Segmento habitacional comemora a atual fase de crescimento

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A construção civil e o mercado imobiliário comemoram a atual fase de crescimento no país. Setor sensível às nuances da economia, a construção civil apresentou um PIB da ordem de 7,9% e projeta fechar 2008 com 10,2%, acima do PIB nacional, segundo João Claudio Robusti, presidente do Sinduscon paulista, para quem o “crescimento é real, até porque já está contratado”.

“O mercado imobiliário que alavancou o crescimento no ano passado continua aquecido e nós acreditamos no equilíbrio”, diz Robusti. Presidente do Secovi-SP, João Batista Crestana assevera que “o mercado imobiliário nacional caminha, finalmente, para o crescimento sustentado”, embora observe que “o momento atual não é boom imobiliário, pois os empreendedores ainda não operam no limite de sua capacidade produtiva e de comercialização”. Para ele, ainda falta muito para que este processo de retomada iniciado em 2006 dê lugar à produção em escala verificada na década de 1980.

Também o consórcio imobiliário surfa nesta onda de crescimento, conforme contabiliza a Associação Brasileira de Administradores de Consórcio (Abac), registrando o aumento recorde de 15,4% do número de participantes, no primeiro quadrimestre deste ano, comparado com igual período de 2007. É o número mais alto desde 1990. “O segmento de imóveis tem-se mostrado atrativo ao mercado. Quando lembramos que consórcio é mais do que uma compra a vista, é uma poupança planejada para aquisição de um bem ou formação de patrimônio, entendemos a razão da evolução e do recorde”, diz Rodolfo Montosa, presidente da entidade. Nos quatro primeiros meses do ano 484 mil adquirentes pagaram suas cotas, a grande maioria referente a compra de imóveis residenciais novos, na faixa de R$ 70 mil.

Economia

“A economia nacional está relativamente aquecida, mas a tendência é desacelerar até o final do ano e começo do ano que vem”, diz o professor Paulo Gala, da FGV, explicando que este movimento deve acontecer por conta do aumento de juros e também porque a economia estadunidense apresenta crescimento reduzido. Ele calcula o crescimento do PIB este ano em torno de 4,5% e projeta menos de 4% para o próximo ano.

Diferente de muitos economistas, o professor não se julga muito pessimista com a inflação brasileira “porque é uma das menores do mundo” e exemplifica com a Índia, que apresenta taxa anual de 12% e a China que trabalha com cerca de 8%. “A realidade é que o Brasil está conseguindo manter uma das menores taxas de inflação quando comparada a outros países. Sem dúvida aumentou em relação ao ano passado, mas acho que ainda não tão preocupante”, acredita.

Particularizando, o professor Gala salienta que a construção civil é um setor à parte na medida em que cresce mais que o PIB nacional, sem esquecer que os preços estão aumentando mais que a meta para a inflação brasileira. “A inflação desse setor está subindo mais que a média”, informa.

“O setor privado está sustentando o crescimento, não o governo. Se observarmos, o que está aumentando mais é o consumo e o investimento. Aliás, a melhor noticia da economia brasileira é que fazia tempo que não se via o investimento aumentar tanto, especialmente no setor da construção civil que é um dos mais importantes. Quando a economia cresce o governo acaba arrecadando mais porque a base de tributação dele aumenta, o que acaba facilitando o aumento da arrecadação. Mas, a parcela desses recursos destinada a investimentos é muito pequena. Está indo para pagar a divida publica ou para pagar problemas sociais”, diz Paulo Gala.

Alta carga tributária, juros elevados e inflação podem comprometer o nível de atividade. Mas, o que mais preocupa o professor são os juros, até porque este crescimento da construção civil tem a ver com a queda substancial da taxa de juros nos últimos três anos e com o alongamento dos prazos de financiamento. O professor entende que a maior ameaça ao bom desempenho do setor é o risco de uma forte elevação da taxa de juros por conta do descontrole da inflação. “No caso, não vai comprometer os resultados deste ano, mas a partir do ano que vem e do próximo vai influir”, calcula. Ele acredita que a construção civil é mais afetada pela taxa de juros do que por outros fatores.

Gala explica que o crédito cresce a uma taxa de 20% ao ano e, neste ambiente, o Banco Central aumenta a taxa de juros para inibir aumento do crédito, utilizando importante canal para tentar desacelerar o crescimento. Conforme o professor, a outra maneira de frear o crédito é adotar medidas restritivas, como aumentar o imposto sobre operações financeiras (IOF), conforme aconteceu no início do ano.

“É importante dizer que esta situação da subida da inflação no Brasil está relacionada com um choque de preços que veio lá de fora, porque o preço das commodities – principalmente as metálicas – está no maior nível dos últimos 50 anos. E esse aumento pega a economia brasileira numa situação de relativo crescimento, isto é, fazia muito tempo que o Brasil não crescia tanto durante tantos trimestres consecutivos. A demanda interna também está aquecida. Quando se soma o aumento das commodities lá fora, mais uma demanda interna aquecida, isso resulta obviamente em aumento de preços. É uma situação um pouco complicada do ponto de vista de inflação que a gente tem hoje”, ensina o professor da FGV. Ele acredita que este ano deve ser o pico do crescimento da construção civil e, sem retornar aos níveis de 2004 e 2005, vai desacelerar.

João Cláudio Robusti entende que a inflação precisa ser controlada com aumento da atividade produtiva, com investimento na produção para equilibrar oferta e procura. Há necessidade de o governo estimular a economia real. “O aumento da taxa de juros não pode ser o único instrumento para conter a alta da inflação”, diz o presidente do Sinduscon paulista. “Não é matando a demanda”, sintetiza.

Crédito

A expansão do crédito é importante lastro desse crescimento. “A flexibilização do crédito, a ampliação dos prazos, o aumento do valor de financiamento em relação ao valor dos imóveis e a redução dos juros foram fundamentais para que os volumes contratados chegassem aos níveis atuais, superando R$ 22 bilhões nos doze meses, até maio”, diz Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). A entidade contabilizou créditos de R$ 2,2 bilhões em maio para a compra de imóveis e atingiu R$ 9,744 bilhões nestes cinco primeiros meses
do ano, volume 75,9% superior em relação ao mesmo período do ano passado, superando em 4,3% o total contratado em 2006.

Entretanto, conforme a Abecip, o volume de crédito imobiliário no Brasil, nas duas últimas décadas, ficou muito aquém das necessidades do país. Em conseqüência, como os contratos antigos foram sendo encerrados, a relação com o PIB é muito baixa. Considerando operações contratadas com recursos das contas de poupança e do FGTS, a relação crédito imobiliário com o PIB está em torno de 5%. No Chile e México, por exemplo, a relação está em torno de 17% e 13%, respectivamente.

França vai além: “O mercado imobiliário, atualmente, conta com recursos abundantes, para atender as famílias que têm capacidade de tomar crédito. No entanto, o país tem um déficit expressivo cuja concentração está entre as famílias com renda de até 3 salários mínimos que não têm condições de acesso ao crédito. Assim, é importante que se encontrem alternativas que viabilizem o acesso da moradia a esse grupo da população”.

Segundo o Banco Central, o montante destinado ao crédito imobiliário em 2006 foi 85,5% maior que em 2005 e o número de unidades financiadas, 71,3% maior. Da caderneta de poupança, em 2006, para financiar 111 296 unidades, foram liberados R$ 9,2 bilhões (47,3% para a construção e 52,7% para aquisição de moradias prontas).

Fonte: Estadão


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