Uma trajetória de 177 anos, do pioneirismo à modernidade

No começo, um arado produzido em Grand Detour, Illinois. Depois, o ferreiro John Deere transfere seus negócios para Moline, a fim de aproveitar a força hidráulica das águas do Mississipi. Hoje, a global John Deere fabrica máquinas para agricultura, construção e outros segmentos, com faturamento, em 2013, de US$ 38 bilhões. Uma saga do pioneirismo norte-americano Nildo Carlos Oliveira – Moline (EUA)

Teoricamente essa história de pioneirismo, iniciada em 1837, pode ser contada a partir de Chicago. Ou a partir de uma das três cidades brasileiras – Montenegro (RS), Indaiatuba (SP) e Catalão (GO) – onde a empresa possui instalações fabris. Da mesma forma, pode ser iniciada em qualquer um dos 17 países, dentre eles Rússia, China ou Índia, onde ela tem 64 fábricas. Mas, decidimos começá-la indo ao hábitat natural que ajudou a forjar e a temperar o aço do fundador.

Michael Mack, presidente global da divisão de construção e florestal; Samuel Allen, CEO global, e Domenic Ruccolo, vice-presidente de venda e marketing, daquela divisão, receberam um grupo de jornalistas, entre eles o jornalista e consultor da revista O Empreiteiro, no centro administrativo da empresa em Moline. É um complexo de quatro edificações horizontais construídas com estruturas metálicas de grande porte.

Resultado de um projeto concebido pelo arquiteto finlandês Eero Sarinen, que faleceu antes de vê-lo construído, a sede da John Deere, inaugurada em 1964, atrai pela dimensão, interação vidros-peças metálicas (aço Corten), pé-direito elevado, paisagismo que integra os espaços internos aos externos e o rico acervo de obras de arte (pinturas e esculturas), mantido nos amplos ambientes do edifício histórico. É nesse complexo arejado, durante todo o dia favorecido pela iluminação zenital, que a empresa tem acolhido representações empresariais e homens públicos do país, a exemplo do que já fez com Dwight David “Ike” Eisenhower e Jimmy Carter.

“Quem chega a esta cidade de 65 mil habitantes, à beira do grande rio”, diz Michael Mack, “certamente ouve falar de nossa história e de nossos valores já a partir de Chicago”. Constato que não somente a partir de Chicago. Em outras cidades do meio oeste já ouvira falar da empresa, mas certamente não com aquele nível de identidade local, como em Moline.

A saga começou em 1837, depois que o fundador criou um arado de aço polido em sua ferraria de Grand Detour.

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O equipamento fez tanto sucesso, que 10 ou 11 anos depois ele precisou montar uma fábrica em Moline, às margens do Mississipi, a fim de explorar a força hidráulica do rio tanto em favor das instalações, para aumentar a produção, quanto para transportar os produtos a outras regiões do país.

Quando o fundador morreu em 1886, aos 82 anos, seu nome já ultrapassava as divisas dos estados do país e chegava a outras regiões do mundo. Os herdeiros se sucederam, segundo os valores de qualidade e de responsabilidade para com os clientes. Foi assim que a empresa suportou a crise provocada pela grande depressão de 1932. E, no ano seguinte, com os negócios virtualmente paralisados, pois as vendas de máquinas caíram para US$ 8,7 milhões, ela resolve sustentar as dívidas dos agricultores pelo tempo que fosse necessário. Ainda em 1934, e apesar da continuidade da depressão, continuou a desenvolver seus produtos e a buscar inovações.

Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos são impelidos a participar do conflito. Um dos herdeiros, Charles Deere Wiman, assume o posto de coronel do Exército, sendo sucedido na presidência da empresa por Burton Peed. Cerca de 4.500 funcionários são incorporados ao exército, alguns no chamado Batalhão John Deere, um grupo de artilharia especializada que serviu na Europa.

Em 1945, a então criada John Deere Dubuque Works fabrica o trator modelo M, mais tarde colocado no mercado como trator de esteira e, em seguida, como retroescavadeira, inaugurando o ingresso da empresa no mercado de equipamentos para construção.

Em 1955, William A. Hewitt é eleito presidente e, mais tarde, após a morte de Charles Deere Wiman, seu sogro, torna-se diretor-executivo (CEO). Ele dirige a empresa pelos próximo 27 anos, sendo o último representante da família Deere à frente do conglomerado.

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Foi dele a decisão de que o centro administrativo da empresa deveria permanecer em Moline, Illinois, com um pormenor: escolheu o arquiteto finlandês Eero Saarinen para projetar o novo centro administrativo. Como Saarinen faleceu quatro dias depois de haver assinado o contrato para a construção, coube ao arquiteto Kevin Roche a tarefa de iniciá-la e concluí-la. Mas todo o conjunto seguiu em frente em conformidade com o desenho original, que previa as estruturas em peças metálicas.

Nas décadas posteriores, sobretudo depois dos anos 1990 e de estratégias articuladas com o advento do novo milênio, a John Deere ampliaria seus planos rumo à modernidade. E seriam exemplos do acerto de suas estratégias, quando ela celebrou, em 2012, o seu 175º aniversário, a inauguração da linha de produção de pulverizadores na fábrica de Catalão (GO); a inauguração do escritório regional na Améri ca Latina e o começo da construção das duas fábricas de máquinas para construção em Indaiatuba (SP). O investimento total para a construção dessas unidades, uma delas em parceria com a Hitachi Construction Machinery, foi da ordem de US$ 180 milhões: US$ 124 milhões da Deere e, o restante, da Hitachi.

Adcionalmente, como parte do comprometimento com o Brasil, a companhia trouxe àquela cidade do interior paulista, hoje favorecida com o novo Aeroporto de Viracopos, o Centro Latino-Americano de Inovação Tecnológica (Latic), uma unidade de pesquisa e desenvolvimento cuja finalidade é encontrar soluções diferenciadas para os produtos e serviços da marc

Neste ano de 2014, depois de inaugurar as duas fábricas em Indaiatuba, ela começa a ampliar a fábrica de Catalão, em Goiás. O plano é aumentar em 30%, até 2015, a produção de colhedoras de cana e pulverizadores.

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Em tudo, o toque do pioneiro

John Deere Historic Site, em Dixon, Illinois, preserva a biografia, imagens, e as ferramentas com as quais o fundador começou a trajetória de uma das maiores empresas fabricantes de máquinas para a agricultura e a construção no mundo. Ele nasceu em Rutland, Vermont. Seu pai, William Deere, desapareceu em circunstâncias até hoje não esclarecidas, quando viajava para a Inglaterra. Criado pela mãe, John aprendeu o ofício de ferreiro e foi exercê-lo em Grand Detour, na região do meio oeste. Logo cedo se apercebeu de que, para fazer crescer os seus negócios, seria importante manter estreita cumplicidade com o rio Mississipi, a partir de cujas margens assistia à passagem dos barcos a vapor, os steamboats. O rio era uma garantia de força e desenvolvimento

No começo, o fabricante John Deere produziu arados. Depois, com os herdeiros, vieram as máquinas, nas mais diversas categorias, em princípio para atividades agrícolas e florestais. Uma frase dele, frequentemente lembrada por Janet Briggs, que me levou a ver o ambiente da forjaria onde ele temperava o aço para moldar os seus primeiros produtos, está ali inscrita: “Eu jamais colocaria o meu nome em um produto que não tivesse em si o melhor de mim”.

Ao conversar com Michael Mack sobre essa frase, e ao lhe perguntar se a geração atual de dirigentes da empresa cumpria o legado desse pensamento, ele respondeu: “Tentamos.
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Em tudo o que fazemos está a mão e a alma do fundador. Você teve a oportunidade de conhecer a nossa fábrica de Devenport Works e testemunhou que isso é verdade. E, se hoje somos o segundo maior fabricante de máquinas no mundo, pode ter certeza de que estamos mais próximos do 1º do que do terceiro.”

Há um dado que identifica a presença da John Deere em todos os países em que ela está presente: a empresa se instala no exterior, mas sem desindustrializar seu hábitat de origem. Exportar tecnologia e criar empregos em outras regiões do mundo, sim, mas preservando e ampliando a produção da planta local, onde mantém sua tradição e a força de trabalho.

Em Moline, não há uma esquina, uma loja, uma rua ou uma avenida, que não mantenha a lembrança do fundador ou exiba o nome da empresa. Isto leva a pensar no slogan Nothing runs like a Deere – que ela adotou nos anos 1970, quando concebeu uma linha de motos para a neve (snowmobiles). O slogan se estende a outros produtos e ao padrão de trabalho da empresa, pois ao menos em sua cidade de origem, “nada funciona como a Deere”. Até os turistas que cruzam o Mississipi nos antigos barcos a vapor com rodas de pás parecem saber disso.

“Estamos no Brasil para ficar”

A empresa, que tem 68 mil funcionários no mundo, 4,5 mil deles no Brasil, está há longa data na América Latina. Michael Mack diz que a empresa, embora esteja na área da construção há muitos anos, só recentemente fincou raízes em território brasileiro. “Mas estamos lá para ficar. E vamos participar das obras de que o País necessita para ampliar sua infraestrutura”, afirma ele. E lembra que ainda no segundo semestre do ano passado a John Deere anunciou dois grandes investimentos: US$ 40 milhões na ampliação da fábrica de tratores em Montenegro (RS), para a produção nacional dos tratores de alta potência da série 8R, a partir de 2015; e US$ 13 milhões na ampliação do Centro de Distribuição de Peças para a América Latina, que, promete ele, “será o maior armazém de peças do setor no continente e abrigará o nosso centro de treinamento”.

O dirigente lembra também que a empresa instalou o Banco John Deere em Indaiatuba, SP. A instituição atua em todo o País e estende linhas de crédito para a aquisição de máquinas agrícolas e de construção, de modo a fortalecer as redes de concessionários e distribuidores.

Depois da visita às origens da empresa a memória se apega à época e ao ambiente do fundador. Aquele ano, 1837, ficou marcado pela lembrança de dois presidentes norte-americanos: Andrew Jackson, democrata, que saiu, e Martin Van Buren, que entrou. Ambos espelharam os velhos tempos dos pioneiros. Foi um período que, segundo os novos dirigentes da John Deere, não se extinguiu com a modernidade. Permanece como um incentivo, em tempos de globalização, 177 anos depois.

Linha de equipamentos

Dentre os modelos de equipamentos produzidos na fábrica brasileira, em Indaiatuba (SP), pela John Deere, se incluem os seguintes: a retroescavadeira 310K, que tem peso operacional de 6.402 kg; profundidade de escavação de 4,34 m; capacidade de elevação de 2.283 kg; a pá-carregadeira 724K, com peso operacional de 19.

171 kg, capacidade de caçamba  de 3,2 – 3,6 m³ e carga estática de tombamento (giro total), de 11.148 – 14.179 kg; além das pás-carregadeiras 524K, 544K, 624K e 644K.

Em parceria com a Hitachi ela vai produzir as escavadeiras 160G, 180G, 210G, 250G e 350G, além das escavadeiras ZX160, ZX180, ZX210, ZX250 e ZX350. Segundo a empresa, essas máquinas possuem uma combinação equilibrada de potência. Têm cabines espaçosas e fornecem conforto do ponto de vista de visibilidade e eficiência operacional.
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Conforto e eficiência semelhante estão nas pás-carregadeiras série K, que são fornecidas equipadas com avançado sistema de arrefecimento.

Fonte: Revista O Empreiteiro

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