentam se comparar a ele. Há até, na ausência de pontos convergentes na política e no pensamento a respeito da finalidade e das prioridades de realizações do Estado, aqueles que buscam ver entre o presidente Lula da Silva e o ex-presidente JK, ao menos algumas semelhanças reais ou imaginárias. Chegam a recorrer à questão da origem: ambos nasceram pobres. Lula migrou do Nordeste com a mãe e sete irmãos num pau-de-arara, de Pernambuco para São Paulo; JK, nascido em Diamantina (MG), filho de um caixeiro-viajante, andou descalço num período da infância, porque não tinha como comprar sapatos.

No campo do planejamento, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, notou identidades no Plano Plurianual de Investimentos em relação ao Plano de Metas com o qual JK pretendia fazer em cinco anos, o que poderia ser feito em 50. Além dessas supostas semelhanças, não foi no ABC, território do sindicalista Lula da Silva, que JK deu a partida ao desenvolvimento da indústria automotiva?

É por essas e outras nuanças, que o atual presidente do Brasil comparou a sua administração com a do governo JK, sobretudo nos anos finais da década de 1950 – os “anos dourados” do desenvolvimento brasileiro. À época, o Brasil crescia a taxas superiores a 7% ao ano, num regime em que a inflação, girando em cerca de 12%, subiu para 35% e fechou aquele período com cerca de 25,4%.

Lula diz que tem a sorte de ver o Brasil crescer com a inflação sob controle, diferente, portanto, do que ocorreu no governo JK. Seu otimismo, no entanto, não pode ser puxado pelo exagero. O desempenho do PIB, superior a 5% no ano passado, tem provocado debates sobre a sua possível sustentabilidade. E, no final de junho último, o Banco Central elevou a projeção de inflação de 2008, que é de 4,6%, para 6%. Este é um indicativo de que ela está sob controle, mas não imobilizada. E tem sido mantida sob controle a custa de muito sacrifício da população, que arca com uma carga tributária próxima de 38%.

O outro lado da moeda é que nos tempos do “Peixe Vivo” o Brasil atravessava uma fase pioneira, de transformação política e social. Buscava-se industrializar o País, construir cidades, estradas, hidrelétricas, açudes, expandir a infra-estrutura deixada por Getúlio Vargas. E tinha planejamento de longo prazo – o Plano de Metas – elaborado pelo economista Celso Furtado – segundo um horizonte de 50 anos à frente daquela época.

JK, no entanto, foi vítima de dois sacrifícios extremos: a morte política prematura, sugerida pelo general Costa e Silva e decretada pelo marechal Castello Branco no dia 8 de junho de 1964, e a morte física, ocorrida no dia 22 de agosto de 1976, num episódio nebuloso, supostamente atribuído a um plano conjunto de ditaduras militares do continente sul-americano, a “Operação Condor”.

Sobre o Brasil e o destino político e econômico de seu povo – para um contraponto do que hoje se espera e se está fazendo do potencial do crescimento brasileiro – vão aqui algumas reflexões de JK, montadas a partir de seus pronunciamentos e das análises e informações de seu biógrafo, o escritor Cláudio Bojunga, seu amigo e colaborador de todas as horas, o escritor José Montello, jornalistas que o entrevistaram e a própria vivência do autor desta matéria.

Fonte: Estadão


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