Em 2003, quando, pela primeira vez, foi eleita pela revista O Empreiteiro, a Empresa de Projeto e Consultoria do Ano, a Concremat exibia na sala da presidência um triângulo estilizado emoldurando três palavras que, no fundo, resumiam o que ela considerava a sua filosofia de trabalho: Competência, Compromisso, Confiança.
Este ano, quando ela recebe pela segunda vez esse título, em razão dos resultados de negócios obtidos em 2007 e do desenvolvimento da engenharia que ela vem aplicando para cumprir seus contratos de obras em diversos segmentos, vimos que as mesmas palavras continuam espelhando as diretrizes da empresa, com um acréscimo. Além de Competência, Compromisso e Confiança, ela passou a incorporar mais três vocábulos: Criatividade, Companheirismo e Consciência.
“São palavras”, diz Mauro Viegas Filho, presidente das empresas Concremat, “que têm tudo a ver com o que fazemos, projetamos, pensamos”. Completando 56 anos de atividades ininterruptas, desde que começou a funcionar no Rio de Janeiro com um pequeno escritório, sucedido, em 1958, pela Sociedade Civil de Controle de Concreto e Ensaios de Materiais, ela viria a transformar-se, a partir de 1970, na Concremat Engenharia e Tecnologia S. A. Ela aproveitou o boom daquele período, para chegar ao final da primeira década do século 21, como empresa que tem sólidas raízes aqui e capacidade para lançar-se também à exportação de serviços.
Mauro Viegas Filho diz que a vivência da Concremat – e as mudanças do mercado a partir de 2003 – explicam porque ela incorporou mais três temas às suas diretrizes: criatividade, porque a todo momento o trabalho de projeto e consultoria exige criação; companheirismo, porque não se pode montar equipes competentes, com capacidade para enfrentar o trabalho diário, sem o espírito de companheirismo. E consciência, porque o mundo da engenharia – e de outras atividades – tem de operar com maior consciência quanto aos valores da sustentabilidade ambiental.
“Hoje”, afirma ele, “não se pode fazer nada, absolutamente nada, sem a consciência do aspecto social que se encontra embutido em todo o empreendimento. É isso o que vemos também nos planos e atividades de nossos clientes. A Petrobrás é um exemplo. Tem postura definida em relação a isso. Valoriza esse aspecto e pontua. Até já ganhamos uma menção de reconhecimento da estatal pelo trabalho de sustentabilidade ambiental que a nossa equipe desenvolveu. A Petrobras avaliou a interface de nosso trabalho com uma comunidade e reconheceu o que fizemos. Isso demonstra que o C, de consciência, não pode deixar de figurar entre as palavras que representam os nossos valores – e os valores de nossos clientes”, afirma o presidente da empresa.
Avanço nas três áreas de negócios
O crescimento da Concremat se dá em suas três vertentes específicas e verticalizadas de atuação: Engenharia, Inspeções e Laboratórios e Obras e Geotecnia.
“Engenharia”, explica Mauro Viegas Filho, “volta-se para as atividades de consultoria e gerenciamento de projetos. Estudamos, acompanhamos, viabilizamos, construímos. Avançamos muito nessa área, aprimorando a capacidade de realizar estudos e projetos e de implementar competências”. Como exemplo disso, ele informa que a empresa está gerenciando os trabalhos da mina de carvão de Moatize, em Moçambique, para a Vale do Rio Doce e gerenciando, também, a hidrelétrica de Palomino, na província de San Juan, na República Dominicana. Atualmente essa obra tem canteiro e alojamento instalados. Até o mês passado se encontravam em andamento as obras dos túneis de acesso à casa de máquinas.
Já no segmento Petróleo & Gás, a Concremat desenvolve os projetos de dois terminais de GLP, um no Rio de Janeiro e, o outro, no Espírito Santo, respondendo também pelo gerenciamento do gasoduto Taquari-Manaus, simultaneamente aos estudos ambientais para plataformas offshore no Campo de Golfinho, no Espírito Santo.
Ainda na área da engenharia, houve uma ampliação do portfólio de negócios. A empresa vem procurando manter uma participação, conquanto minoritária, em concessões, em especial nos segmentos de saneamento e energia. “Dada a nossa expertise”, afirma Mauro Viegas Filho, “nos sentimos aptos a atuar nesses segmentos. Por ora não temos nenhuma concessão em processo de receita, mas em fase de estudos e desenvolvimento”. Quanto à concessão de rodovias, ele diz que isto, por ora, não está nos planos da empresa. “Em se tratando de rodovias, só fazemos mesmo trabalhos de engenharia”.
Em Inspeção e Laboratório, ele destaca os investimentos aplicados no novo laboratório destinado aos estudos do etanol. Basicamente essa área é formada pela Concremat Tecnologia e pela Saybolt Concremat. A divisão de controle tecnológico teve consideráveis atividades ao longo de 2007. Haja vista os contratos para o controle de qualidade em quatro dos cinco lotes do Rodoanel e na linha 2 do metrô paulistano, o contrato com a CSA tendo em vista uma barragem em Minas Gerais.
Tendo em vista o ano de 2008, a empresa realizou investimentos em equipamentos e em recursos humanos, preparando-se para trabalhar nas obras da transposição do rio São Francisco, no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em usinas de açúcar, hidrelétricas e em PCHs.
Já com a Saybolt Concremat, ela obteve conquistas importantes, incorporando novos clientes tais como a Brasken, no mercado interno e externo, a Copersucar, a Petrobras, no controle da qualidade de petróleo e derivados; a a Transpetro e outras empresas públicas e privadas. A expectativa da Saybolt Concremat é de apresentar um crescimento da ordem de 20% ao longo deste ano.
Na área de Obras e Geotecnia, ela mantém a Concrejato e a Contemat. A Concrejato, conforme os dados mais recenrtes da empresa, realizou, ao longo do ano passado, obras significativas: a recuperação emergencial do prédio da Universidade do Estado do Rio (Uerj), atingida por um incêndio; o reforço estrutural do Maracanã e do Maracanãzinho, para os Jogos Pan-Americanos; a construção de um cais na praia de Manguinhos, em Búzios, e o reforço estrutural na reforma do prédio-sede da Petrobras no Rio de Janeiro, além da recuperação do viaduto Santo Amaro, em São Paulo (SP).
A Concrejato também realizou várias obras de restauro na área do patrimônio histórico e arquitetônico e foi contratada para os trabalhos de escoramento da ruína de um antigo convento, onde será construída a sede do Comperj. Além disso, tem realizado serviços em obras especiais e vem desenvolvendo projetos de retrofit.
A Contemat, criada em 1989 para atender ao aumento da demanda por serviços de geotecnia, tem atuado nas áreas portuária, rodoviária, de mineração e de petróleo e gás, para cliente públicos e privados. Um de seus
contratos foi firmado com a Skanska do Brasil e com o consórcio Queiroz Galvão-Iesa (cravação de estacas-raiz) para a modernização da Refinaria Duque de Caxias. Atualmente, a empresa vem realizando investimentos para a ampliação de seu corpo técnico.
O passado, como patamar do futuro
Ao analisar, hoje, o crescimento daquelas três áreas de negócios, Mauro Viegas Filho reporta-se ao passado. “Ele é o patamar de nosso presente e de nosso futuro”, lembra o empresário, que ingressou na empresa há 38 anos.
Contudo, sua intimidade com os trabalhos da empresa começou muito antes. Quando ele tinha dez anos, acompanhou o pai, o professor Mauro Viegas, até o laboratório que ele mantinha no Eixo Monumental, em Brasília destinado a testar os materiais utilizados na construção da nova Capital Federal. Depois, lhe vieram também as imagens da construção da Refinaria Duque de Caxias-RJ, onde o laboratório do pai desenvolvia – pioneiramente no Brasil – o controle de qualidade.
Com os anos 70, a evolução. O boom da construção, em todas as áreas, que começou a deslanchar a partir de 1968, levou a empresa a ampliar seus quadros e a transformar-se na Concremat Engenharia e Tecnologia S. A. Ela verticalizou a especialidade na recuperação de estruturas, derivando, dez anos mais tarde, para a área da geotecnia, com incursões nas áreas de petróleo e gás. A partir daí, adquiriu condições para proporcionar cobertura a projetos nos campos de saneamento, recursos hídricos, meio ambiente, empreendimentos industriais, mineração, energia, edificações e vários outros.
“O fato é que, já nos anos 1990, demos um enorme salto qualitativo e começamos a trabalhar com projetos multidisciplinares”, diz Mauro Vieras Filho. Um dos exemplos desses avanços e aprimoramentos é o trabalho, “extremamente meticuloso e cuidadoso”, do EIA/Rima do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.
No fundo, a Concremat acompanha o desenvolvimento da realidade do País. Flexibiliza-se segundo o porte e as características das obras. Vive as mutações do mercado. Depois do ciclo das grandes obras dos anos 1970, o País passou por uma fase difícil, em razão da escassez de investimentos públicos. Mas esse cenário, tanto na área pública quanto na área privada, começou a mudar. Há cinco anos eram poucos os empreendimentos de grande porte pelo País afora, com raras exceções. Uma destas era o Complexo Alunorte, onde a Concremat atuava, e que hoje prossegue com novos investimentos.
Atualmente, há obras em andamento nos segmentos da siderurgia, mineração e metalurgia e petróleo e gás. Mauro Viegas Filho recorda que, há algum tempo, quando surgia a informação sobre a possibilidade da instalação de uma nova refinaria no País, todos os estados tratavam de reivindicá-la com unhas e dentes na disputa. Hoje, está em construção uma refinaria em Pernambuco e outra no Rio de Janeiro e haverá uma terceira no Maranhão e a quarta no Ceará. “Estes e outros projetos nos segmentos mencionados não vão parar. Além deles, prosperam as obras do Grupo Gerdau, Açominas, Vale do Rio Doce, Usiminas etc. Houve, portanto, no meu entender, depois de 2003, uma mudança de patamar”.
Na compatibilização do avanço do mercado, com a evolução da empresa, muito cuidado é conferido pela Concremat à montagem de suas equipes e às modalidades de contrato que vem cumprindo. Ela mantém poucos projetos na modalidade Engineering, Procurement and Construction (EPC); tem mais contratos na modalidade Engineering, Procurement and Construction Management (EPCM) e vê com entusiasmo outra modalidade contratual, a Aliança, que segundo Mauro Viegas Filho, têm funcionando muito bem para a área privada, em um momento em que os projetos precisam fluir com muita rapidez na fase de sua execução. “A vantagem da Aliança é que você faz tudo dentro de um pacote só”, afirma ele.
Indagado se a empresa, com o pé direito em tantas atividades, embora mantendo a mesma matriz de origem, não estaria fechando um ciclo, em seu processo de crescimento, o empresário sustenta: “Fechando não; estamos abrindo. Abrindo o leque de nossas possibilidades aqui e no exterior. Com esses projetos fora do Brasil, estamos ampliando a nossa expertise, do ponto de vista internacional”.
Confiança no País e na Engenharia
A Concremat está hoje na expectativa de aumentar em 40% o faturamento de 2008, em relação ao do ano passado. Do total de R$ 307 milhões, ela quer chegar aos R$ 460 milhões. O faturamento de 2006, em relação ao de 2007, havia registrado crescimento de 19%.
Ao expor esses números, o presidente da empresa diz enfaticamente: “Vamos continuar crescendo. Temos confiança no País e em nossa Engenharia. É claro que sofremos a influência da crise financeira internacional, mas estou convencido de que, em seus fundamentos, o Brasil vai superar esses problemas. Temos aí os investimentos privados e os investimentos públicos, realizados através do Programa de Aceleração do Crescimento. E temos um mercado interno muito importante. Esse mercado consumidor vai continuar crescendo e gera desdobramentos no comércio, na agroindústria e em todos os segmentos da construção.
Não temos margem para o pessimismo”.
Parêntesis para uma biografia
Mauro Viegas Filho fixa a imagem do pai, o pioneiro. Foi ele, Mauro Viegas, quem montou o primeiro laboratório particular voltado para a tecnologia dos materiais e de sua qualidade. “Meu pai teve a intuição de que essa atividade teria amplo desenvolvimento e investiu nela. Quando afastou-se da empresa, há 24 anos, resolveu dedicar-se ao meio ambiente e aos recursos hídricos. Hoje, com 89 anos,é um entusiasta dessas atividades. A autobiografia dele, a ser lançada no próximo dia 27 de novembro, conta um pouco da história da Engenharia brasileira. E fixa uma trajetória de dedicação ao controle de materiais e, mais recentemente, ao esforço que estamos vendo em diversas áreas, em favor da sustentabilidade ambiental”.
Fonte: Estadão