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Em 1970, sete engenheiros que trabalharam na construção da hidrelétrica Estreito resolveram se unir para criar uma empresa destinada a atuar como corpo técnico das construtoras, principalmente em obras ligadas à implantação de usinas. A iniciativa já continha o aspecto inovador que seria a marca da Logos Engenharia, empresa que acabou enveredando pelo caminho do gerenciamento de projetos, atividade a princípio voltada para clientes do setor público. Passados 36 anos, a empresa tem em seu portfólio praticamente todos os grandes empreendimentos brasileiros construídos nesse período, como a hidrelétrica Itaipu, a usina termonuclear Angra I, a implantação do Complexo de Carajás para a Companhia Vale do Rio Doce, o projeto de saneamento Tietê I e II, e o Rodoanel Mário Covas, entre outros. Nesse período, viu sua carteira de clientes migrar da iniciativa privada para órgãos governamentais e depois retornar para o setor privado, situação que se mantém atualmente. Além disso, precisou se reinventar, procurando um parceiro internacional – o Grupo Arcadis, que detém 50 % do seu capital – para manter-se entre as principais empresas de gerenciamento no período pós-privatizações, quando grupos estrangeiros passaram a atuar no País. A Logos ocupou o quarto lugar no ranking de Projetos & Consultoria, publicado pela revista O Empreiteiro na edição especial “500 Grandes da Construção”, com faturamento de R$ 91,76 milhões em 2005, subindo cinco posições em relação ao ranking anterior. Aliás, seu faturamento tem crescido expressivamente. Em 2004, ficou na casa dos R$ 60 milhões, esse ano caminha para atingir R$ 135 milhões e a expectativa para 2007 é atingir quase R$ 200 milhões. “O objetivo é manter nossa posição no mercado. Queremos consolidar nossa estratégia para crescer e continuar fazendo um bom trabalho. Para isso, estamos investindo em treinamento de pessoal, até com aporte de tecnologias sofisticadas”, conta Carlos Augusto Blois Pera, diretor-presidente da Logos Engenharia. A empresa não se pauta por uma atuação comercial agressiva, mas no marketing do “bom trabalho”. A estratégia tem se mostrado acertada, porque praticamente todos os clientes voltam a contratar a empresa. A seu favor, a Logos tem ainda o fato dos principais setores onde atua viverem um bom momento. É o caso das áreas de energia, mineração e metalurgia, papel e celulose. “Estão investindo mais em energia. O setor está mais bem regulamentado. A sensação é que o setor está evoluindo, com resultado positivo no futuro. Em relação à mineração, estamos vivendo a fase de pico dos investimentos, mas acreditamos que o setor continuará aquecido pelos próximos cinco anos. Poderá haver uma queda na área de minério de ferro, mas o setor de não ferrosos (níquel, cobre e zinco) deve receber mais investimentos. A área de papel e celulose também tende a permanecer aquecida. O mercado mundial é muito volátil, mas tem mantido uma vertente de crescimento”, acredita Blois. Já o segmento de saneamento é um assunto à parte. “O futuro do saneamento está nas PPPs. É difícil privatizar as empresas de saneamento, como mostra a experiência no mundo. Os órgãos públicos sempre precisam ajudar na execução dos empreendimentos porque o custo de implantação não é viabilizado apenas pela receita obtida. É uma situação similar à vivida pelo transporte de massa”, diz Blois. Na opinião do executivo a privatização ocorrida em vários setores foi positiva para a área de gerenciamento, mercado que surgiu com mais força há cerca de 20 anos. A iniciativa privada não costumava contratar o gerenciamento como serviço de consultoria independente. A empresa responsável pela elaboração dos projetos acabava ajudando a empresa na hora de implantá-lo. Mas as empresas da área de mineração, siderurgia e energia, ainda públicas, utilizavam esse serviço e acabaram mantendo o padrão quando foram privatizadas. Iniciativa privada e poder público são clientes bem diferentes. As obras públicas sofrem com influências variadas, como mudança de governantes e restrições na liberação de verbas orçamentárias, tornando mais longos os períodos de implantação. Os projetos da iniciativa privada normalmente já nascem com a equação financeira resolvida e têm menor duração. Justamente por isso, o custo do gerenciamento para a iniciativa privada acaba sendo menor. O valor da prestação desse serviço geralmente compreende um percentual do valor do projeto, mas também está atrelado ao tempo de duração. Dividir para multiplicar Em meados dos anos 1990 ocorreu uma queda nos investimentos, motivada pelo iminente Programa de Privatizações anunciado pelo governo. A empresa sofreu com a redução de receitas, mas vislumbrou que o mercado se abriria para as empresas estrangeiras e sua posição no mercado de gerenciamento seria ameaçada. “Não sobreviveríamos se não nos associássemos a uma empresa internacional. Foi nessa época que começamos a buscar esse parceiro, que nos abrisse os horizontes”, lembra Blois. Encontrar o parceiro ideal para esse casamento não foi fácil. “Conversamos com grandes empresas do mercado mundial, mas sempre tínhamos a sensação de que seriamos engolidos”, comenta o executivo. Mas o parceiro ideal surgiu no fim de 1999: o Grupo Arcadis, de capital holandês. Apesar de ser também de grande porte – faturamento acima de 1 bilhão de euros anuais – sua forma de atuar era diferente. O Grupo Arcadis é uma rede de empresas, com gestões independentes, espalhadas pelo mundo e norteadas por uma estratégia comum a todas. A corporação propõe metas e direcionamentos em consenso com as empresas operacionais. Essa rede é formada por mais de 60 empresas de engenharia, como projetistas e gerenciadoras, atuando nos mais diversos segmentos, capazes de fornecer para o grupo uma grande diversificação de metodologias e processos. “Seguimos o conceito de dividir para multiplicar. Se não vendêssemos os 50 % da empresa para o Grupo Arcadis, em cinco anos teríamos o mesmo tamanho ou seríamos até menores”, acredita Blois. A mudança contribuiu ainda para a modernização da gestão interna da empresa e trouxe suporte para que a Logos crescesse. Embora isso não signifique a injeção de recursos na empresa brasileira, deu uma nova dimensão à empresa. Dessa parceria resultaram novos negócios: o grupo passou a adquirir outras empresas por meio da Logos. É o caso da Enerconsult, adquirida em 2000, quando a Logos percebeu que faltaria energia elétrica no País. Como a Arcadis possui grande expertise na área ambiental – está entre as maiores no mercado norte-americano – outras aquisições foram feitas neste segmento: a Hidro Ambiente, que já atuava na &aacu

te;rea de remediações; e a Tetraplan, voltada para a área de avaliação ambiental estratégica. “Meio ambiente é a grande atividade do futuro”, diz Blois. A quinta empresa dessa parceria é a Arcadis Logos Energia, criada para desenvolver negócios no setor elétrico, participando como acionista. É o caso da Biogás, que aproveita o gás metano do aterro Bandeirantes, em São Paulo, para gerar energia. “Esse é um dos primeiros grandes projetos brasileiros que se beneficia de créditos de carbono e já está em fase final de certificação na ONU. A metade dos créditos obtidos será repassada para a prefeitura de São Paulo, por ter feito a concessão do aterro”, comenta o executivo. Os créditos de carbono desse projeto devem ser adquiridos pelo banco alemão KFW. e comercializados na Europa. O Grupo Arcadis Logos no Brasil planeja para 2007 um faturamento de R$ 280 milhões.
Fonte: Estadão


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