Eles vivem de observar atentamente os movimentos sutis mas importantes da Serra do Mar. Missão: evitar acidentes
Guilherme Azevedo
Atarefa da equipe de Monitoramento dos Riscos Geotécnicos da EcoRodovias não é pequena: observar detidamente os movimentos sutis, embora significativos, de um ser de pedra que pulsa: a Serra do Mar, em sua porção do Planalto Paulista, rumo à Baixada Santista.
Um trecho, sobretudo, exige atenção: o de serra do sistema Anchieta-Imigrantes, numa extensão de cerca de 15 km. Ali, devido ao elevado índice pluviométrico e ao relevo acidentado, as movimentações do solo são mais constantes e, portanto, os riscos de deslizamentos das encostas, maiores. Um fato, aliás, que se transformou em lição dura, aprendida na prática, em 1999, apenas um ano depois de a Ecovias, empresa do grupo EcoRodovias, ter assumido a gestão do sistema.
Em meados de dezembro daquele ano, no km 42 da pista sul da via Anchieta, deslizamento de terra surpreendeu a todos e interditou a pista por quase dois meses. Susto, desconfiança, prejuízo logístico de monta, milhões de reais investidos nas obras corretivas de emergência.
Mas foi o marco inaugural do monitoramento contínuo dos humores do solo. “É um trabalho importante e que tem de ser feito a todo momento. A Serra do Mar é um ser vivo e não para de se mexer. Nosso trabalho não pode parar”, situa o engenheiro Fabiano Medeiros, da EcoRodovias.
Hoje, estão sob os olhos (e instrumentos) de engenheiros e geotécnicos da empresa dez pontos ao longo do sistema Anchieta-Imigrantes, que inclui, além das rodovias Anchieta (SP-150) e Imigrantes (SP-160), também duas interligações rodoviárias e outras duas rodovias, a Cônego Domênico Rangoni (SP-248/55) e a Padre Manoel da Nóbrega (SP-055).
O trabalho envolve medições periódicas: em época de chuva, de dezembro a abril, quinzenais ou mensais; em época de seca, mensais ou bimestrais. O objetivo fundamental é gerar um quadro detalhado da intensidade do movimento do solo. “É normal haver movimentações, mas numa medida tolerável. Se passa de determinado ponto, começamos um trabalho preventivo”, explica Fabiano. Isto é, a realização inclusive de obras para contornar ou mesmo corrigir as oscilações.
O monitoramento é feito por meio de equipamentos de auscultação do solo, como o médico faz com seu paciente. Há equipamentos que examinam as movimentações das camadas mais superficiais, de até 1,5 metro; outros vão mais a fundo na investigação: até 50 metros de profundidade. Outros instrumentos, como o piezômetro, fazem a leitura do nível de água e a pressão que o lençol freático exerce sobre o solo.
Nas obras de arte, como pontes e viadutos, são utilizados pinos de recalque para avaliar possíveis depressões entre duas medições. “Com o monitoramento, consigo de certa forma prever uma movimentação mais brusca, que possa provocar deslizamentos grandes de solo ou de rocha. Nosso desafio é prevenir problemas”, resume o engenheiro da EcoRodovias. Um grupo de quatro pessoas é responsável, hoje, por todas as medições no sistema Anchieta-Imigrantes.
Serra do Quilombo
Um dos trabalhos preventivos de que a equipe de Monitoramento dos Riscos Geotécnicos se orgulha está localizado na Serra do Quilombo, na rodovia Cônego Domênico Rangoni, mais conhecida como Piaçaguera-Guarujá. Ali, os técnicos identificaram o surgimento de um trinco na pista, que, de acordo com as medições do solo, aumentava e podia provocar problemas sérios de segurança. Hoje, segundo a EcoRodovias, a intervenção que restabelece as condições normais do trecho está em fase de conclusão, sem interrupções no tráfego. Uma obra que o motorista não vê, com investimento de R$ 2 milhões. A solução escolhida foi a construção de uma cortina atirantada, isto é, de um muro de contenção de concreto ancorado numa rocha do solo por meio de cabo de aço.
O engenheiro Fabiano também comemora outro resultado: a inclusão de múltiplas áreas da EcoRodovias no desenvolvimento e implementação de planos de contingência, antes exclusivos da área de engenharia. O Comitê de Riscos em Encostas reúne, além de engenheiros e geotécnicos, profissionais da área jurídica, da sustentabilidade, de operações, da comunicação interna e externa. Dispõe de planos já delineados, prontos para implementação, no caso de possíveis ocorrências.
*Trabalho de monitoramento de riscos na Curva da Onça,km 44 da via Anchieta
Fonte: Padrão